Convenção BE. Ex-deputado José Maria Cardoso avisa que pedir que "rolem cabeças" não é atitude de esquerda
O ex-deputado do BE José Maria Cardoso avisou hoje que pedir que "rolem cabeças" não é uma atitude de esquerda e defendeu um maior enraizamento dos bloquistas no poder local, numa das dezenas intervenções do último dia de Convenção.
O segundo e último dia de trabalhos da 14.ª Convenção do Bloco de Esquerda, no pavilhão municipal do Casal Vistoso, em Lisboa, começou por volta das 09:20, e contou com as intervenções de dezenas de intervenções de militantes, que centraram os discursos em questões internas e a mensagem política do partido.
O antigo parlamentar José Maria Cardoso interveio para lamentar as palavras de outros filiados que "pediram que rolassem cabeças", acrescentando que "essa não é uma atitude de esquerda", mas sim de "deslealdade aos valores de esquerda".
José Maria Cardoso, que já presidiu à comissão parlamentar de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, frisou que a coordenadora Mariana Mortágua "aguentou o ataque de caráter pessoal mais sórdido que alguma vez se fez na democracia pós-25 de Abril", mas reconheceu também que houve "erros no percurso".
"Não é novidade nenhuma. E é preciso saber refletir, aprender com todos os erros. Mas porque é que nós não falamos em tantas coisas assertivas que fizemos? No caminho que construímos, na capacidade que tivemos de ser assertivos para construir aquilo que somos e para adiantar um conjunto de debates na sociedade portuguesa, que de outra forma não se faria ou demoraria muito mais tempo", acrescentou.
O bloquista pediu ainda um maior enraizamento do partido no poder autárquico, criando uma "nova forma de atuação" a nível local com a criação de uma "espécie de guião" informativo que mostre como deve ser feita a intervenção nos municípios.
Após o ex-deputado, interveio também Joana Neiva, um dos novos nomes candidatos à Mesa Nacional, fez um forte apelo à mobilização do partido, nomeadamente dos militantes de base.
"Quando deixamos de acreditar que é possível, aí é que a derrota se torna permanente. Vamos organizar, mobilizar. O BE não é algo que aguardamos é algo que fazemos acontecer", desafiou.
Antes, falaram outros militantes como Tiago Castelhano, que argumentou que o BE "tem de falar para o povo", de forma geral, e não para "quem vota no Livre ou no PCP" e Sandrina Espiridião, que apelou aos membros do partido que se concentrem nas ideias que fizeram com que o partido existisse, como a luta por uma "sociedade mais justa, igualitária, contra o capitalismo, seja ele selvagem ou liberal".
O militante Gil Ribeiro lembrou a importância da pluralidade de opiniões no partido, afirmando que a "uniformidade não é regra", mas sim um defeito, enquanto Sonia Miceli lamentou a quase inexistência de imigrantes nas lideranças do partido.
A votação para os membros da Mesa Nacional e da Comissão de Direitos prossegue durante esta manhã, com os delegados da Convenção a terem de escolher entre as listas apresentadas por quatro das cinco moções discutidas na reunião magna. As urnas estarão abertas até ao meio-dia.