Autarcas do grupo ocidental dos Açores contra supressão da operação sazonal marítima

por Lusa

Os autarcas das Flores e do Corvo dizem que o fim da operação sazonal de transportes marítimos para o grupo ocidental prejudica a "coesão" e o presidente da Câmara das Lajes das Flores vai enviar um ofício ao Governo.

Luis Maciel, presidente da Câmara Municipal das Lajes das Flores, disse hoje à Lusa estar "frontalmente contra" a suspensão da operação sazonal de transportes marítimos de passageiros e viaturas que ligava o grupo ocidental ao resto do arquipélago.

De acordo com o concurso aprovado pelo executivo regional na quinta-feira, as ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, continuam a ter ligação regular entre si, apenas para transporte de passageiros, e a operação sazonal que ligava as Flores ao resto do arquipélago, permitindo o transporte de viaturas, foi restrita às ilhas do grupo central (Faial, Pico, São Jorge, Terceira e Graciosa).

As ilhas do grupo oriental, São Miguel e Santa Maria, deixam de ter serviço público de transporte marítimo de passageiros e viaturas, já que apenas tinham operação sazonal.

Em declarações à Lusa, o autarca de Lajes das Flores disse que vai "fazer chegar ao senhor presidente do Governo Regional" um ofício com a opinião daquela autarquia, documento que vai "remeter ainda hoje", garantiu.

Para o socialista, "esta é uma situação que penaliza bastante a mobilidade dos açorianos, penaliza a coesão territorial de todas as ilhas e acaba por também ter um impacto bastante negativo na economia local aqui da ilha e, em particular do turismo".

Questionado sobre se a tarifa de passagens aéreas interilhas a 60 euros para residentes nos Açores pode ser uma alternativa ao transporte marítimo, Luís Maciel refere que, "neste momento, o transporte aéreo está completamente lotado, não consegue dar resposta à procura".

Acresce que a operação marítima sazonal permitia o "transporte de viaturas e de carga rodada, a que, claramente, o transporte aéreo não consegue dar resposta".

Também o presidente da Câmara de Santa Cruz das Flores, José Carlos Mendes, considera que a medida "vem prejudicar muito a ilha das Flores".

"Fala-se muito na coesão regional, mas, quando se tomam medidas destas, estamos a criar ainda fatores de maior desigualdade nesta questão dos transportes e das acessibilidades".

O autarca adiantou à Lusa que não foi ouvido pelo Governo Regional, afirmando que, se o executivo municipal tivesse sido auscultado, "naturalmente o parecer teria sido negativo".

A vizinha ilha do Corvo não perde diretamente ligações, já que apenas tinha a ligação regular com as Flores, que se mantém, mas a perda da operação sazonal no grupo ocidental afeta também a mais pequena ilha açoriana.

"Não afeta diretamente, porque fica assegurado na mesma o transporte Flores--Corvo, mas é óbvio que, na altura de verão, a ida do transporte sazonal às Flores faz diferença, porque muitas das pessoas que iam às Flores também iam ao Corvo", explicou o presidente da Câmara Municipal do Corvo, José Manuel Silva.

No único concelho do país sem uma única freguesia, aquela operação "era sazonal, mas era um `upgrade` bastante interessante que havia nesta altura [do ano]", servindo especialmente, na segunda semana de agosto, altura das Festas da Nossa Senhora dos Milagres e do Festival dos Moinhos.

"Tendo em conta o aeroporto que temos e a aeronave que temos", com "limites na capacidade do avião, que nunca aterra cheio, e muito menos descola com a capacidade máxima, faz toda a diferença", avisa.

José Manuel Silva disse que não foi ouvido pelo Governo Regional, mas "daria um parecer negativo, obviamente".

"Não faz sentido. Cada vez mais falamos em coesão, (...) e este Governo gosta muito de usar esse termo -- a coesão territorial -- e, neste caso, ela fica completamente esquecida", afirmou.

Na sexta-feira, o Governo Regional divulgou o comunicado com as deliberações do Conselho de Governo, realizado, por videoconferência, na quinta-feira, em que foram aprovadas "as obrigações de serviço público".

O concurso público internacional então anunciado prevê a "celebração do contrato de fornecimento do serviço público de transporte marítimo regular de passageiros e de viaturas entre as ilhas do Faial, Pico e São Jorge e de passageiros entre as ilhas das Flores e do Corvo" e o transporte marítimo sazonal de viaturas e passageiros entre as cinco ilhas do grupo ocidental.

Esse contrato, com um preço base de 18 milhões de euros, tem um "prazo de dois anos, com possibilidade de prorrogação por um período máximo de 12 meses", lê-se no comunicado.

Tópicos
pub