Eleições. Mais de um milhão de portugueses expostos a "fake news"

por Inês Moreira Santos - RTP
Dado Ruvic/Reuters

Durante a campanha para as eleições legislativas de 2019, mais de um milhão de portugueses tiveram contacto com conteúdos de "desinformação" e fake news no mês anterior às eleições. No entanto, um estudo do ISCTE garante que o risco de desinformação em Portugal é "relativamente baixo".

O MediaLab do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, um projeto de "monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais", num relatório em parceria com a Democracy Reporting International e o Diário de Notícias, identificou mais de seis mil e 500 publicações no Facebook com conteúdo de desinformação ou fake news.

"Estas foram as primeiras eleições em que é possível dizer que as notícias falsas tiveram um impacto sobre a campanha e, provavelmente, sobre o voto", afirmou o sociólogo e professor catedrático de media e sociedade que participou no projeto do MediaLab.

Num país "com seis milhões de portugueses com perfis no Facebook" houve, "no mínimo, um milhão de pessoas a serem tocadas pela desinformação" no mês que antecedeu as eleições, afirmou.

Segundo o estudo, o Facebook, a par com o YouTube, é "a plataforma de media social mais importante em Portugal" e, por isso, a equipa escolheu 47 páginas pessoais e 39 grupos de Facebook para analisar no mês anterior às eleições – entre 6 de setembro e 5 de outubro de 2019.

No período em análise, essas páginas tiveram "mais de 1,1 milhões de interações, pessoas que ou puseram um like, comentaram ou partilharam uma determinada publicação que a equipa considera desinformação, em graus diferentes de classificação".
Portugueses confiam menos nas redes sociais
Em Portugal "existe algum risco de desinformação", mas não é muito elevado. Para começar, "o público português tem uma confiança relativamente alta nos media tradicionais" e "menos confiança" nas informações proliferadas nas redes sociais, revela o estudo. Além disso, o país "não está no centro das atenções geopolíticas", o que diminui o risco de exposição a campanhas externas de desinformação.

No contexto europeu, uma das questões mais divergentes e frequentemente usadas na desinformação é a migração. Mas em Portugal não é um tema que gere muita controvérsia, sendo também por isso considerado menor o risco de desinformação.

Talvez a questão da corrupção seja a mais preocupante no que toca à desinformação em Portugal. De acordo com a equipa do MediaLab, o caso do ex-primeiro ministro José Sócrates é a questão mais usada na propaganda de desinformação e, nesse sentido, "Portugal é mais comparável ao Brasil" do que aos países da União Europeia.

"O objetivo das notícias falsas, na maior parte das vezes, não é que alguém troque a sua intenção de voto", explica Gustavo Cardoso. O objetivo é criar dúvidas às pessoas e que "essas dúvidas as levem a abandonar um candidato e, se possível, a abandonar todos os políticos porque são todos iguais".

Mas "os utilizadores portugueses da Internet estão altamente preocupados com o risco de desinformação", segundo o estudo.

Mais de 71 por cento dos portugueses têm a preocupação de tentar distinguir "o que é verdadeiro do que é falso" na Internet. E, considerando na menor credibilidade que deposita nas redes sociais, na maior confiança nos media tradicionais e na preocupação com a questão da desinformação, o "risco de disseminação da desinformação" em Portugal pode ser reduzido.
Campanha de WhatsApp sem efeito em Portugal
Contrariamente ao que aconteceu, por exemplo no Brasil, o WhatsApp "não teve efeito" na campanha eleitoral para as legislativas de 2019, apesar de o MediaLab pretender continuar a estudar o fenómeno.

Tanto o Facebook Messenger como o WhatsApp têm crescido rapidamente no contexto português. Contudo, os investigadores consideram que o grau de discussão pública nos grupos, através destas aplicações, foi quase nulo.

Gustavo Cardoso explica esse fenómeno argumentando que "o WhatsApp ainda não foi apropriado pelos portugueses como ferramenta de distorção e propaganda em termos de campanha eleitoral".
Esta aplicação ainda não é, frisou, "uma ferramenta para a desinformação e para propaganda em larga escala" no caso português.
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