Política
Correia de Campos. "Ministra da Saúde está refém, capturada pelo primeiro-ministro"
António Correia de Campos entende que a ministra da Saúde se tornou "refém do primeiro-ministro e do Governo".
Imagem e edição vídeo de Pedro Chitas
Em entrevista ao podcast da Antena 1 Política com Assinatura, o antigo ministro da Saúde afirma que Ana Paula Martins “entrou pressionada por muitas forças estranhas, ou nem sempre coincidentes com o interesse público” e que tem de obedecer a Luís Montenegro, mesmo quando não concorda com o chefe do Governo.
USF privadas? “É um disparate de todo o tamanho”
“É um disparate de todo o tamanho a criação de Unidades de Saúde Familiar (USF) Modelo C”, defende Correia de Campos, que prevê a retirada de médicos das outras USF para colocar nas privadas. “Pior do que isso, será a criação da Medicina Familiar Convencionada. Isso então será o desgaste completo do Serviço Nacional de Saúde”, avisa.
O antigo tutelar da Saúde fala mesmo de “erosão dos recursos humanos que vão sair das USF para essas (privadas) que vão ser pagos à peça. O que significa que, quando se é pago à peça, se vão fabricar peças, mesmo que não sejam necessárias”.
“Toda a gente sabe que a Medicina Convencionada é a coisa mais cara do mundo”, assegura.
Nesta entrevista, Correia de Campos mostra-se muito crítico da estrutura orgânica atual da Saúde, criada pelo Governo de António Costa.
Diz que essa orgânica foi “montada apressadamente” e acrescenta que “primeiro é incompleta, não foi discutida com ninguém, foi imposta, e segundo destruiu as Administrações Regionais de Saúde que eram organismos intermédios”.
Defende por isso, à imagem do que o atual Governo fez na Educação, uma descentralização, que implique a criação de estruturas intermédias.
“O setor privado decidiu vingar-se"
Concordou com a gerigonça, a coligação entre PS, PCP e BE, admite, mas, hoje em dia, Correia de Campos caracteriza-a como o maior erro da esquerda nos últimos anos.
Acusa o PCP de ter saído na primeira oportunidade, o BE de desferir duas facadas aos socialistas e o PS de ter criado uma Lei de Bases da Saúde que desvalorizava a importância do setor privado. “É evidente que isto tinha que gerar uma reação”.
“Fomos tão fundamentalistas na aceitação desta legislação, que o setor privado resolveu vingar-se, e estão a fazer tudo para destruir o SNS. Morderam a carne viva”, lamenta Correia de Campos.
“Almirante é o único com unhas para presidir o país e o único capaz de travar Ventura”
Não é o candidato do Partido Socialista (PS), mas é o candidato do socialista Correia de Campos. O antigo ministro da Saúde justifica o apoio ao almirante Gouveia e Melo à Presidência da República: “é o único capaz de presidir ao país nos anos conturbados que aí vêm”.
Na opinião de Correia de Campos, os outros candidatos “não têm unhas” para o que vaticina, cinco a dez anos muito complicados e instáveis devido ao crescimento da extrema-direita em Portugal e a outros fenómenos que representam uma ameaça externa ao país, como a guerra da Ucrânia, a fragilidade da Europa ou a ascensão de alguns países asiáticos.
“Os períodos vão ser longos, não tenhamos ilusões, esta onda de extrema-direita não vai desvanecer-se num ano ou dois. Vamos ter um período longo. E um período com muita instabilidade externa, com muita ameaça externa”.
Defende por isso a necessidade de eleger Gouveia e Melo para Belém porque “de todos os candidatos presidenciais, a única pessoa que eu vi apresentar uma estratégia de política de defesa e de política externa coerente foi o Almirante Gouveia e Melo”.
Ventura: “uma rising star no partido da extrema-direita"
António Correia de Campos acredita que muitos socialistas vão votar no almirante, com receio “dos riscos” que implica o aumento da extrema-direita em Portugal. “São esses riscos que vão levar, certamente, muitos socialistas a votarem no almirante”, afirma.
O antigo ministro da Saúde chama a André Ventura “uma rising star (estrela em ascensão) no partido da extrema-direita". No entanto, acredita que caso seja eleito, o almirante será capaz de “travar” o líder do Chega.
“Não é uma pessoa disposta a negociar com um extremista”, considera em entrevista ao Política com Assinatura.
“António José Seguro não tem punch! Estimável, simpático, cordato, esforçado” mas...
António Correia de Campos até reconhece algumas qualidades a António José Seguro, mas há nele características que levam o antigo Ministro da Saúde a recusar apoiar Seguro na candidatura para Presidente da República.
“É falta de convicção, é falta de força, é falta de punch, o discurso dele é excessivamente banal, é um discurso de não me comprometas”.
E Correia de Campos acusa ainda Seguro de “uma tentativa de aproximação à direita”. Entrevista conduzida pela editora de Política da Antena 1, Natália Carvalho.