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Política com Assinatura
Deve o PGR prestar contas a quem o nomeia? "Não me comprometo. É preciso ponderação"
António José Seguro garante que se chegar a Belém falará com o Procurador-Geral da República (PGR), mas sem "dramatismo, porque a minha preocupação é ser informado sobre aquilo que é da minha área e da minha competência".
Imagem e edição vídeo: Pedro Chitas
Questionado sobre se o PGR deve prestar contas, António José Seguro admite responder com prudência e sem se comprometer porque precisa de “ouvir mais conselhos, preciso de ouvir mais pessoas”.
Sobre a exoneração do PGR, Seguro aceitaria “se ele me pedisse”. E se o Governo pedisse? “Isso depende do fundamento, qual é o fundamento?”
E à pergunta se sentiria necessidade de exonerar um PGR, para o candidato a Belém “isso seria em situações gravíssimas”.
Processo António Costa: “o país tem a ganhar com processo clarificado o mais rápido possível”
“Passaram dois anos, e o processo arrasta-se?”, questiona António José Seguro acerca do processo que envolveu António Costa e que levou a sua demissão.
O candidato a Belém considera que "o país tem a ganhar em que esse processo seja clarificado o mais rápido possível e de uma forma competente”.
É aliás competência e celeridade o que reclama para o setor da Justiça, “julgo que há processos, pela sua natureza e pelo seu impacto público, que precisam de maior celeridade e maior competência”. Nesta entrevista desabafa que “há demasiadas situações que envolvem a Justiça e que não me deixam tranquilo”.
E, António José Seguro, dá um exemplo de uma dessas situações.
Marcelo propôs pacto para saúde quando está de saída: “não me parece adequado”
António José Seguro já definiu a prioridade para o primeiro ano de mandato, caso ganhe a Presidência da República.
A prioridade será a Saúde porque uma parte dos portugueses “não tem saúde a tempo e horas”, diz em entrevista ao podcast da Antena 1 Política com Assinatura.
Sabe que um Presidente da República não tem poder executivo, mas defende que “não podemos deixar isso apenas ao poder executivo”.
Defende por isso a convergência de todos. “Se eu conseguir mobilizar todas as forças políticas no sentido de haver um acordo, um compromisso para cinco anos, para dez anos, mas com respostas imediatas na área da saúde, eu ficarei feliz”, admite.
Defende que esse pacto se deve basear em financiamento sustentável, na promoção da capacidade de atração de profissionais de saúde e na gestão e organização.
E nesta área critica ainda a resposta tardia de Marcelo Rebelo de Sousa. “Vi o atual Presidente da República propor um pacto para a saúde a seis meses de se ir embora”, atira. E conclui: “não me parece adequado que ao fim de nove anos e meio se proponha um pacto para a saúde. Mas propôs, só. Não tomou a iniciativa”. Médicos tarefeiros é algo que António José Seguro não entende porque existem. Relembra que os concursos para médicos têm mais vagas do que candidatos “porque os médicos fazem um raciocínio simples: eu ganho mais se ficar como tarefeiro e trabalho as horas que quero, onde quero e quando quero”.
“Não tem sentido” e defende que se deve “colocar os médicos no Serviço nacional de Saúde porque eles não estão onde devem estar”.
Fraudes na saúde “é uma situação inaceitável"
“Como é possível ter chegado até aqui?”, é a pergunta de António José Seguro aos casos que têm vindo a público e que dão conta de fraudes no setor da Saúde.
“Aquilo que encontro em Portugal é um certo encolher de ombros, as coisas acontecem, há um inquérito, há um resultado, muitas das vezes há destempo, não há apuramento de responsabilidades na maior parte dos casos”, critica o candidato a Belém para quem “esta é uma situação inaceitável”. Apesar de uma análise muito crítica ao setor da Saúde, António José Seguro recusa falar do desempenho da Ministra da Saúde e do Governo.
Prefere guardar isso para as reuniões de quinta-feira com o primeiro-ministro caso chegue a Belém. “Se tiver que me pronunciar sobre um membro do Governo farei no local certo que são as reuniões de quinta-feira".
“Eu não tenho a visão de que o Presidente da República tenha de falar todos os dias, a toda a hora, e muito menos ser um comentador político”, defende.
E garante que não “banalizarei a palavra”.
Tendo a Saúde e a Justiça como duas áreas com problemas para resolver, António José Seguro não define para qual delas é mais urgente encontrar um pacto, até porque na sua opinião “infelizmente, o país está numa situação de impasse em muitas áreas, ou seja, o país foi esticando, esticando, foi metendo dinheiro e neste momento a quantidade de emergência é muito grande”.
Ventura e alguma extrema-esquerda têm contribuído para o discurso de ódio
Seguro não tem dúvidas: “A sociedade portuguesa, em muitos aspetos, está a tornar-se intolerante, muito dividida, muito extremada”.
E reconhece a causa: “às vezes na extrema-esquerda também há considerações dessa natureza (de discurso de ódio), mas claro é mais evidente o papel que André Ventura tem tido, negativo na minha opinião”.
“Não poderei bater em ninguém. Cada instituição deve cumprir com a sua função. Não me vou substituir às polícias, não me vou substituir aos tribunais”, adianta.
“Não sou um bonequinho de chumbo. A mim ninguém me captura”
António José Seguro garante: “não vim para unir a esquerda ou a direita, vim para unir os portugueses”.
Questionado sobre se precisa do apoio do Partido Socialista e da esquerda, Seguro responde que “não sou um bonequinho de chumbo, nem vou repetir o que o setor A, o setor B, o setor C ou o setor D quer, a mim ninguém me captura, sou um homem livre e irei para a Presidência com esta liberdade”.
“Gostava de ter o apoio de todos os antigos líderes do PS”, pergunta a editora de política da Antena 1. Seguro responde: “gostava de ter o apoio de pelo menos metade dos portugueses”.
“Houve ali uma situação de menor felicidade da minha parte”. É desta forma que António José Seguro justifica a resposta que deu em entrevista ao jornal Público.
Questionado sobre se se assumia como socialista, Seguro recusou aquilo a que chamou de “gavetas”.
Agora, em entrevista ao podcast da Antena 1 “Política com Assinatura”, reafirma que vem de “uma base ideológica que é a social-democracia, o socialismo democrático, foi sempre aí que me situei”.
Entrevista conduzida por Natália Carvalho, editora de Política da Antena 1.