Bloco acusa Daniel Oliveira de fazer caricatura do partido

por RTP
Lusa

O Bloco de Esquerda acusa Daniel Oliveira de pretender marcar a agenda política com a sua saída do partido e de construir uma caricatura do BE que não corresponde à realidade. Daniel Oliveira descreve o Bloco de Esquerda como um “fator de bloqueio, alimentando-se e alimentando o sectarismo”. E afirma mesmo que Francisco Louçã “não desistiu de continuar a coordenar, sem ocupar o cargo, o Bloco de Esquerda”.

“O problema é haver diferenças de opinião. Isso é natural. O problema é que, num determinado momento como aquele que estamos a viver, muito complexo (…), o Daniel Oliveira pretende marcar a agenda política com a sua posição pessoal de saída do Bloco de Esquerda. Essa é uma posição que nos parece profundamente bloqueante na qual não nos revemos”, afirmou à agência Lusa Pedro Soares, coordenador autárquico do BE.

Para Pedro Soares, a carta do fundador bloquista “não se refere ao Bloco de Esquerda, mas sim a uma caricatura sobre a imaginação do Daniel Oliveira elaborou. Na generalidade do texto, ele está completamente desajustado da realidade”.

“O funcionamento do Bloco é absolutamente democrático. Sectário é quem não convive bem com as diferenças de opinião, como diálogo, com o confronto que necessariamente tem de existir dentro de uma organização plural”, acrescentou o coordenador autárquico do partido.

Pedro Soares recorda que o Bloco de Esquerda foi “criado como um espaço de convergência de sensibilidade e de correntes diversas que trouxe à esquerda portuguesa uma nova realidade e protagonismo”.
Daniel Oliveira deixa BE
Daniel Oliveira enviou uma carta à Comissão Política e à Comissão dos Direitos do Bloco de Esquerda onde explicou a sua decisão de abandonar o partido ao fim de 14 anos de militância, ou seja, desde a sua fundação.

Na missiva, publicada no site do Expresso, o militante bloquista recorda que não apoiou “a atual liderança do partido”.

“Opus-me ao modelo de direção, que considerei e que continuo a considerar que fragiliza o partido, e não aprovei a sua moção política. Tal não me impediu de defender, e de o ter feito publicamente, que via nos seus protagonistas, e particularmente em João Semedo, motivos de esperança no futuro do partido”.
Ataque a Louçã
Daniel Oliveira considera que a nova corrente que surgiu dentro do Bloco de Esquerda tem “como um dos principais mentores o anterior coordenador” e que “fica evidente que a indicação do atual modelo de liderança e a inusitada nomeação de dois coordenadores não foi um acidente”.

“O coordenador anterior não desistiu de continuar a coordenar, sem ocupar o cargo, o Bloco de Esquerda. Tal possibilidade resulta, mais do que de características do próprio, da promoção de um certo culto da personalidade que deveria estar arredada da cultura política deste partido”, frisou.

Para Daniel Oliveira, “o Bloco é hoje um fator de bloqueio, alimentando-se a alimentando o sectarismo, competindo com o PCP nesse sectarismo, e querendo afirmar-se através do sectarismo. Do ponto de vista interno, as suas práticas desprezam o debate livre e sem preconceitos, criam anátemas para quem tenha posições divergentes e não promovem a autonomia e o sentido crítico dos militantes”.

“O que me mantinha no Bloco de Esquerda, apesar da sua deriva sectária e da sua crescente burocratização, eram a esperança e os afetos. A esperança que, perante a hecatombe nacional, o Bloco conseguisse sair da sua concha demasiado pequena e recente para que possa justificar um sentimento absurdo de autossuficiência. E afetos para com camaradas e amigos com quem, nos últimos 14 anos, trabalhei e com quem, com o meu pequeno contributo, ajudei a fundar, construir e fazer crescer este projeto que prometia desbloquear a esquerda e a mudar hábitos enraizados na militância partidária”, sublinhou Daniel Oliveira na carta em que anunciou a sua saída do Bloco.
Tópicos
pub