Catarina Martins diz que no BE "gerações não se atropelam", mas reforçam-se

por RTP
António Cotrim - Lusa

A coordenadora bloquista, Catarina Martins, disse hoje, no seu discurso de despedida, que no BE as "gerações não se atropelam", mas "reforçam-se", recordando o legado dos fundadores do partido e de João Semedo.

"Sei bem que a camaradagem, a convicção, o debate franco, a luta ombro a ombro não se comemoram. Partilham-se, mas permitam-me que hoje vos diga o quão grata estou pelo privilégio de ter seguido convosco no caminho destes últimos 11 anos e pelo que mais virá", disse Catarina Martins, no último discurso enquanto coordenadora do BE, na XIII Convenção Nacional, em Lisboa.

Recordando a "enorme generosidade" de Francisco Louçã, que a antecedeu na liderança do partido, a coordenadora do BE enalteceu ainda Luís Fazenda e Fernando Rosas.

"De formas diversas, reinventaram a sua intervenção no Bloco e ensinaram-nos que as gerações não se atropelam nem se substituem, as gerações no BE reforçam-se, acrescentam-se", enfatizou, recordando ainda os ensinamentos que deixou o outro fundador do BE Miguel Portas.

Um dos mais orgulhos de Catarina Martins é, nas suas palavras, a promulgação da lei que despenaliza a morte medicamente assistida.

"Não é o único legado que nos deixa, longe disso, mas esta particular combinação de exigência e tolerância é a Lei João Semedo, e Portugal deve agradecer-lhe a generosidade com que se dedicou a esta causa como ao SNS até ao último dos seus dias", disse.
BE voltaria a votar contra OE2022 e não se arrepende "da coerência
A coordenadora cessante do BE defendeu ainda que o partido “fez o que tinha a fazer e voltaria” a votar contra o Orçamento do Estado para 2022, apontando que os bloquistas não se arrependem “da coerência”.

“Fizemos o que tínhamos de fazer e voltaríamos a fazer o mesmo enfrentamento com o Governo nos Orçamentos a propósito da saúde e dos direitos laborais”, defendeu Catarina Martins.

No seu discurso de despedida, Catarina Martins recuou ao ‘chumbo’ do Orçamento do Estado para 2022, que levou o país a eleições legislativas antecipadas.

A coordenadora do BE afirmou que se vivem “tempos difíceis” salientando que não se estava a referir ao partido, apesar de reconhecer que “a derrota eleitoral do ano passado deixou feridas”.

No entanto, garantiu: “Não nos arrependemos da coerência”.

“Que ninguém se engane sobre quem somos e como somos: respeitamos quem tinha votado no Bloco e que, por medo da direita ou por preferir uma maioria absoluta, apoiou o PS há um ano; mas faremos sempre o mesmo que nos disserem para escolher entre uma conveniência partidária e o cuidado que a democracia deve ao SNS ou ao direito de quem trabalha”, considerou.

Catarina Martins garantiu que o BE escolhe e continuará a escolher “a coerência e o compromisso com soluções que salvam vidas, que ajudam quem está doente, que dão ao pobre e ao remediado a garantia de que não deve ser cuidado nos nossos hospitais públicos de forma diferente da pessoa mais poderosa do mundo”.

E se assim fazemos é porque respeitamos sempre o nosso mandato. Temos um compromisso com o povo e é por isso que somos esquerda de confiança”, acrescentou.

Catarina Martins apontou que é na coerência do partido “que se alicerça o crescimento” que disse já sentir na rua “e que até as sondagens já reconhecem”.

“Se agora estamos a recuperar força é por levarmos o país a sério e levarmos a sério o compromisso de quem confiou em nós. Não cedemos à chantagem e não preciso de vos dizer como é importante que o povo tenha esta certeza de que aqui está gente que nem verga nem quebra”, vincou.
“PS com maioria absoluta achou que chegara o seu momento cavaquista”
A coordenadora do BE apelidou o PS de “padrasto de todo o populismo”, considerando que os problemas estruturais do país foram agravados porque os socialistas acharam que, com a maioria absoluta, tinha chegado o seu “momento cavaquista”.

Catarina Martins apontou à maioria absoluta, acusando o PS de usar “o aparelho do Estado”, perder-se “em guerras internas” enquanto Portugal “assiste incrédulo a um governo paralisado e enredado nos seus próprios erros”.

“Todos estes problemas estruturais foram agravados porque o PS, com maioria absoluta, achou que chegara o seu momento cavaquista”, acusou, considerando que os socialistas quiseram uma “política no avesso da esquerda”.

Para a ainda coordenadora do BE, o PS de António Costa pode “vitimizar-se”, mas deixou claro que “não foram a covid e a guerra que criaram as dificuldades atuais” nem “nenhuma oposição que criou qualquer dos problemas que os ministros inventam”.

“E assim se entretém uma degradação da vida pública em que o PS se tornou o padrasto de todo o populismo”, acusou.

c/Lusa
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