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Falhas nos serviços eletrónicos favorecem a abstenção
Eleitores por todo o país aguardavam hoje à tarde em longas filas, com cartão de cidadão na mão, para obter um novo número de recenseamento, que, em alguns casos, sofreu alterações desde as últimas eleições. O problema foi agravado pelas falhas nos serviços eletrónicos disponibilizados pelo Governo para facilitar o processo. Face à demora e à falta de informações, algumas pessoas terão mesmo desistido de votar.
No Liceu Camões, em Lisboa, cerca de 50 pessoas aguardaram pelo menos meia hora, de cartão de cidadão em punho, para conhecer o novo número de eleitor
Um dos eleitores, João Malha, contou à agência Lusa que, após se dirigirem às mesas de voto correspondentes ao número de recenseamento das eleições anteriores (as autárquicas de 2009), os eleitores não viam o seu nome e número de identidade coincidirem e eram, assim, encaminhados para um posto de atendimento da Junta de Freguesia.
"Várias pessoas desistiram de votar""Estava uma fila enorme, estive ali cerca de meia hora à espera. Ainda por cima o sistema estava em baixo, o que fez com que apenas uma senhora fosse consultando, eleitor a eleitor, um caderno eleitoral", descreveu.
João Malha viu ainda "várias pessoas desistirem de votar, porque não estiveram para esperar".
Noutro local de Lisboa, na Escola Básica das Laranjeiras,a situação repetiu-se. A eleitora Ana Aleixo disse à Lusa que depois de ter aguardado na fila da mesa de voto correspondente ao seu número de eleitor habitual, foi-lhe dito que o número não coincidia e que teria de aguardar numa nova fila para conhecer o novo número.
"Tal como aconteceu comigo, estava a acontecer a muita gente que tinha cartão de cidadão. Tinham de se dirigir a um posto de atendimento para conhecer o novo número", disse.
Ana Aleixo já tinha votado nas eleições anteriores com o cartão de cidadão e não tinha tido este problema.
Sistemas informáticos "em baixo""Está um alvoroço, uma grande confusão, as pessoas estão perdidas, principalmente as mais velhas, e ninguém ajuda a orientação", disse Ana Aleixo.
Em Oeiras também há filas. Segundo disse à Lusa um dos membros de uma mesa de voto, a situação no concelho agrava-se, porque os membros da mesa de voto dirigem os eleitores para o portal do cidadão ou a acederem ao serviço de SMS, sistemas que estão em baixo.
O mesmo comportamento foi adotado pelos membros das mesas de voto na Junta de Freguesia de Benfica em Lisboa.
Luís Ferreira contou à Lusa que por ter recorrido ao serviço de SMS 3838 e não ter obtido resposta, se dirigiu à Junta a fim de obter o novo número de eleitor e votar.
"As filas eram enormes e no local não conseguem ajudar as pessoas, porque a maneira de obter os números é acedendo ao site", disse.
Já Ana Cunha recebeu por SMS o número de eleitor e freguesia onde deveria votar, já que mudou de residência há seis meses, mas quando chegou à Escola Secundária de Miraflores, em Algés, foi-lhe dito que não constava dos cadernos eleitorais.
"Voltei a enviar mensagem e não recebi resposta. Tentei aceder ao portal e está sempre em baixo. As filas estão enormes", disse.
Na margem sul do Tejo, em Almada, houve eleitores a quem só mudaram de número de recenseamento e viram ainda a sua secção de voto alterada, sendo obrigados a dirigirem-se a outro local de voto, comprovou a Lusa no local.
Um eleitor, que nas autárquicas tinha votado com cartão de cidadão na Escola da Charneca da Caparica, foi informado, naquela escola, que além do novo número, tinha de se dirigir à Escola Básica Integrada da Caparica.
Em Setúbal, Viana do Castelo, Odivelas e Porto há também relatos de situações semelhantes.
Na maior freguesia do país, Algueirão, Mem Martins, o presidente da junta local disse que centenas de pessoas não puderam votar devido à alteração do número eleitor que consta do cartão do cidadão.
Dezenas de reclamações
Manuel do Cabo afirmou que desde manhã centenas de pessoas se têm deslocado à junta para obterem o número de eleitor e saber qual a sua mesa de voto, alegando que ao tirar o cartão do cidadão este número foi alterado.
O autarca adiantou que este procedimento se tornou moroso, devido às dificuldades do serviço da junta para aceder aos portais oficiais de informações.
"As pessoas já assinaram dois livros de reclamações (cerca de 50 queixas). Lamento esta situação, mas isto podia ser evitado se houvesse consciência para não deixar tudo para a última da hora", criticou.
Mem Martins é a maior freguesia do país, com cerca de 130 mil moradores e 50 mil eleitores.
Várias pessoas disseram à Agência Lusa que foram impedidas de votar porque o número de eleitor foi alterado depois de terem aderido ao cartão de cidadão.
José Faria adiantou, pelas 16:30, que desde hoje de manhã estava a tentar votar
"Nas mesas de voto disseram-me que o meu número de eleitor mudou quando tirei o cartão de cidadão", disse.
Carlos Figueira mostrou à Agência Lusa o novo número de eleitor atribuído na Junta de Freguesia.
"Há mais de 20 anos que tinha o mesmo número de eleitor. Agora quando tirei o cartão de cidadão atribuíram-me outro, sem me dizerem nada", notou.
Situação vai aumentar a abstençãoConfrontado pela agência Lusa sobre se esta situação iria aumentar a abstenção, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições Nuno Godinho de Matos, disse que "é claro que vai aumentar, ninguém pode dizer quanto é que vai aumentar de forma científica, mas claro que aumenta".
"Ainda por cima [os problemas] têm um efeito de descontentamento genérico, as pessoas ficam revoltadas e zangadas, dizem que é tudo a mesma choldra, isto não presta, nada funciona", lamentou Godinho de Matos.
Questionado sobre de que maneira se estaria a tentar resolver a situação, para que as pessoas que não conseguem votar o possam fazer, o porta-voz da CNE lembrou que soluções como alargar o horário de encerramento das urnas "não são permitidas por lei".
Segundo Godinho de Matos, o problema com os novos números de eleitor dos cidadãos com cartão de cidadão em vez de bilhete de identidade deve-se a uma "alteração no significado no código postal" e "não com a mudança de residência".
"Há imensas pessoas que não mudaram de residência, mas limitaram-se a obter o cartão de cidadão que por força do código postal ou porque antes não tinham código postal, ou porque agora puseram os últimos três dígitos, ou por qualquer uma dessas razões, passam por ter um novo numero de cidadão eleitor", explicou.
O porta-voz disse que "esse novo número é distribuído pelas juntas de Freguesia competente sobre a área de residência declarada no cartão de eleitor e depois distribuído por secções de voto. Só que para se votar tem de se reunir as duas informações. Mas como o sistema está em baixo não se consegue saber".
"Como o sistema não aguenta, a procura que está a decorrer bloqueia", afirmou, acrescentando que "neste momento em rigor é isto que se está a passar, o sistema não está a debitar informação".
De acordo com o porta-voz da CNE, estão técnicos a "suar e a trabalhar muitíssimo" para tentar resolver o problema.
Diretor-geral diz que não houve alteração de procedimentosQuestionado sobre a questão, o diretor-geral da Administração Interna garantiu que não houve qualquer alteração de procedimento relativamente às últimas eleições e reforçou o apelo a que os cidadãos recorram aos serviços disponibilizados para saberem qual a sua mesa de voto.
"Não há nenhuma alteração relativamente ao que se passou no ano passado. Os casos que se verificaram no ano passado terão sido exatamente idênticos aos que se estão a passar este ano porque não houve nenhuma alteração procedimental", afirmou Paulo Machado em declarações à Lusa.
Vários eleitores viram hoje os seus números de recenseamento alterados, sem aviso prévio, nas mesas de voto de escolas da Grande Lisboa, tendo que esperar em longas filas para conhecer o novo número e conseguir votar, mas o diretor-geral da Administração Interna sublinhou que "não deve associar-se essas situações ao cartão do cidadão, porque uma coisa não tem que ver com a outra".
Segundo Paulo Machado, "o quadro geral é o seguinte: uma pessoa que nunca mudou de residência, mesmo que tenha obtido o cartão do cidadão não perdeu a sua filiação à mesa onde se encontrava", disse.
O responsável admite que "algumas pessoas podem ter mudado de residência e não foram confirmar o seu número de eleitor", salientando que "é outra circunstância que não depende da Direção-geral da Administração Interna, mas da organização das mesas de voto, que compete às freguesias".
"Imagine que a partição eleitoral [divisão dos eleitores por mesas de voto] deixou de se fazer de 1.500 em 1.500 e se passou a fazer de 2.500 em 2.500 ou de 500 em 500, então é possível que essa situação possa ter ocorrido", afirmou.
Paulo Machado reforçou que os eleitores que possuem o Bilhete de Identidade e que não saibam qual é a sua mesa de voto podem recorrer ao serviço sms 3838 - bastando escrever RE (espaço) n de Bilhete de Identidade (espaço) AAAAMMDD (ano de nascimento), obtendo assim a indicação da freguesia onde votam e seu número de eleitor.
Os eleitores podem ainda recorrer à linha telefónica com o número 808206206 ou consultar o Portal do Eleitor, cujo endereço é www.portaldoeleitor.pt, introduzindo os mesmos dados que na sms.
Um dos eleitores, João Malha, contou à agência Lusa que, após se dirigirem às mesas de voto correspondentes ao número de recenseamento das eleições anteriores (as autárquicas de 2009), os eleitores não viam o seu nome e número de identidade coincidirem e eram, assim, encaminhados para um posto de atendimento da Junta de Freguesia.
"Várias pessoas desistiram de votar""Estava uma fila enorme, estive ali cerca de meia hora à espera. Ainda por cima o sistema estava em baixo, o que fez com que apenas uma senhora fosse consultando, eleitor a eleitor, um caderno eleitoral", descreveu.
João Malha viu ainda "várias pessoas desistirem de votar, porque não estiveram para esperar".
Noutro local de Lisboa, na Escola Básica das Laranjeiras,a situação repetiu-se. A eleitora Ana Aleixo disse à Lusa que depois de ter aguardado na fila da mesa de voto correspondente ao seu número de eleitor habitual, foi-lhe dito que o número não coincidia e que teria de aguardar numa nova fila para conhecer o novo número.
"Tal como aconteceu comigo, estava a acontecer a muita gente que tinha cartão de cidadão. Tinham de se dirigir a um posto de atendimento para conhecer o novo número", disse.
Ana Aleixo já tinha votado nas eleições anteriores com o cartão de cidadão e não tinha tido este problema.
Sistemas informáticos "em baixo""Está um alvoroço, uma grande confusão, as pessoas estão perdidas, principalmente as mais velhas, e ninguém ajuda a orientação", disse Ana Aleixo.
Em Oeiras também há filas. Segundo disse à Lusa um dos membros de uma mesa de voto, a situação no concelho agrava-se, porque os membros da mesa de voto dirigem os eleitores para o portal do cidadão ou a acederem ao serviço de SMS, sistemas que estão em baixo.
O mesmo comportamento foi adotado pelos membros das mesas de voto na Junta de Freguesia de Benfica em Lisboa.
Luís Ferreira contou à Lusa que por ter recorrido ao serviço de SMS 3838 e não ter obtido resposta, se dirigiu à Junta a fim de obter o novo número de eleitor e votar.
"As filas eram enormes e no local não conseguem ajudar as pessoas, porque a maneira de obter os números é acedendo ao site", disse.
Já Ana Cunha recebeu por SMS o número de eleitor e freguesia onde deveria votar, já que mudou de residência há seis meses, mas quando chegou à Escola Secundária de Miraflores, em Algés, foi-lhe dito que não constava dos cadernos eleitorais.
"Voltei a enviar mensagem e não recebi resposta. Tentei aceder ao portal e está sempre em baixo. As filas estão enormes", disse.
Na margem sul do Tejo, em Almada, houve eleitores a quem só mudaram de número de recenseamento e viram ainda a sua secção de voto alterada, sendo obrigados a dirigirem-se a outro local de voto, comprovou a Lusa no local.
Um eleitor, que nas autárquicas tinha votado com cartão de cidadão na Escola da Charneca da Caparica, foi informado, naquela escola, que além do novo número, tinha de se dirigir à Escola Básica Integrada da Caparica.
Em Setúbal, Viana do Castelo, Odivelas e Porto há também relatos de situações semelhantes.
Na maior freguesia do país, Algueirão, Mem Martins, o presidente da junta local disse que centenas de pessoas não puderam votar devido à alteração do número eleitor que consta do cartão do cidadão.
Dezenas de reclamações
Manuel do Cabo afirmou que desde manhã centenas de pessoas se têm deslocado à junta para obterem o número de eleitor e saber qual a sua mesa de voto, alegando que ao tirar o cartão do cidadão este número foi alterado.
O autarca adiantou que este procedimento se tornou moroso, devido às dificuldades do serviço da junta para aceder aos portais oficiais de informações.
"As pessoas já assinaram dois livros de reclamações (cerca de 50 queixas). Lamento esta situação, mas isto podia ser evitado se houvesse consciência para não deixar tudo para a última da hora", criticou.
Mem Martins é a maior freguesia do país, com cerca de 130 mil moradores e 50 mil eleitores.
Várias pessoas disseram à Agência Lusa que foram impedidas de votar porque o número de eleitor foi alterado depois de terem aderido ao cartão de cidadão.
José Faria adiantou, pelas 16:30, que desde hoje de manhã estava a tentar votar
"Nas mesas de voto disseram-me que o meu número de eleitor mudou quando tirei o cartão de cidadão", disse.
Carlos Figueira mostrou à Agência Lusa o novo número de eleitor atribuído na Junta de Freguesia.
"Há mais de 20 anos que tinha o mesmo número de eleitor. Agora quando tirei o cartão de cidadão atribuíram-me outro, sem me dizerem nada", notou.
Situação vai aumentar a abstençãoConfrontado pela agência Lusa sobre se esta situação iria aumentar a abstenção, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições Nuno Godinho de Matos, disse que "é claro que vai aumentar, ninguém pode dizer quanto é que vai aumentar de forma científica, mas claro que aumenta".
"Ainda por cima [os problemas] têm um efeito de descontentamento genérico, as pessoas ficam revoltadas e zangadas, dizem que é tudo a mesma choldra, isto não presta, nada funciona", lamentou Godinho de Matos.
Questionado sobre de que maneira se estaria a tentar resolver a situação, para que as pessoas que não conseguem votar o possam fazer, o porta-voz da CNE lembrou que soluções como alargar o horário de encerramento das urnas "não são permitidas por lei".
Segundo Godinho de Matos, o problema com os novos números de eleitor dos cidadãos com cartão de cidadão em vez de bilhete de identidade deve-se a uma "alteração no significado no código postal" e "não com a mudança de residência".
"Há imensas pessoas que não mudaram de residência, mas limitaram-se a obter o cartão de cidadão que por força do código postal ou porque antes não tinham código postal, ou porque agora puseram os últimos três dígitos, ou por qualquer uma dessas razões, passam por ter um novo numero de cidadão eleitor", explicou.
O porta-voz disse que "esse novo número é distribuído pelas juntas de Freguesia competente sobre a área de residência declarada no cartão de eleitor e depois distribuído por secções de voto. Só que para se votar tem de se reunir as duas informações. Mas como o sistema está em baixo não se consegue saber".
"Como o sistema não aguenta, a procura que está a decorrer bloqueia", afirmou, acrescentando que "neste momento em rigor é isto que se está a passar, o sistema não está a debitar informação".
De acordo com o porta-voz da CNE, estão técnicos a "suar e a trabalhar muitíssimo" para tentar resolver o problema.
Diretor-geral diz que não houve alteração de procedimentosQuestionado sobre a questão, o diretor-geral da Administração Interna garantiu que não houve qualquer alteração de procedimento relativamente às últimas eleições e reforçou o apelo a que os cidadãos recorram aos serviços disponibilizados para saberem qual a sua mesa de voto.
"Não há nenhuma alteração relativamente ao que se passou no ano passado. Os casos que se verificaram no ano passado terão sido exatamente idênticos aos que se estão a passar este ano porque não houve nenhuma alteração procedimental", afirmou Paulo Machado em declarações à Lusa.
Vários eleitores viram hoje os seus números de recenseamento alterados, sem aviso prévio, nas mesas de voto de escolas da Grande Lisboa, tendo que esperar em longas filas para conhecer o novo número e conseguir votar, mas o diretor-geral da Administração Interna sublinhou que "não deve associar-se essas situações ao cartão do cidadão, porque uma coisa não tem que ver com a outra".
Segundo Paulo Machado, "o quadro geral é o seguinte: uma pessoa que nunca mudou de residência, mesmo que tenha obtido o cartão do cidadão não perdeu a sua filiação à mesa onde se encontrava", disse.
O responsável admite que "algumas pessoas podem ter mudado de residência e não foram confirmar o seu número de eleitor", salientando que "é outra circunstância que não depende da Direção-geral da Administração Interna, mas da organização das mesas de voto, que compete às freguesias".
"Imagine que a partição eleitoral [divisão dos eleitores por mesas de voto] deixou de se fazer de 1.500 em 1.500 e se passou a fazer de 2.500 em 2.500 ou de 500 em 500, então é possível que essa situação possa ter ocorrido", afirmou.
Paulo Machado reforçou que os eleitores que possuem o Bilhete de Identidade e que não saibam qual é a sua mesa de voto podem recorrer ao serviço sms 3838 - bastando escrever RE (espaço) n de Bilhete de Identidade (espaço) AAAAMMDD (ano de nascimento), obtendo assim a indicação da freguesia onde votam e seu número de eleitor.
Os eleitores podem ainda recorrer à linha telefónica com o número 808206206 ou consultar o Portal do Eleitor, cujo endereço é www.portaldoeleitor.pt, introduzindo os mesmos dados que na sms.