Começa a corrida para secretário-geral do PS

por Eduardo Caetano, RTP
Maria de Belém Roseira poderá juntar-se ao grupo de candidatos à sucessão de José Sócrates à frente do PS RTP

António José Seguro será certamente candidato a ocupar o cargo deixado vago pelo primeiro-ministro derrotado nas eleições de 6 de junho. Perfilam-se ainda no horizonte mais dois candidatos, Francisco Assis, líder parlamentar do partido, e António Costa, atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa. A data das diretas que elegerá o novo líder é marcada em reunião extraordinária da Comissão Nacional do Partido que se realiza na noite desta terça-feira.

Consumada a derrota na noite de 6 de junho nas legislativas antecipadas, José Sócrates veio assumir a derrota e chamar a si a responsabilidade pela desfeita dos socialistas, pedindo a demissão do partido para permitir a renovação da superestrutura diretiva e não condicionar as escolhas dos militantes da agora maior força política da oposição.Reunião da Comissão Nacional

Esta noite, a Comissão Nacional socialista reúne-se com uma agenda preenchida.

Para além da marcação da data para a realização das eleições diretas do novo secretário-geral, o órgão tem por tarefa a marcação do XVIII congresso nacional do partido, a apresentação, discussão e votação do regulamento para a eleição do secretário-geral e do regulamento para a eleição dos delegados ao congresso.

Finalmente, tem por diante a eleição da comissão organizadora do Congresso.


Sem líder, os socialistas preparam a substituição do secretário-geral demitido. A pedido do próprio, o presidente do partido, António Almeida Santos, convocou para a noite desta terça-feira uma reunião extraordinária da Comissão Nacional para analisar o resultado eleitoral e sobretudo marcar a data das eleições diretas, forma escolhida há muito pelos socialistas para elegerem o seu secretário-geral.

Questão primordial em qualquer partido que por uma qualquer razão fica sem líder é a escolha de quem lhe sucede. Num partido do arco de governação, que vai passar previsivelmente pelo menos quatro anos na oposição, a escolha assume especial importância, já que determinará a estratégia para tentar regressar ao poder.

António José Seguro fez trabalho junto das bases
Um candidato parte bem colocado. António José Seguro que, se na noite das eleições se recusou a falar sobre uma hipotética candidatura à sucessão de Sócrates, a verdade é que nos últimos anos aproveitou para em rondas pelas várias estruturas federativas do partido conhecer e dar-se a conhecer às bases.

Esse trabalho realizado ao longo dos últimos anos já lhe rende alguns benefícios. Hoje mesmo o presidente dos autarcas socialistas, estrutura que reúne todos os autarcas eleitos a nível nacional sob a bandeira do partido socialista, Rui Solheiro, veio declarar publicamente o seu apoio à candidatura de António José Seguro.

“É o dirigente socialista que está em melhores condições para assumir a liderança do partido", depois da derrota do passado domingo, disse o autarca socialista.

"António José Seguro combina perfeitamente a juventude com experiência, tem elevada capacidade para trabalhar em equipa e para mobilizar equipas. Penso que António José Seguro será capaz de abrir o debate interno no PS e preparar uma alternativa consistente de Governo", sustentou.

Se bem que seja um apoio individual, não deixa de ser significativo dado o cargo exercido pelo autarca e pela influência que poderá ter junto dos autarcas socialistas.

De acordo com fontes ligadas a António José Seguro, este espera apenas que a comissão nacional do partido desta terça-feira defina as “regras do jogo” para avançar e anunciar que é candidato a ocupar o cargo deixado vago pelo antigo primeiro-ministro.

Francisco Assis pondera candidatura
Mas tudo indica que a candidatura não deverá ser única. Muitos socialistas não vêm com bons olhos a figura de António José Seguro. Comentam nos bastidores e nas redes sociais a estranheza de ser o escolhido por vários comentadores políticos conhecidos entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa. Essa escolha levanta-lhes algumas suspeitas ou pelo menos enfraquece-o um pouco aos seus olhos.

Seja como for, apenas Francisco Assis, escolhido por José Sócrates e eleito pelo grupo parlamentar dos socialistas, líder da bancada, e António Costa, o antigo número dois do governo de maioria absoluta de Sócrates e atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, são vistos como tendo alguma possibilidade de fazer frente à bem preparada candidatura de António José Seguro.

Francisco Assis tem como ponto fraco da sua candidatura ser um candidato que alegadamente dependerá muito da estrutura partidária, sobretudo da nomenclatura ligada ao ex-primeiro-ministro e muito em especial da que estará ligada ao atual edil de Lisboa.

Fortes pressões impelem António Costa para a corrida
António Costa, em contrapartida, aparece com uma ótima “auréola” entre os militantes socialistas. Saído do governo em época em que este ainda tinha elevados índices de apoio, vencedor de duas eleições para a câmara da capital, dos principais autores dos programas socialistas e de governo, o antigo ministro da Administração Interna aparece como forte candidato a defrontar António José Seguro.

Se membros ligados ao autarca garantiam na segunda-feira estar praticamente adquirido o facto de Costa não se candidatar ao cargo, a verdade é que desde a primeira hora que se intensificaram as pressões sobre o edil para que o fizesse. Nenhum dos seus apoiantes deu ainda como abandonada a hipótese da candidatura.

Estas pressões sobre António Costa terão aumentado, a crer em membros ligados à direção cessante, com a sedimentação da crença de que Francisco Assis não terá condições reais no terreno para se bater com a máquina organizada por Seguro.

Defendem estes dirigentes que António Costa deverá escolher um bom líder da bancada parlamentar para a frente parlamentar e um bom coordenador na direção para as eleições autárquicas, para assim poder conciliar a liderança do partido com a presidência da Câmara de Lisboa.

É precisamente nesta conciliação que reside a principal objeção de Costa a avançar para a liderança do partido. Está nos últimos dois anos do mandato às frente da Câmara Municipal de Lisboa e é precisamente nesse período que terá de concluir importantes projetos como a reabilitação da Ribeira das Naus, o plano do arquiteto Renzo Piano para o Braço de Prata ou o programa de consolidação financeira da autarquia, todas elas realizações que permitirão cumprir um desejo do autarca que é o de deixar uma marca na Câmara da capital.

A este fator acresce a conhecida “má memória” que Jorge Sampaio revelou ter em relação aos anos em que acumulou a presidência da Câmara com a liderança do partido (entre 1892 e 1992), experiência que terminou com a derrota nas legislativas de 1991 e com a segunda maioria absoluta de Cavaco Silva ao tempo primeiro-ministro.

Costa disse na manhã desta terça-feira já ter decidido se avança ou não para a liderança do partido mas essa decisão será comunicada em primeira mão na reunião da Comissão Nacional da noite.

"A decisão que tinha de tomar já está tomada mas, se não se importam, comunicarei primeiro à Comissão Nacional do PS logo à noite qual é a minha decisão", disse o autarca à entrada para a reunião da Assembleia Municipal de Lisboa.

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