Ana Gomes queixa-se à Comissão Europeia sobre negócio de submarinos

por RTP
Ana Gomes não larga o dossier da venda dos submarinos e apresenta queixa em Bruxelas Manuel de Almeida, Lusa

A eurodeputada do PS Ana Gomes denunciou esta segunda-feira que o processo de compra dos submarinos à Alemanha foi "altamente lesivo" para o Estado português e está "eivado de fraudes", notando que existem documentos desaparecidos e cláusulas contratuais "absolutamente desastrosas". Denunciou ainda a violação do seu email e o desaparecimento de documentos de que irá fazer queixa à Procuradoria-Geral da República.

A eurodeputada socialista apresentou em Bruxelas, à Comissão Europeia, uma queixa por violação das regras do mercado interno no caso dos dois submarinos comprados por Portugal ao "German Submarine Consortium".

Ana Gomes defendeu em conferência de Imprensa que quer o contrato de aquisição quer o de contrapartidas devem ser anulados.

"Eu sou a favor de contrapartidas, desde que elas favoreçam a economia nacional e sejam constituídas nos termos do Direito comunitário, e isso implica que não violem as leis do mercado interno", referiu.

Os problemas nos negócios de equipamento militar verificam-se segundo Ana Gomes "não apenas a nível nacional, mas europeu" defendendo que a Comissão Europeia não pode "continuar a assobiar para o ar".

"As contrapartidas favoreceram um determinado grupo de empresas que nunca se submeteram a um concurso internacional", designadamente na indústria automóvel e de novas tecnologias, referiu, assinalando que "a forma como foram seleccionadas é completamente distorcedora das regras do mercado interno".

A eurodeputada considera que existem neste processo "aspectos absolutamente lesivos dos interesses do Estado", e como exemplos dá o facto de se ter entregue a negociação do contrato "a uma empresa privada, a ESCOM, do grupo BES – que também é o grupo que depois financia a aquisição dos submarinos".

"Essa mesma ESCOM trabalha para o Estado na engenharia financeira do contrato de aquisição e por outro lado está ao mesmo tempo a trabalhar para a MAN Ferrostaal, uma das empresas do consórcio alemão, no arranjar do programa de contrapartidas e na identificação das empresas beneficiárias", acrescentou.

A eurodeputada alertou para o facto de "ninguém encontrar, nem nos arquivos do ministério, o contrato da engenharia financeira da aquisição dos submarinos".

"Altamente suspeitos são também os termos dos contratos, tanto de aquisição, como de contrapartidas, como o facto Estado ter prescindido do recurso aos tribunais em caso de litígio e de se prever apenas a via da arbitragem", acrescentou Ana Gomes que esclareceu ter recebido do ministro da defesa, Augusto Santos Silva, cópias dos contratos e do relatório da Comissão Permanente de Contrapartidas.

A socialista lembrou que só no período entre a assinatura do contrato e a entrada em vigor do mesmo, em Setembro de 2004, o Estado pagou "mais 64 milhões de euros", devido a "uma fórmula matemática" incluída nos contratos que previa uma actualização diária do preço dos submarinos.

Ana Gomes denuncia ataques ao seu 'email's com desaparecimento de vários documentos
Durante a conferência de imprensa a eurodeputada denunciou a violação da sua conta de correio electrónico do Parlamento Europeu e o desaparecimento de vários documentos ligados ao processo dos submarinos o que vai motivar uma apresentação de uma queixa na Procuradoria-Geral da República.

A eurodeputada do PS explicou durante a conferência de imprensa que esta iniciativa "é apresentada em nome individual".

"Eu assumo a responsabilidade por ela e não quero partilhá-la com mais ninguém, até porque sei que é uma responsabilidade que comporta riscos", afirmou, mencionando que "nos últimos dias" o seu 'email' do Parlamento Europeu "tem sido violado e toda a correspondência com assistentes", no âmbito da queixa que apresentou, "desapareceu".

Alertados já os serviços informáticos do Parlamento Europeu será agora a vez de apresentar uma queixa na Procuradoria-Geral da República.

De acordo com Ana Gomes, a última intrusão na sua conta de 'email' teve lugar "nesta última noite" e que vários "textos em inglês que tinha preparado (relacionados com os submarinos) desapareceram".
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