Política
Presidenciais 2026
Catarina Martins e André Ventura disputam amor a Portugal
Um dos debates presidenciais mais aguardados, devido aos intervenientes de lados ideologicamente opostos e de estilo aguerrido, era o desta noite, na TVI, que opôs Catarina Martins e André Ventura.
As hostilidades surgiram logo no primeiro tema, que mais os divide, a imigração.
André Ventura, líder do Chega. recusou comentar o recente caso dos agentes da GNR detidos por cumplicidade na exploração de imigrantes ilegais e apontou o dedo às leis aprovadas durante a 'geringonça' e sob impulso do BE, sob as quais, afirmou, "o tráfico de seres humanos aumentou 158 por cento" e "o auxílio à imigração ilegal 300 por cento". Sem "palavras mansas", Ventura sublinhou que "tem de se cumprir a lei".
Catarina Martins recorreu ao futebol e à vitória de Portugal no campeonato de sub -17, esta quinta-feira, recordando que o golo único do jogo foi marcado por um jovem de origem guineense. "Pela lei do doutor Ventura ele nunca poderia ser português", atirou, levando o rival a sorrir e a abanar a cabeça.
"Eu gosto daquilo de que somos feitos, da nossa diversidade", acrescentou Catarina Martins, esclarecendo a ideia.
André Ventura, líder do Chega. recusou comentar o recente caso dos agentes da GNR detidos por cumplicidade na exploração de imigrantes ilegais e apontou o dedo às leis aprovadas durante a 'geringonça' e sob impulso do BE, sob as quais, afirmou, "o tráfico de seres humanos aumentou 158 por cento" e "o auxílio à imigração ilegal 300 por cento". Sem "palavras mansas", Ventura sublinhou que "tem de se cumprir a lei".
Catarina Martins, ex-dirigente do Bloco de Esquerda e eurodeputada, defendeu-se, recordando que, se se fala de crimes é porque não são atitudes "que a lei permita".
"Leis humanistas não permitem crimes", sublinhou a bloquista, tentado encostar o adversário às cordas ao lembrar que dois deputados doi Chega foram condenados por imigração ilegal.
"Isso é falso, está a mentir, não deve mentir em direto na televisão", reagiu de imediato André Ventura, num primeiro sobressalto que iria marcar o início do debate, de parte a parte.
O debate aqueceu imediatamente, quando Catarina Martins disse que Ventura "odeia Portugal, odeia as pessoas que trabalham, odeia a forma como o país é feito".
"Eu?! Odeio Portugal?", reagiu estupefacto o líder do Chega, frequentemente acusado de nacionalismo.
André Ventura procurou desfazer a ideia de "humanismo" reivindicada pelo Bloco de Esquerda, recordando o caso de funcionárias despedidas pelo partido. "Se alguém tem experiência em explorar grávidas e em despedir pessoas pelo telefone, é o Bloco de Esquerda", acusou.
"Isso é mentira", respondeu a bloquista, dando origem a um diálogo de surdos com ambos a falar um por cima do outro. "Eu sei que está nervosa mas deixe-me falar", interrompeu a dada altura André Ventura. "Eu não estou nervosa",retorquiu a adversária, "tá tá", corrigiu o rival, num exemplo do tipo de diálogo que marcou o debate.
André Ventura acusou Catarina Martins e o BE de terem traído Portugal, ao permitirem a entrada sem regras "de bandidagem".
"Quando era líder do Bloco de Esquerda, bem sei que saiu em desgraça mas não se livra daquilo que fez, Catarina Martins", atacou Ventura, levando-a a rir-se.
André Ventura perdeu então a paciência.
"Pode rir-se de mulheres violadas, de lojas roubadas, de crianças abusadas, de pessoas que deixaram de se sentir em segurança nas suas cidades", acusou. "Ainda bem que se está a rir assim, porque assim as pessoas vêm quem é e o carater que tem" .
"Entre nós, quem ama Portugal sou eu", frisou o líder do Chega. Catarina Martins lembrou a ida de Ventura a Espanha, a um evento de um partido da extrema-direita.
Mais um momento de tensão: o líder do Chega a lembrar que a adversária é "má atriz", a antiga coordenadora do BE a apelidar Ventura de ser "pantomineiro".
Catarina Martins assinalou que a criminalidade associada à imigração é de 1 por cento, quando a bancada parlamentar do Chega tem "40 por cento de deputados que estão ou já estiveram a braços com a justiça". Vincou ainda a importância dos imigrantes como força de trabalho, por oposição a "oligarcas russos" que chegam a Portugal pelos vistos gold e que cá chegam para "lavar o seu dinheiro da corrupção".
"Só não gosta dos imigrantes pobres, quando se fala dos milionários vota para haver vistos gold", acusou.
Ventura rematou que a adversária "não pode falar dos crimes da sua bancada porque não tem bancada".
"Mas quando teve foi suspeita de receber dinheiro que não devia. Do Parlamento, de jornais, de media", acusou. Mais uma vez na imigração, o candidato presidencial apontou a contribuição do Bloco para a aprovação da lei da imigração com manifestação de interesses, em 2017, da lei da nacionalidade, em 2018, e criticou a extinção do SEF.
"Vocês acabaram com o controlo de fronteiras", apontou Ventura. Catarina Martins ripostou: "Tenha respeito pelas forças de segurança".
Discurso de ódio e novos ataques
Questionado sobre recentes declarações do Patriarca de Lisboa, Rui Valério, com avisos sobre o crescimento do discurso de ódio na sociedade portuguesa, André Ventura optou por voltar a referir os efeitos da imigração ilegal e da corrupção.
"Eu não quero saber o que é que alguém disse especificamente sobre alguma coisa", respondeu, ao ser novamente instado a responder. Observou que lhe estavam a ser feitas perguntas "só para nos por a um canto".
Por sua vez, Catarina Martins observou que o discurso da extrema-direita contém elementos de "ataque às conquistas dos direitos das mulheres" e que uma parte desse discurso "atinge as mulheres, a sua dignidade e a sua segurança". Apontou também a "ligação entre direta entre a extrema-direita e a cibercriminalidade".
Com novas observações sobre o seu passado como atriz antes de ter chegado à política, a eurodeputada bloquista vincou que não se sente "insultada" pela sua anterior vida profissional.
"Ninguém me menoriza por trabalhar com cultura ou arte. (...) A cultura é das coisas mais importantes. Quem ama Portugal tem de amar cultura e arte", apontou.
"Ninguém me menoriza por trabalhar com cultura ou arte. (...) A cultura é das coisas mais importantes. Quem ama Portugal tem de amar cultura e arte", apontou.
Pediu ainda mecanismos de regulação das redes sociais e dos algoritmos. "A comunicação social é responsabilizada pelo que faz", apontou.
Ventura afirmou que não quer "censura nas redes sociais" e que a esquerda teme a ascensão da direita nesse meio porque acabou com "o vosso domínio de 50 anos da comunicação social".
Contratação como assessora e acusações de racismo
Em resposta às questões da vida profissional, o líder do Chega acusou Catarina Martins de ter saído do Parlamento e ter sido contratada pelo seu partido como assessora.
"Foi contratada pelo partido às escondidas, sem ninguém saber, para ficar a trabalhar até ser eurodeputada. Quis garantir um tachinho antes de ser eurodeputada", criticou.
Acusou também a adversária de apoiar países islâmicos que "tratam as mulheres a baixo de cão" e defender o "islamismo que está a invadir a Europa".
Em resposta, Catarina Martins recordou que foi alvo de um processo por parte de André Ventura por se ter referido ao oponente como "racista", repetindo a mesma a acusação. Sobre a proximidade ao islamismo, a bloquista indicou ter participado em apoio dos direitos das mulheres no Irão e Afeganistão, para além da luta pela causa palestiniana. Ventura interrompeu para lembrar que o Bloco de Esquerda votou contra o fim da obrigatoriedade da burca.
Catarina Martins aponta ao discurso em que "o vizinho ao lado é culpado de tudo", ao mesmo tempo que "está ao lado do Governo que quer baixar salários quando deixar de pagar horas extraordinárias, dá benefícios fiscais aos estrangeiros muito ricos para quem trabalha ter uma vida dura e não ter um médico no hospital".
Aliados de Portugal e notícias falsas
Entre interpelações e interrupções, André Ventura foi desafiado a apontar quais são, na sua visão, os principais aliados de Portugal. "Não é o Irão, a Venezuela, a Rússia", considerou, lembrando que Catarina Martins "esteve contra" que o prémio Nobel da Paz fosse atribuído a Maria Corina Machado.
Afirmou que Catarina Martins quer Portugal fora da NATO e "quer sair do euro" e deu como exemplo de aliados a Inglaterra ou a Suécia.
Catarina Martins procurou esclarecer que defendeu que o Prémio Nobel da Paz fosse atribuído "aos jornalistas que estão a cobrir o genocídio em Gaza". Acusou, em relação à Venezuela, que Ventura já esteve num partido próximo de Maduro quando fez parte do PSD.
Quando o debate voltou à questão da imigração com Ventura a sublinhar o "turismo de saúde", Catarina Martins assinalou que os números da Inspeção-Geral de saúde mostram que só 0,7% dos não residentes que recorrem ao SNS é que não têm ou convenção ou seguro de saúde.
"Quem usa o SNS sem pagar são os milionários franceses a quem o doutor Ventura decidiu dar borlas fiscais", acusou. E pediu ao adversário que "não seja irresponsável". "Se uma trabalhadora imigrante está num lar a cuidar dos idosos, eu quero que ela vá ao SNS e seja vacinada para a gripe, por ela e pelos idosos que lá estão", rematou.
Quanto às acusações sobre a saída da NATO, a eurodeputada bloquista respondeu: "Quer Trump a mandar em nós? Um general norte-americano a mandar nas tropas portuguesas enquanto entrega a Ucrânia a Putin?".
Com a última palavra do debate, Catarina Martins optou por alertar para o domínio da política portuguesa pelas "notícias falsas" e a fazer "com que os debates se transformem neste festival em que se fale pouco".
"Não deixem que a democracia seja contaminada por este exército de mentiras", completou.