Alegre arrasa escolha de ex-administrador da SLN para Secretaria de Estado

por RTP
“Pelo menos, o Presidente da República devia ter aconselhado o primeiro-ministro a não o indicar”, sublinhou Alegre Manuel de Almeida, Lusa

A escolha de Franquelim Alves para uma Secretaria de Estado constitui, na ótica de Manuel Alegre, “uma vergonha” do “ponto de vista da ética política”. Ressalvando que a entrada do antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios no XIX Governo Constitucional “não é uma ilegalidade”, o histórico militante socialista sustentou este sábado que Belém “devia ter aconselhado” Pedro Passos Coelho a optar por outro nome. Também o PCP voltou à carga contra esta nomeação.

Foi à entrada de uma conferência organizada pelo movimento cívico “Não Apaguem a Memória”, em Lisboa, que Manuel Alegre comentou a escolha de Franquelim Alves para secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Educação. Um cargo que era ocupado por Carlos Nuno Oliveira. “É uma vergonha”, estimou o antigo candidato à Presidência da República.

“Eu acho que, do ponto de vista da ética política e da ética da responsabilidade, é uma vergonha. Não é uma ilegalidade, uma vez que ele não é arguido, nem está condenado, mas é uma questão de ética pública”, afirmou Alegre, em declarações recolhidas pela agência Lusa.


“O PCP considera que uma pessoa desta natureza e com este currículo, um currículo, aliás, que Franquelim Alves omite na sua folha oficial de apresentação do seu passado, dificilmente poderá ser indigitado como secretário de Estado de um governo do nosso país”, afirmava na sexta-feira o deputado comunista Honório Novo, que exortou Cavaco Silva a não dar posse ao antigo gestor da SLN.


Franquelim Alves, acentuou o histórico socialista, “não devia ter sido indicado e não devia ter sido empossado”. E Cavaco Silva, enfatizou, poderia ter assumido uma outra postura: “Pelo menos, o Presidente da República devia ter aconselhado o primeiro-ministro a não o indicar”.

O Chefe de Estado deu posse na sexta-feira a sete novos secretários de Estado indicados por Pedro Passos Coelho. Entre os quais Franquelim Alves. Os comunistas chegaram a apelar a Cavaco para que não desse posse ao antigo administrador do grupo que detinha o Banco Português de Negócios.

A partir da Assembleia da República, o deputado do PCP Honório Novo argumentou que, “durante a primeira comissão parlamentar de inquérito sobre o BPN, ficou patente que Franquelim Alves conhecia no princípio de 2008 tudo o que dizia respeito ao Banco Insular”, desde logo “um volume significativo de imparidades e de atos irregulares de gestão no grupo SLN/BPN, não os tendo comunicado ao Banco de Portugal, como ele próprio reconheceu publicamente”.

Este sábado, durante um comício em Faro, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, voltou a pronunciar-se contra a nomeação de Franquelim Alves, considerando-a um “escândalo”: “Quando se esperava, naturalmente, que fossem responsabilizados por esse crime económico, aqui está: este Governo de Passos Coelho elege, nomeia o senhor para secretário de Estado”.
“O rigor e a exigência”

Pouco depois da tomada de posse no Palácio de Belém, o novo secretário de Estado disse-se “perfeitamente tranquilo” com a sua entrada no Executivo de Passos Coelho, desvalorizando a controvérsia em torno da passagem pelo grupo encabeçado por Oliveira e Costa. Esta é “uma falsa questão”, retorquiu.

“Houve sempre dois fatores determinantes que pautaram a minha conduta e nunca foram postos de lado: o rigor e a exigência”, contrapôs Franquelim Alves, então ouvido pela Lusa.

O recém-empossado governante tratou ainda de sublinhar que integrou a administração da SLN “com o objetivo de tentar recuperar a área não financeira do grupo”. E que, durante essa passagem pelo grupo que então detinha o BPN, prosseguiu “a mesma atitude e comportamento” de “43 anos de vida profissional”.



Numa reação ao apelo dos comunistas à Presidência da República, Franquelim Alves devolveu: “Não faço a mínima ideia a que currículo o PCP se está a referir. Genericamente, tenho sempre assumido as minhas funções em todas as frentes. Toda a gente sabe onde trabalhei. É uma falsa questão”.

A nomeação de Franquelim Alves foi também criticada pela Confederação Nacional da Agricultura, que deixou uma nota de preocupação com eventuais “cedências” ao grupo Jerónimo Martins, no qual o novo secretário de Estado foi diretor financeiro.

“O facto de ter trabalhado neste ou naquele sítio não me cria qualquer restrição nem inibição e toda a gente sabe isso. Não faço concessões nem admito qualquer tipo de atitude menos clara do ponto de vista daquilo que são as minhas obrigações”, insistiu o secretário de Estado do Empreendedorismo.
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