Deputado socialista tira gravadores a jornalistas
Ricardo Rodrigues tirou dois gravadores a jornalistas, da revista “Sábado”, que o entrevistavam, na passada sexta-feira, e não os devolveu. O vice-presidente da bancada do PS não gostou de algumas perguntas que lhe foram colocadas e terminou abruptamente a entrevista.
Por seu lado, o deputado socialista interpôs uma providência cautelar para suspender a divulgação do vídeo da entrevista.
No entanto, a "Sábado" afirmou não ter recebido "nenhuma justificação judicial" e o vídeo, que mostra o deputado socialista a colocar no bolso os gravadores dos dois jornalistas, está a ser transmitido no site da revista."Confrontado com perguntas sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado levantou-se, enfiou os dois gravadores nos bolsos das calças e saiu da sala, mas esqueceu-se que a entrevista estava a ser filmada", revelou à agência Lusa, Fernando Esteves, um dos jornalistas da revista.
Segundo o jornalista, "daí a dez minutos, já a saída da Assembleia da República, encontrámo-lo e eu perguntei-lhe pelos gravadores, mas o deputado disse que já os tinha entregado a alguém que iria tratar daquilo. Suponho que queria dizer que ia desgravar a entrevista".
Deputado explica o motivo da sua acção
O vice-presidente da bancada parlamentar socialista justifica o seu acto dizendo que foi uma forma irreflectida de reagir a questões injuriosas.
"Porque a pressão sobre mim constitui uma violência psicológica insuportável, porque não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom nome, exerci acção directa e, irreflectidamente, tomeis posse de dois equipamentos de gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providência cautelar que corre termo no Tribunal Civil de Lisboa", afirmou Ricardo Rodrigues aos jornalistas.
O deputado acrescentou "que tive oportunidade de alertar os entrevistadores para o seu tom inaceitavelmente persecutório, bem como para os temas e factos suscitados falsos, e mesmo injuriosos".
"Foi o caso de alegada cumplicidade minha com clientes que patrocinei na minha actividade profissional, como advogado, que foram condenados relativamente a factos de 1997", esclareceu.
Presidente da bancada parlamentar socialista saiu em defesa do seu vice
Francisco Assis, presidente da bancada parlamentar socialista, que esteve ao lado de Ricardo Rodrigues durante as suas declarações aos jornalistas, afirma que mantém a confiança absoluta no seu vice.
"È uma pessoa de grande lealdade, uma grande capacidade de intervenção política, de um grande rigor, inquestionavelmente um dos melhores deputados na Assembleia da República", afirmou Francisco Assis.
Para o presidente da bancada parlamentar socialista, "Ricardo Rodrigues tem servido de forma exemplar o nosso projecto político no plano parlamentar e portanto mantenho, evidentemente, toda a minha confiança".
"Tive até já a oportunidade de exprimir a minha solidariedade ao Dr. Ricardo Rodrigues", acrescentou.
"É um gesto que qualquer um de nós poderia ter num momento de reacção a quente e dominado por um sentimento de profunda indignação pelo tipo de interrogatório a que estava sujeito. Entendo que ninguém pode ser avaliado por uma reacção a quente num determinado momento", rematou Francisco Assis.
Sindicato dos Jornalistas condena acção do deputado socialista
Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, considera a atitude de Ricardo Rodrigues condenável e lamentável.
"Considero que se trata de um acto que é inaceitável e condenável em qualquer pessoa, que constitui um comportamento especialmente condenável por se tratar de um deputado, que tem a especial obrigação de conhecer e proteger as leis da República", afirmou Alfredo Maia.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas recordou "que os gravadores são instrumentos de trabalho, dos quais os jornalistas não podem ser desapossados", por "puderem conter material protegido pelo segredo profissional".
Alfredo Maia, recorda que os entrevistados "têm direito a recusar responder a perguntas, e de se queixar dos jornalistas se o comportamento destes tiver sido incorrecto, mas não podem recorrer a acção directa para reagir a elas".
O sindicato lamenta que Ricardo Rodrigues "não tenha devolvido os gravadores e pedido desculpa pela sua conduta".