Bento XVI cumpriu hoje na cidade do Porto o quarto e último dia da visita a Portugal com a celebração de uma missa na Avenida dos Aliados onde estiveram entre 120 a 150 mil pessoas, número que ultrapassou as expectativas mais optimistas. Um dia em que a imprensa internacional faz eco das declarações polémicas do Papa em Fátima sobre o casamento homossexual e o aborto.
Milhares de pessoas acompanharam Bento XVI no percurso desde Gaia, onde aterrou o helicóptero que o trouxe de Fátima, até à Avenida dos Aliados onde celebrou missa, o ponto alto desta visita à capital do Norte.
No heliporto do quartel da serra do Pilar estavam à espera de Bento XVI o bispo Manuel Clemente, o presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes e a governadora civil do Porto, Isabel Santos.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, já confirmou que hoje no Porto marcaram presença nas cerimónias entre 120 e 150 mil pessoas, um número que superou as expectativas da organização e constitui uma "bela surpresa" para Bento XVI.
Recorde-se que na passada terça-feira, no Terreiro do Paço, em Lisboa, segundo dados oficiais da PSP, estavam 80 a 100 mil pessoas enquanto que, no Santuário de Fátima, de acordo com a instituição, na peregrinação de 13 de Maio compareceram 350 mil peregrinos.
Em plena Avenida dos Aliados o Papa Bento XVI teve oportunidade para agradecer "o festivo e cordial acolhimento" que recebeu no Porto, a "Cidade da Virgem", como lhe chamou desde a varanda dos Paços do Concelho da cidade Invicta.
Bento XVI teve ainda oportunidade de pedir desculpa por não poder prolongar a estadia no Porto, convite que lhe foi feito e a que teria "cedido de boa vontade" mas não era de todo possível, explicou o pontífice.
O Papa evocou ainda Nossa Senhora para confiar "à sua protecção materna" a população do Porto, "as comunidades e estruturas ao serviço do bem comum, nomeadamente as universidades desta cidade, cujos estudantes se reuniram e fizeram saber da sua gratidão e adesão ao magistério do Sucessor de Pedro".
Após esta referência aos universitários o Papa recebeu dos estudantes uma capa com fitas de todos os cursos da academia portuense e uma guitarra branca.
"Permiti que parta abraçando-vos a todos carinhosamente em Cristo, nossa Esperança", afirmou na saudação final minutos depois da eucaristia a que assistiu o Presidente da República, Cavaco Silva, e o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.
Últimas palavras no aeroporto Francisco Sá CarneiroDa Avenida dos Aliados o Papa seguiu para o aeroporto Francisco Sá Carneiro onde antes do embarque no avião da TAP que o levou a Itália houve uma cerimónia de despedida em que esteve o Presidente da República, Cavaco Silva, o ministro da Defesa, Santos Silva, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, entidades militares e vários bispos portugueses.
As últimas palavras de Bento XVI no nosso país foram de agradecimento com o Papa a dizer que levava "guardada na alma a cordialidade" do acolhimento "afectuoso" que recebeu em Portugal e manifestou o desejo de que a visita que hoje terminou se torne num "incentivo para um renovado impulso espiritual e apostólico" dos católicos.
Cavaco Silva prestou as honras nacionais na despedida a Bento XVI para sublinhar que o país o vê partir "revigorado pela mensagem de esperança e confiança" que deixou nesta visita a Portugal.
"Portugal despede-se de vós revigorado pela mensagem de esperança e confiança que nos deixais. Vemos partir o Santo Padre com um sentimento que nenhuma outra língua ainda soube traduzir em toda a sua profundidade e que reservamos aos que nos são mais queridos, a saudade", afirmou Cavaco Silva.
O Presidente da República lembrou ainda as "impressionantes molduras humanas" que o acolheram em Lisboa, Fátima e no Porto e "as manifestações de profunda devoção e júbilo" que marcaram esses momentos para depois desejar ao Papa uma boa viagem de regresso a Roma, frisando que os portugueses não esquecerão a sua passagem pelo país.
Reacções às palavras do Papa
O dia de hoje fica também marcado pelas reacções na imprensa internacional às declarações do Papa em Fátima sobre o casamento homossexual e o aborto.
No Reino Unido os diários Times e Daily Telegraph salientam que Bento XVI considerou o casamento homossexual "subtil e perigoso", palavras que segundo o Times "vão ser estudadas no Reino Unido onde os católicos preparam a sua própria visita do Papa em Setembro".
Em Espanha o El Pais destaca a frase em que o Papa afirma "que o aborto e o casamento homossexual são contrários ao bem comum", notando que "Bento XVI assegura que a terceira parte da profecia de Fátima ainda não terminou e continua viva".
Em França a visita do Papa a Portugal está em destaque no Libération sob o título "Bento XVI em cruzada contra a pedofilia", para a qual "até a Virgem é chamada a dar a sua contribuição" ao mesmo tempo que realça o facto que "Bento XVI sugeriu que o terceiro segredo não era apenas o atentado contra João Paulo II em 1981, mas também os sofrimentos da igreja provocados pelos escândalos sexuais no clero e a lei do silêncio da hierarquia".
Na Bélgica o La Libre Belgique chama também atenção para as palavras de Bento XVI com o título "Para o papa, os padres pedófilos devem ser julgados".