Ferreira Leite acusa Sócrates de "asfixia democrática"

por RTP
Ferreira Leite não acredita no défice apresentado pelo Governo e deixa em aberto uma coligação com Paulo Portas RTP

A "asfixia democrática" é o principal problema da sociedade portuguesa. Esta é uma das acusações da líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, ao governo PS de José Sócrates deixada ontem à noite na Grande Entrevista da RTP. Mesmo assim a Presidente dos sociais-democratas diz que tal situação não a intimida nem a condiciona.

Manuela Ferreira Leite veio ontem à RTP acusar José Sócrates e o Governo socialista de terem criado em Portugal um clima de "asfixia democrática" considerando ser esse o principal problema da sociedade portuguesa no momento.

"Este tipo de ambiente que está a ser criado no país, e que só foi criado desde o 25 de Abril pelo Governo de José Sócrates, não me intimida nem me condiciona", referiu a líder do PSD em entrevista à jornalista Judite Sousa.

Ferreira Leite acabou por dar esta explicação após ter sido questionada sobre as recentes notícias de que alguns assessores do Presidente da República estariam a colaborar na elaboração do programa do PSD, notícia que depois foi realçada pelos deputados socialistas José Junqueiro e Vitalino Canas.

Sobre este assunto Ferreira Leite foi bem clara ao garantir que o programa social-democrata foi elaborado sem ter sido ouvido alguém a título pessoal, mas mostrou-se admirada pelos deputados socialistas considerarem isso mau, se tal tivesse acontecido.

Certo para a líder do PSD é que José Sócrates vai perder as próximas eleições e, por isso, o líder socialistas precisa agora de mostrar-se como vítima e daí os desencontros com a Presidência da República.

"O engenheiro Sócrates já percebeu que vai perder as eleições e está-se a armar em vítima. Era a crise, agora é o Presidente da República, a culpa não é do Governo, é sempre de outras entidades", considerou Ferreira Leite.

Défice nos 7 ou 8 por cento

Outra das revelações de Manuela Ferreira Leite na entrevista à RTP teve a ver com a sua certeza de que o défice do Estado estará muito acima dos valores revelados pelo Governo que ontem anunciou o valor de 5,9 por cento.

"Admito que é capaz de estar nos 7 ou 8 por cento", disse Ferreira Leite na Grande Entrevista da RTP.

Fora de causa no entender da líder do PSD está o de assumir "compromissos" em matéria de crescimento da economia, mas revelando estar disposta a incutir uma "nova política que trave a queda da economia".

Manuela Ferreira Leite considerou ainda que "não há condições para aumentar impostos", mas que pretender criar medidas para os impostos "que têm a ver com o custo da produtividade", como "taxa social única" e os "impostos sobre as empresas", em alguns casos baixem.

Coligação com Paulo Portas

Confrontada com a hipótese de ganhar as eleições sem maioria, Manuela Ferreira Leite considera que isso não será um problema já que no seu entender hoje existem condições para governar em minoria, mas salientou que no passado "nunca teve problemas" com o líder do CDS-PP, Paulo Portas.

O que estará posto de parte em qualquer circunstância é a hipótese de uma coligação com o PS de José Sócrates.

A entrevista serviu ainda para a líder do PSD explicar porque excluiu alguns militantes das listas de deputados e apoiou um ex-adversário para a liderança do partido, Pedro Santana Lopes, para a Câmara Municipal de Lisboa.

"Fui eu que disse categoricamente que não se podia misturar autárquicas e legislativas. Os candidatos a deputados são pessoas que assumem o compromisso de apoiar o Governo, o que significa partilhar e apoiar a política do Governo", explicou Ferreira Leite.

Já sobre a exclusão de Pedro Passos Coelho das listas do PSD, e sem nunca referir o seu nome, Ferreira Leite disse "ter dificuldade em compreender como é que uma pessoa que é contra uma política depois poderia ir para o Parlamento apoiar essa política".

Já sobre a entrada de Maria José Nogueira Pinto nas listas do PSD, Ferreira Leite esclareceu tratar-se de uma independente, a mesma explicação que deu para as recentes declarações do também independente Francisco Moita Flores, que anunciou que não iria votar no PSD nas legislativas, apesar de ter sido eleito presidente da Câmara de Santarém com o apoio dos sociais-democratas.

Quanto à inclusão nas listas de António Preto, que irá a julgamento em Setembro por suspeitas de fraude fiscal, a líder do PSD explicou apenas que "nunca se irá pronunciar sobre casos de justiça".

"Aquilo que seria para mim incómodo era eu violar um princípio que tenho estabelecido: quando a justiça se pronunciar eu pronunciar-me-ei", disse Ferreira Leite ao mesmo tempo que garantia que esta norma vale tanto para "amigos" como para "adversários políticos".

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