Ferreira Leite rejeita pressões na venda da rede fixa à PT
A líder do PSD respondeu às acusações do presidente da PT, sustentando que a venda da rede fixa a esta empresa concretizada em 2002 pelo Governo social-democrata, no qual exercia o cargo de ministra das Finanças, já estava decidida pelo anterior Governo de António Guterres. Henrique Granadeiro falou ainda de pressões do PSD que o afastaram da Lusomundo. Ferreira Leite ignora os factos e diz que se tal aconteceu o PSD "fez mal".
"Fiquei de facto muito surpreendido com as duas intervenções da senhora presidente do PSD. Primeiro com a sua preocupação da defesa dos accionistas da PT, pondo em causa o interesse de um negócio que não se fez e cujos termos não conhecia. Depois pelo receio de a PT poder vir a intervir na autonomia editorial de um grupo de comunicação social", declarou Henrique Granadeiro.
Em resposta ao chairman da PT, à margem do Fórum Portugal de Verdade, a líder do PSD apresentou outra versão do negócio, segundo a qual a venda da rede fixa estava decidida desde a altura em que governava o país o Executivo socialista de António Guterres.
"Isso não é verdade, pela simples razão de que o negócio da venda da rede fixa estava feito pelo PS quando eu cheguei ao Ministério das Finanças", sustentou a líder da Oposição, defendendo que "a decisão política dessa matéria não é minha, a decisão política é do Governo socialista do engenheiro Guterres".
De acordo com o líder da PT, a empresa teria adquirido a rede fixa por 365 milhões de euros num negócio que fazia parte do plano de Ferreira Leite para conter o défice português dentro do limite dos 3% imposto por Bruxelas, um negócio que na altura deu origem a uma acção da Comissão Europeia pelo facto de alegadamente o Estado português ter entregue a rede por adjudicação directa sem concurso, o que constituiria uma violação da directiva europeia da concorrência.
Manuela Ferreira Leite rejeita pressões
Numa reacção à acusação de Granadeiro de que teriam sido levado a cabo "tentativas de intervenção do Governo do PSD na Lusomundo Media", que em 2004 teriam originado a sua demissão da presidência executiva da subholding do grupo PT - a Lusomundo agrupava então TSF, DN, JN, 24horas e Tal&Qual, os meios de comunicação da operadora - a presidente do PSD disse apenas não ter memória de alguma vez pressionar alguém, admitindo que o seu partido "fez mal" se alguma vez no passado tentou interferir em linhas editoriais.
"Nunca me lembro de algum dia na vida ter feito pressões sobre quem fosse. Como nunca me submeti a pressões, tenho muita dificuldade em entender isso, porque quando nós somos submetidos a pressões com as quais não concordamos, então não executamos aquilo para que nos estão a pressionar", respondeu Ferreira Leite aos jornalistas a partir do hotel de Lisboa onde decorre a reunião dos sociais-democratas.
As acusações de Henrique Granadeiro seguem-se à suspeita levantada durante a semana passada por Ferreira Leite de que o negócio da PT com os espanhóis da Prisa, que detêm a Media Capital, que por sua vez é dona da TVI, escondesse uma tentativa de influenciar a linha editorial da estação, que o primeiro-ministro José Sócrates já admitiu ser hostil para com a sua governação.
Se o PSD pressionou "fez mal"
Garantindo aos jornalistas não saber a que tipo de pressões Granadeiro se referia, Ferreira Leite concedeu no entanto que a terem ocorrido tentativas por parte do PSD de influenciar linhas editoriais de jornais do grupo Lusomundo "tem de considerar que (o PSD) fez mal".
"Não é pelo facto de um dia nós termos feito alguma coisa mal que eu posso deixar de criticar outra coisa que é também feita mal", considerou a presidente do PSD, reiterando que o seu partido "se fez, fez mal, não devia ter feito".
O chairman da PT acusou ainda Manuela Ferreira Leite de pôr "em causa o interesse de um negócio que não se fez e cujos termos não conhecia", ao que a presidente social-democrata respondeu ter apenas lançado "alguma suspeita sobre qual é que era efectivamente o objectivo do negócio" depois de "o primeiro-ministro ter negado o seu conhecimento".
"O primeiro-ministro conhecia o negócio e disse que não conhecia. E isso, evidentemente, foi o que lançou as suspeitas", sublinhou a líder da Oposição, acrescentando que, "a despeito de o presidente da PT ter vindo dizer e fundamentar que o negócio era muito bom para a PT, o primeiro-ministro não permitiu que ele fosse adiante, portanto eu acho que o primeiro-ministro nunca poderia ter utilizado uma golden share para vetar alguma coisa muito bom para uma empresa".
"Há aqui alguma coisa que dá razão às dúvidas que tive", rematou Ferreira Leite.