Derrapagem do Hospital Militar. "Não há nenhuma mentira", afirma Cravinho

por RTP
“Irei ao Parlamento para responder a todas as perguntas que os senhores deputados entenderem colocar” Olivier Hoslet - EPA

O ministro dos Negócios Estrangeiros afirma não ter gostado de ser acusado de mentir no Parlamento sobre as obras no Hospital Militar de Belém. João Gomes Cravinho, que promete responder a todas as questões dos deputados na Assembleia da República, admite ter sabido que o custo dos trabalhos excedia a estimativa inicial. Justifica que não os travou por causa da pandemia.

Foi em declarações aos jornalistas em Bruxelas - à margem de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, durante a tarde de segunda-feira -, que João Gomes Cravinho admitiu ter ficado “claro”, em março de 2020, “que o custo” seria “superior àquilo que era o custo inicial estimado”.

“Agora, devo dizer que não gostei, não gostei nada mesmo, de ser acusado de mentir, muito menos de mentir ao Parlamento português. Não há nenhuma mentira naquilo que eu disse e isso explicarei em pormenor na Assembleia da República”, acentuou o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros.

“Irei ao Parlamento para responder a todas as perguntas que os senhores deputados entenderem colocar e, portanto, teremos tempo para entrar em pormenor naquilo que quiserem e terei o maior gosto em prestar todos os esclarecimentos”, insistiu.Está marcada para esta terça-feira uma audição em sede de comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros. Em dezembro, na Assembleia da República, o ministro negou ter autorizado os custos adicionais na obra.

As obras no antigo Hospital Militar custaram mais do triplo do que estava previsto. O limite da despesa era de 750 mil euros. Todavia, em março de 2020, um ofício revelado pelo jornal Expresso informava o então ministro da Defesa que era necessário proceder a “trabalhos adicionais”.

No final, a obra cujo valor inicial era de 750 mil euros acabou por custar 3,2 milhões.

“Eu penso que é preciso recuar aqui um bocadinho a março de 2020. Não sei se as pessoas estão recordadas o que era a realidade nacional e internacional em março de 2020. Era um momento em que as nossas sociedades tinham muito rapidamente de se preparar para enfrentar algo de completamente inesperado. Naquele momento, era uma prioridade absoluta erguer uma capacidade para receber futuros doentes covid, num edifício que precisava de ser recuperado para esse efeito”, argumentou o governante.
Questionado sobre se esta polémica põe em causa a sua capacidade política para se manter no cargo, Cravinho foi taxativo: “Não, de forma alguma”.

O ministro afirmou também que fez já um “exercício mental” sobre as 36 perguntas do questionário para candidatos a governantes: “Eu já fiz muito rapidamente o exercício mental olhando para as perguntas. Não tenho dúvida nenhuma de que posso responder a esse questionário sem problemas”.
“Tempestade Perfeita”
A operação "Tempestade Perfeita" foi desencadeada em dezembro pela Polícia Judiciária, em coordenação com o Ministério Público, tendo confuzido a cinco detenções, incluindo três altos quadros da Defesa e dois empresários, num total de 19 arguidos. A investigação incidiu sobre o período em que João Gomes Cravinho tutelou o Ministério da Defesa.

Um dos cinco detidos é o ex-diretor-geral de Recursos da Defesa Nacional Alberto Coelho, alegadamente envolvido na derrapagem nas obras de requalificação do Hospital Militar de Belém e que, posteriormente, veio a presidir a uma empresa pública do setor da Defesa, a ETI (EMPORDEF - Tecnologias de Informação, S.A).

Em causa estão então as despesas de cerca de 3,2 milhões de euros na empreitada para reconverter o antigo Hospital Militar de Belém num centro de apoio à resposta à pandemia da covid-19.
Segundo caso
O ministro dos Negócios Estrangeiros está ainda envolvido numa nova polémica. João Gomes Cravinho detém parte de uma sociedade imobiliária com um sócio que já foi condenado por fraude fiscal.

Marcos Almeida Lagoa foi um dos 11 arguidos no processo dos CTT que causou 13,5 milhões de euros de prejuízo aos Correios.

Cravinho confirmou que é sócio da empresa desde 2015, mas garantiu que desconhecia os problemas fiscais de Marcos Lagoa.

c/ Lusa
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