Balsemão deixa exclusivo Bilderberg e passa testemunho a Durão

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Sebastien Pirlet, Reuters

Francisco Pinto Balsemão prepara-se para entregar dentro de duas semanas a Durão Barroso o lugar que ocupou por 32 anos no restrito grupo de Bilderberg. Trata-se de uma passagem de testemunho duas décadas depois de o antigo primeiro-ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia ter entrado pela primeira vez numa reunião do grupo, precisamente pela mão do fundador do PPD-PSD.

Num encontro promovido pelo grupo Bilderberg, todos os anos se reúnem à volta de centena e meia das mais influentes personalidades dos mundos da finança, da indústria, académicos e até jornalistas.

De acordo com os pressupostos da fundação do grupo, trata-se de um encontro no qual se pretende coordenar interesses e estratégias entre os dois lados do Atlântico, Estados Unidos e Europa. Dizem as más-línguas que destas reuniões saem os destinos do mundo.

E Francisco Pinto Balsemão, fundador e militante número um do PSD, criador e presidente da SIC, é - a sua primeira vez foi em 1983 - o único português com estatuto de membro permanente do Bilderberg e do seu Steering Committee. Uma tarefa que está prestes a concluir.

Na reunião deste ano nos Alpes austríacos, como habitualmente entre 11 e 14 de junho, Balsemão vai passar o testemunho a Durão Barroso duas décadas depois de o ter conduzido pela primeira vez ao seio deste clube exclusivo, era Durão ministro dos Negócios Estrangeiros, estando na altura em cima da mesa a sucessão à liderança de Cavaco Silva, no governo e no partido.

Lê-se na edição desta quarta-feira do jornal Público que Durão deverá integrar dentro de duas semanas o Steering Committee do Bilderberg, responsável pela organização dos encontros anuais. O seu nome terá, contudo, de ser aprovado pelos outros membros.
Balsemão apadrinhou Durão, Santana e Sócrates
Em Portugal há uma longa tradição de passagem prévia pelas reuniões do Bilderberg de futuros líderes partidários e de governo. Assim foi com Durão, depois com Santana Lopes e mais tarde com José Sócrates. Todos apadrinhados por Balsemão.

Há, porém, capítulos que atiram para o Bilderberg o epíteto de “fazedor de líderes”. No sentido mais negro da expressão. Cristina Martín Jiménez, a jornalista espanhola que há uma década se dedica a investigar o grupo, defende a tese de que se trata aqui de um clube que tem como função governar o mundo e impor um calendário de acontecimentos de acordo com os seus interesses, ou seja, à sombra dos interesses de uma minoria de poderosos.

À luz da tese da jornalista, Pedro Santana Lopes e Mario Monti são os exemplos acabados de como o Bilderberg impôs [respectivamente em Portugal e Itália] dois primeiros-ministros, dois chefes de governo que não tiveram de passar por esse processo democrático típico das atuais civilizações ocidentais que permite ao povo escolher os seus líderes: as eleições livres.

Durão Barroso, que parece ter deixado definitivamente para trás uma candidatura a Belém nestas Presidenciais de 2016, deverá assim juntar a um currículo que passou pelos cargos de chefe máximo do Governo português e Comissão Europeia o comité dirigente do Bilderberg.

A passagem de testemunho acontecerá após a reunião agendada para um hotel nos Alpes austríacos. Na explicação deixada ao Público, Balsemão mostrou-se reservado: "Achei que era altura de dar lugar a outro português".
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