Vítimas do IP4 lembradas hoje em Vila Real

Quatro anos depois de ter sido vítima de um acidente no Itinerário Principal 4 (IP4), na zona de Vila Real, Marina Nazaré ainda hoje traz na memória aquele dia de tempestade em que perdeu o avô.

Agência LUSA /

Marina Nazaré, com 17 anos, subiu hoje ao Alto de Espinho, no IP4, para participar na homenagem às 220 pessoas que falecerem em acidentes de viação nesta estrada desde 1993, ano em que este itinerário que liga os distritos do Porto, Vila Real e Bragança abriu em toda a sua extensão.

Neste domingo em que se assinala o Dia Mundial da Memória das Vítimas da Estrada, a Associação de Utilizadores do IP4 (AUIP4) acendeu 220 velas em homenagem aos mortos neste itinerário e ainda aos feridos e seus familiares.

A jovem Marina Nazaré teve um acidente de automóvel num dia em que "chovia torrencialmente" e, juntamente com os seus avós, regressava a casa, na Campeã, concelho de Vila Real.

Ao subir a serra do Marão, na zona de Arrabães, um outro veículo embateu frontalmente contra o carro em que seguia, tendo provocado a morte do seu avô.

Já órfã de mãe, Marina perdeu o avô neste acidente e pouco tempo depois a sua avó também faleceu, tendo sido acolhida por um tio, com quem vive até hoje.

No dia 13 de Novembro fez quatro anos que um outro acidente, também na zona de Arrabães, vitimou uma mulher de 43 anos que seguia para Amarante onde diariamente dava aulas.

Manuel Brochado, pai de mais esta vítima da estrada, aderiu deste o primeiro dia à AUIP4, criada no final de 2000, para lutar por mais condições de segurança neste itinerário.

Desde Janeiro morreram em toda a extensão do IP4, 31 pessoas, tornando-se este no ano "mais negro" de sempre desta estrada.

Ao longo dos últimos anos foram muitas as iniciativas e as reivindicações da população transmontana para a realização de obras de beneficiação no IP4.

Em 2002, foram realizadas obras de repavimentação entre os quilómetros 79 e 95 no IP4, que durante muitos anos foi considerado o "troço mais negro", as quais resultaram num decréscimo de 80 por cento no número de vítimas mortais e 57 por cento nos acidentes.

Depois destas obras, a "mancha negra" do IP4 passou para o outro lado da Serra do Marão, entre Amarante e o Alto de Espinho.

É precisamente neste lado que se encontra actualmente o mais "grave de todos os pontos negros" das estradas portuguesas, designadamente 200 metros de estrada entre os quilómetros 69,45 e 69,65, onde este ano se registaram 11 acidentes com 16 feridos.

Estes 200 metros inserem-se num troço de cerca de 20 quilómetros onde morreram 16 pessoas.

No dia 5, o Instituto de Estradas de Portugal iniciou obras de beneficiação no troço entre Amarante e o Alto de Espinho, que pretendem diminuir o número de acidentes nesta via.

Mas, para Manuel Brochado, a solução para terminar com o elevado índice de sinistralidade no IP4 passa pela construção da auto- estrada entre Amarante e Vila Real, uma promessa do governo de Durão Barroso.

O estudo prévio do prolongamento da A4 propõe quatro soluções de traçado, todas recorrendo a viadutos e túneis, alguns de grande dimensão, para minimizar os impactes ambientais negativos na serra do Marão.

Luís Bastos sublinha que com a cerimónia de hoje a associação pretende também homenagear os bombeiros e os militares da Brigada de Trânsito da GNR, porque são eles "que vêm o sangue na estrada e ouvem o choro das vítimas e seus familiares".

O responsável pela Brigada de Trânsito de Vila Real, Pereira Martinho, referiu que "diariamente" os seus agentes são confrontados com "situações difíceis de acidentes".

Segundo este militar da BT, grande parte dos acidentes aqui registados são resultado do "excesso de velocidade".

"Os limites de velocidade não são respeitados e muitas vezes acontece que os condutores não adequam a sua condução às más condições climatéricas que se verificam nesta estrada de montanha, designadamente muito gelo, nevoeiro e neve", referiu.

Além da fiscalização, os agentes da BT realizam também acções de sensibilização junto dos condutores, estando de momento a distribuir panfletos, no âmbito da campanha "Inverno em Segurança", em que alertam os utentes da via para as más condições climatéricas.

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