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Zonas húmidas artificiais transformam águas residuais em recursos sustentáveis
Tratar e reutilizar águas residuais de forma ecológica e eficiente. Este é o objetivo de um projeto que está a ser implementado por uma investigadora da Escola de Ciências da Universidade do Minho. Passa pela utilização de zonas húmidas construídas - sistemas artificiais que imitam os processos naturais de depuração da água - para reaproveitar um recurso natural cada vez mais necessário.
O processo tem por base a utilização e imitação do que a natureza faz de melhor. Com recurso a plantas específicas e substratos naturais, elimina-se contaminantes que são depois filtrados através de leitos de solo ou areia e tratados por processos físicos, químicos e biológicos.
A ideia nasceu da análise da capacidade da natureza converter e reverter problemas nos ecossistemas, refere a investigadora Patrícia Gomes.
“Pensei: porque não começar a testar a utilização das chamadas soluções baseadas na natureza, ou seja, utilizar espécies de plantas alocadas a determinados substratos que pudessem fazer o tratamento de águas?”.
As plantas purificam o ar, mas também a água
A natureza no seu todo continua a fascinar a comunidade cientifica e a dar provas da contínua transformação do meio em que vive. E apesar de a humanidade continuar a alterar o ecossistema, a natureza parece sempre encontrar caminhos e soluções.
Patrícia Gomes explica que nem sempre as soluções estão à vista, pelo que importa olhar com cuidado para a biomassa e como o processo se desenvolve. Neste caso, as plantas que residem em alguns lagos naturais processam com eficácia a remoção dos vários contaminantes, como nutrientes (azoto, fósforo) e microrganismos que causam doenças. O agrião é apenas um exemplo de uma das muitas plantas que opera esta mudança natural.
Zonas húmidas. A ETAR natural
Uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) é uma instalação projetada para tratar as águas usadas, tanto domésticas quanto industriais, com o objetivo principal focado na remoção de poluentes e impurezas, garantindo que a água tratada não cause danos ao ecossistema.
Mas, se a natureza faz o mesmo, aproveitar este recurso natural e eliminar um conjunto de produtos químicos, utilizados nestas estações, foI um bom ponto de partida para a investigadora de 39 anos. Patrícia Gomes explicou à RTP as semelhanças entre uma wetland e uma ETAR.
O projeto conta com vários casos-piloto em Portugal e noutros países da Europa, sobretudo em contextos rurais, escolares e agrícolas, comprovando a viabilidade técnica, económica e social.
Ambos têm a parceria de empresas e entidades municipais, promovendo a transferência de conhecimento, a aplicação prática das soluções e envolvendo estudantes em contextos reais de investigação.Repensar o modelo hídrico português
Perante os desafios das alterações climáticas, Portugal “terá de repensar” a forma como gere a água. “Obviamente que é necessário pensar de uma forma diferente e alertar também as consciências dos decisores políticos, nomeadamente falando, por exemplo, em termos de municípios que estejam cada vez mais atentos a estas soluções e também que se associem a este tipo de investigação, nomeadamente no que diz respeito aqui a associações e relações entre as universidades, município e também as empresas”, refere a investigadora da UMinho.
Para Patrícia Gomes, é necessário “apostar na eficiência, na reutilização de águas residuais tratadas e na descentralização dos sistemas de saneamento, através de soluções como zonas húmidas construídas”.
Este cenário representa uma oportunidade para repensar o modelo hídrico nacional com base na sustentabilidade, na economia circular e na resiliência climática, acreditando a investigadora “que uma observação atenta à natureza nos dará respostas para os problemas atuais e também os futuros”.