Violador português é branco, estudou pouco, não tem remorsos e só lamenta a prisão
O violador português é branco, tem cerca de 30 anos, baixa escolaridade e não revela arrependimento pelo crime, mas pena por es te o ter conduzido à prisão, onde é mal tratado pelos outros reclusos e guardas, revela um estudo.
Esta caracterização do violador português de adultos foi realizada pela psicóloga Maria Francisca Rebocho Lopes, na dissertação apresentada em Outubro passado à Universidade do Porto para a obtenção do grau de mestre em Ciências Fo renses.
Para a investigação, a autora entrevistou e consultou processos de 38 i ndivíduos que, em 2004 e 2005, se encontravam a cumprir pena por crimes de viola ção de adultas, dos quais só três (7,9 por cento) eram considerados inimputáveis .
Em declarações à Lusa, Maria Francisca Rebocho Lopes afirmou que, ao lo ngo da investigação, começou por se surpreender com a idade avançada das vítimas : 13,2 por cento tinha mais de 61 anos e a mesma percentagem entre 41 e 50 anos.
A maioria das mulheres tinha entre 21 e 30 anos.
Os violadores eram preponderantemente de raça caucasiana (branca) e com uma idade média de 32 anos.
O estudo identificou uma clara preponderância dos solteiros (50 por cen to) e de indivíduos com baixas habilitações literárias: mais de 90 por cento con cluíram o segundo ou terceiro ciclo do ensino básico e apenas dois concluíram o ensino secundário.
A escolaridade dos violadores foi a segunda surpresa da investigadora, que encontrou na violação um crime mais associado às classes baixas, ao contrári o da ideia comum de que este atinge todas as classes.
Maria Francisca Rebocho Lopes concluiu, através do relato da história d e vida dos violadores - "em muitos casos corroborado por dados constantes dos pr ocessos individuais" - uma "vivência familiar harmoniosa, sem conflitos graves e ntre os progenitores ou restantes familiares, assim como uma socialização fácil e adaptada, quer com os seus pares quer com os seus superiores".
Embora a maioria dos detidos consumisse álcool, não se registou qualque r intensificação da sua ingestão no período que antecedeu o crime. Contudo, em 2 3,7 por cento dos casos, o criminoso encontrava-se alcoolizado.
Na maioria dos casos, o período que antecedeu o crime foi caracterizado pelo autor como "estável, a nível familiar, profissional, social e ao nível do estado psicológico em geral".
A maior parte dos crimes foi cometida em meio urbano, na via pública, s endo clara a existência de uma premeditação.
A investigadora apurou que, numa minoria dos casos, a violação surgiu n a sequência de outros crimes, nomeadamente assaltos.
A prática da violação de adultos é, segundo a autora, um acto predomina ntemente isolado, com uso meramente instrumental da força física e sem a utiliza ção de quaisquer armas.
O violador português usa mais força física quando este crime é premedit ado. Nos casos em que a violação não é planeada, o uso da força é sobretudo inst rumental.
Após o crime, o violador coloca-se em fuga e abandona a vítima e, mesmo nos casos em que a vítima manifestou resistência, o autor do crime considera qu e a vítima não sofreu.
Uma quantidade significativa dos detidos inquiridos não revelou qualque r remorso ou arrependimento e, nos casos em que verbalizou estes sentimentos, mo strou "um remorso que, nitidamente, não era sentido, uma vez que era notória a e xpressão emocional incongruente e superficial".
Segundo a autora, estes criminosos têm "personalidades do tipo psicopát ico, com características anti-sociais e oposicionais associadas a traços de para nóia, desconfiança e suspeição face aos motivos dos outros".
Desta incursão "ao universo prisional português e ao quotidiano do viol ador ora recluso", a autora ficou com "a noção de que os sujeitos entrevistados se aproximam muito mais da população portuguesa em geral, com a qual nos cruzamo s no dia-a-dia, do que da mítica figura do "violas", o terrível criminoso, indiv íduo atávico e aberrante".
A autora atribui estes crimes a "um conjunto de circunstâncias na vida destes sujeitos" que "determinaram que se destacassem das massas, neste caso pel a prática criminal".
Sobre a prisão, Maria Francisca de Rebocho Lopes confirmou um estereóti po: "O período de reclusão é, para o condenado por violação, particularmente pen oso, pela marcada estigmatização, censura e punição de que são alvo por parte do s restantes reclusos e, muitas vezes, dos guardas prisionais".
Por esta razão, existem casos em que o violador jura vingança e ameaça de morte os autores das denúncias que o levaram à prisão, pois desta forma regre ssará como homicida, classe mais respeitada no meio prisional.