Debate na RTP. Raimundo critica "chuva de promessas" da AD, Montenegro culpabiliza CDU por "instabilidade governativa"

por Inês Moreira Santos - RTP
Pedro Pina - RTP

Os candidatos da CDU e da Aliança Democrática estiveram, este sábado à noite, em debate na RTP. Para além dos diferentes pontos de vista ideológicos, visões e projetos para Portugal, desta vez o confronto político foi também marcado pela diferença geográfica. A partir dos estúdios da televisão pública em Lisboa, Paulo Raimundo negou qualquer apoio a um eventual governo sem maioria da AD e criticou a "chuva de promessas" da coligação do PSD, CDS-PP e PPM. Por motivos de agenda, Luís Montenegro participou por videoconferência, nos estúdios do Porto, associando os comunistas ao estado do país, à governação do PS e à "instabilidade governativa".

Moderado por João Adelino Faria, o debate começou pelo tema de um eventual governo da Aliança Democrática. Paulo Raimundo abriu as hostilidades e respondeu que seria “uma hipocrisia (…) dizer que alguma vez a CDU apoiaria um programa e um Governo da AD”.

“Creio que seria uma hipocrisia criar essa expectativa. Temos objetivos opostos”
, continuou, justificando que por isso não apoiaria um Governo da AD que vencesse as eleições sem maioria.

Questionado sobre um eventual acordo com o Partido Socialista, uma espécie de nova Geringonça, o líder comunista quis deixar logo claro que não é pela “CDU que há instabilidade governativa”.

“Temos perdido muito tempo com a forma e menos tempo com o conteúdo”, acrescentou, não negando nem consentindo com o possível apoio ao PS, num cenário em que os socialistas ganhariam sem maioria.

Confrontado também com um eventual cenário em que o PS ganhava mas sem conseguir uma maioria, Luís Montenegro disse que “no pós-eleições, cada um” deve assumir as suas responsabilidades e que será primeiro-ministro “se tiver uma vitória eleitoral, se tiver mais um voto do que qualquer um dos outros oponentes”.

“Serei primeiro-ministro se for escolhido pelos portugueses e ganhar as eleições. E serei nas condições que os mandatos na Assembleia da República me puderem dar condições de governabilidade”
, frisou o líder social-democrata, sem abordar outros cenários eleitorais, nem confirmando se a AD permitiria que a esquerda governasse.

“Eu apresento-me a estas eleições para vencer as eleições e com base na confiança manifestada através da participação democrática e livre do povo português poder alavancar um ciclo de governação que possa trazer mais crescimento da Economia e possa resolver os principais problemas sociais do país”.
"Não existe"negociação da AD com Chega

Quanto à possível viabilização por parte do Chega de um governo da AD nos Açores, Montenegro referiu que os dois partidos têm uma “perspetiva muito idêntica àquela que apresentam para o país” e, por isso, “é preciso agora clarificar posições”.

“O Partido Socialista não governa nem deixa governar”, acusou o candidato da AD, ainda sobre a situação governativa açoriana, acrescentando ainda que o PS “não respeita a vitória eleitoral que a AD obteve nas urnas”.

O Chega, por sua vez, “terá agora o chamado teste do algodão” e terá de “decidir se vai de encontro aos braços do Partido Socialista” ou “respeitar a vontade eleitoral dos açorianos”. Este teste do Chega, disse ainda Montenegro, “tem dia e hora marcado”, quando se votar no Parlamento Regional dos Açores o programa do Governo.

“Não vale a pena sonhar com nenhuma negociação”, frisou, garantindo ainda que “não existe” nenhuma negociação.
AD quer "reconciliação" com pensionistas

Os aumentos dos pensionistas são propostas comuns entre a CDU e a AD. O partido encabeçado por Paulo Raimundo propõe um aumento de 7,5 por cento a “todos os pensionistas, com um mínimo de 70 euros de aumento para todos os pensionistas e agora, porque é agora que faz falta”.

“A proposta concreta que temos é de um aumento extraordinário em abril que coloque todos os pensionistas e reformados com 70 euros a mais. (…) É uma questão que é preciso resolver agora. A situação é muito complexa”
, explicou o candidato comunista. “Seria uma aumento agora, com aumentos permanentes durante a legislatura. No mínimo acima da inflação”.

Esta medida, segundo Raimundo, custaria ao Estado 1.600 milhões de euros, “que é exatamente o mesmo valor que o Orçamento de Estado em vigor decidiu atribuir em benefícios fiscais aos tais grupos económicos” que têm “25 milhões de lucro por dia”.

“Esta é que é a opção que devemos fazer”, declarou ainda.

“Reconciliação com os idosos e com os reformados é uma palavra que vale a pena puxar agora”, continuou, acusando os partidos de direita e governos anteriores liderados pelo PSD e CDS, de serem “os recordistas nos cortes das pensões, naqueles tempos sombrios da troika”.

Paulo Raimundo não se mostrou, por isso, crente de que a Aliança Democrática queira agora “reconciliar-se” com os pensionistas, lembrando que a proposta da CDU já foi à Assembleia da República e não teve o apoio social-democrata.

“Não podemos esquecer os tempos dos cortes nas pensões, dos cortes nos salários, dos cortes no subsídio de Natal, o maior aumento de impostos, durante os tempos da troika”, afirmou o candidato da CDU, desaprovando a proposta da AD de um Complemento Solidário para Idosos.

“E é claro, Luís Montenegro tem, naturalmente, uma responsabilidade acrescida nesse problema”.

Ainda sobre o mesmo tema, Luís Montenegro começou por responder ao oponente político neste debate que, uma das responsabilidades que assume ter tido durante a troika, foi “poder ter contribuído na Assembleia da República para que um Governo devolvesse ao país a autonomia para se poder financiar”.

Em 2011, recordou Montenegro, “não havia dinheiro para pagar nem salários nem pensões”, além de haver o risco de os pensionistas “ficarem sem nada”.

Ao falar em “reconciliação”, o candidato da AD quis explicar que se criou “uma perceção na sociedade portuguesa segundo a qual aqueles que salvaram o país (…) foram os responsáveis por um momento de restrição pelo qual tivemos todos de passar para promover essa recuperação”.

Recusando-se a pensar no passado, Luís Montenegrou reiterou ainda que o objetivo é fazer saber aos eleitores que “podem confiar no PSD”, partido que diz estar associado “à maior valorização de sempre das pensões” com a instituição do 14.º mês.

“Para futuro quero garantir a todos os pensionistas que todos os anos terão um aumento das suas pensões, no mínimo, equivalente à inflação”, declarou, acrescentando que a quem tiver pensões mais baixas a atualização, “sempre que possível, (…) não vai superar esse limiar legal”.

E com vista aos que “têm verdadeiras dificuldades” o candidato da AD afirmou que pretende que o valor de referência deste complemento solidário atinge os 820 euros. Isto é, nas palavras do mesmo, “nenhum pensionista vai ter de rendimento menos que 820 euros”, caso a Aliança Democrática seja eleita para governar o país.

Para Paulo Raimundo, a proposta da AD é uma “chuva de promessas”.
Acusações mútuas de aproximação ao PS
Marcado pela distância geográfica, o debate entre Paulo Raimundo e Luís Montenegro ainda teve um momento de troca de palavras mais aceso.

O candidato da Aliança Democrática, a participar por videoconferência a partir dos estúdios da RTP do Porto, acusa o partido do adversário de ter, em 2015, contribuído para impedir a coligação do PSD e do CDS-PP de governar, depois de os sociais-democratas terem vencido as eleições legislativas sem maioria.

Paulo Raimundo admitiu que o PCP concordou com um Governo de coligações de esquerda, a chamada Geringonça, e enumerou algumas das propostas da CDU na Educação e na Saúde, por exemplo, alcançadas e aprovadas durante essas legislaturas. Em resposta, Montenegro acusou o oponente de estar a “associar-se aos resultados” do Governo do PS.

“Está, portanto, a associar-se aos resultados da governação do Partido Socialista na Saúde, na Educação, na Habitação. Fica-lhe bem”, atirou o social-democrata, acusando uma vez mais a CDU de ser também responsável pela instabilidade do país.

O líder comunista, por sua vez, esclareceu que se estava a associar “ao papel determinante que o PCP e a CDU tiveram para travar o projeto que estava em curso de destruição do nosso país”, referindo-se ao programa governativo do PSD, na altura.

“Quando foi preciso (…) o PSD deu a mão às opções mais erradas do Partido Socialista”, apontou também.
Salários e "contas feitas"

Também o aumento de salários é uma proposta comum das duas coligações políticas candidatas a estas eleições. A CDU apresentou uma proposta de um aumento de 15 por cento, o que nas contas de Paulo Raimundo, são 15 mil milhões de investimento do Governo.

“É para fazer agora. (…) E não vale a pena vir com o choradinho de que não há dinheiro. Isso já não cola”.

Já a AD apresentou, na sexta-feira, uma proposta que visa alcançar um salário medio de 1.700 euros até ao final da legislatura. Luís Montenegro começou por argumentar que este “é um cenário prudente” e que “as contas estão feitas”.

“Para subir os salários em Portugal é preciso desbloquear os constrangimentos que têm impedido que haja maior criação de riqueza e maior crescimento da economia”
, disse o líder do Partido Social Democrata.

Recorde-se que este debate gerou polémica esta semana, depois de a AD ter escolhido Nuno Melo para debater com Paulo Raimundo.

A coligação acabou por recuar e foi mesmo Luís Montenegro a estar presente neste frente-a-frente, embora à distância a partir do Porto.
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