Chega confirma "negociações" com AD sobre presidência do parlamento, PS vê-se como "parte da solução"

Com José Pedro Aguiar-Branco a manifestar "disponibilidade" para se recandidatar a presidente da Assembleia da República, Rita Matias, deputada do Chega, revela, em declarações à Antena 1, que existem negociações em curso entre o partido e a AD sobre a liderança do parlamento.

João Alexandre - Antena 1 /

Fotografias: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

"Aquilo que sei é que o Chega está, neste momento, em negociações. As lideranças de bancadas estão em conversas e, portanto, não quero comprometer de todo a conversa", afirmou, no programa Entre Políticos, a dirigente do Chega, que deixa elogios ao desempenho de Aguiar-Branco na mais recente sessão legislativa: "Acho que é importante dizer que José Pedro Aguiar-Branco fez um trabalho bastante assinalável e notável, sobretudo quando comparado com Augusto Santos Silva ou com Ferro Rodrigues".
No mesmo sentido, defende Rita Matias, o social-democrata eleito pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo é, por vários motivos, um candidato que poderá recolher "mais simpatia" do que outros, mas, sublinha a deputada do Chega, por agora, o melhor é deixar decorrer as conversas entre os dois grupos parlamentares: "As negociações estão a decorrer e não posso ser eu, na Antena 1, a comprometê-las".

Na Antena 1, a deputada e dirigente do Chega deixou ainda um apelo à Aliança Democrática e a Luís Montenegro para que tratem o segundo maior partido da oposição como parceiro preferencial, deixando de lado o diálogo com o PS, nomeadamente num eventual processo de revisão constitucional: "Se existissem parceiros preferenciais à direita tínhamos revisões constitucionais, tínhamos combate cultural. Tínhamos discussões sobre a prisão perpétua, por exemplo".

Socialistas acusam Chega de "negociar lugares"

Pelo PS, o deputado e dirigente Pedro Vaz faz notar que o partido está atento à evolução das conversas à direita e aponta como "novidade" a revelação de que o Chega "está a negociar lugares" com o PSD e o CDS-PP.

"Foi isso que eu percebi. Acabaram de perguntar pelo presidente da Assembleia Republicana e disseram que, relativamente a essa matéria, estavam as negociações a decorrer" salientou, na Antena 1, o secretário nacional do PS, que, sobre a posição dos socialistas, esclarece: "O PS, tal e qual como aconteceu nas últimas eleições, será sempre parte da solução, no sentido de não criar impasses institucionais".
Ainda assim, reforça Pedro Vaz, o partido agora liderado de forma interina por Carlos César não considera a questão prioritária nem definidora de toda a ação política: "O posicionamento político de um partido vai muito para lá de saber quem é o presidente da Assembleia da República ou quem é que está nos lugares de designação da Assembleia da República".

Pelo contrário, acusa o dirigente do PS, o partido de André Ventura está mais preocupado com a negociação de lugares do que com as políticas para o país.

"Eu sei que o Chega ambiciona muito esses lugares, porque acha que agora está na vez deles, que está na vez de os revoltados poderem ter acesso a esses lugares. Mas, não é essa a questão, não nos preocupamos com isso. Aquilo que o PS fará, responsavelmente, é ouvir quais são as propostas apresentadas pelo partido que tem mais deputados. E penso que o PS tomará a decisão nos seus órgãos próprios", concluiu, no programa Entre Políticos.

PSD recusa apelo de Ventura para "corte" com o PS

Apesar de o Chega ser agora, pelo número de deputados, o maior partido da oposição, o PSD recusa o desafio de André Ventura para que haja um "corte" da AD com o PS.

"Confesso que fiquei surpreendida com o pedido, porque o mesmo André Ventura - que nos diz que não podem ignorar a votação do Chega - diz que ignorem a votação do PS que é mais ou menos igual à do Chega", diz, em declarações na Antena 1, Inês Palma Ramalho.
No programa Entre Políticos, a vice-presidente do PSD sublinhou que as "regras da democracia servem para todos" e insistiu que o Governo da AD "não pode ignorar" o PS, tal como "não pode ignorar quem está na segunda maior força política e tem mais deputados".

"O PS não tem três deputados. É a terceira maior força política e está logo ali a seguir. É um partido histórico e merece todo o respeito da AD, tal como espero que mereça o respeito de todos os outros partidos, como é evidente. Não acho razoável o pedido", disse Inês Palma Ramalho, que aponta ainda: "No final do dia, as decisões que os políticos tomam no parlamento, as decisões que os políticos tomam no Governo e este tipo de discursos têm impacto na vida das pessoas. E, é nisto que nós temos de pensar".
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