"Governo pôs-se a jeito". Costa reconhece erros mas faz avaliação positiva de um ano de maioria

por Paulo Alexandre Amaral, Andreia Martins - RTP
Pedro A. Pina - RTP

No dia em que se assinala um ano desde as eleições legislativas que deram a maioria absoluta ao PS, o primeiro-ministro foi entrevistado na RTP e fez um balanço positivo dos meses de governação, ainda que reconhecendo que houve problemas “graves” e que vários casos abalaram o executivo.

Nesta entrevista conduzida por António José Teixeira, o primeiro-ministro considerou que o primeiro ano de maioria absoluta mostrou como o executivo conseguiu ser dialogante, desde logo com o exemplo do acordo de concertação social. “Conseguimos vários acordos muito importantes”, frisou.

Os “casos e casinhos” que envolveram vários membros do executivo foram incontornáveis e António Costa reconheceu que houve erros. “O Governo pôs-se a jeito, cometeu erros”, sublinhando no entanto que "o maior tropeção que enfrentámos este ano foi a guerra desencadeada pela Rússia na Ucrânia e a consequência brutal que teve no país", em particular a inflação.
"Nenhum país nem nenhum cidadão podem estar satisfeitos depois de um ano com 7,8% de inflação", afirmou António Costa, assegurando que o Governo está nessa questão ao lado das pessoas para mitigar os impactos destes números.

O primeiro-ministro falou, nesta entrevista à RTP, da polémica que levou à demissão do ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.

Admitindo que a questão do pagamento à administradora da TAP apanhou de surpresa o próprio ex-governante, o primeiro-ministro sublinha que o essencial em relação à transportadora aérea é que o Governo teve de intervir para a TAP não fechar.
"Há um programa de restruturação que está a ser executado e terá de ser fechado com a venda da TAP", vincou.

Ainda sobre este tema, António Costa considerou que “nenhum ministro pode validar uma decisão tomada numa rede social”, como o próprio Pedro Nuno Santos reconheceu a propósito da autorização para a polémica indemnização de 500 mil euros.

Passando a outro caso polémico, desta feita o que envolve o atual ministro das Finanças, António Costa não põe em causa a legitimidade de Fernando Medina para continuar no Governo.
António Costa lembra que o ministro e ex-autarca de Lisboa "não foi ouvido nem sequer acusado" e nem o facto de ser arguido deverá, nas palavras do chefe do Governo, condicionar a função de Medina como membro do Governo face ao processo de investigação que está a decorrer na Câmara de Lisboa.

O facto de haver uma acusação contra um membro do Governo tanto pode, como não, levar à sua saída. O primeiro-ministro não adotou uma posição inequívoca no caso, até porque "as situações dependerão sempre de caso para caso", considerou.

António Costa reforçou ainda que “ninguém está acima da lei” e que um governante não deixa de ser investigado por estar nessa condição, garantiu António Costa.

Acerca do questionário aprovado em Conselho de Ministros para inquirir potenciais membros do Governo, aquele "junta um conjunto de respostas que os governantes que em funções já deram", garante António Costa.
O primeiro-ministro salienta que as questões foram discutidas em Conselho de Ministros. "Cada um dos ministros já se colocou a si próprio, e entre nós, as questões daquele questionário", frisou.

"A ideia que tenho é que o Presidente da República conhecia o questionário e que lhe parecia um bom sistema", acrescentou ainda.

Relativamente ao descontentamento que está a servir de combustível às greves e manifestações dos professores, António Costa lembra que "em 2018 acabámos com o congelamento das carreiras e o relógio esteve sempre a contar, não congelámos com a Covid, não congelámos com a guerra".
No entanto, o primeiro-ministro diz compreender “a frustração dos professores” e dá a garantia que "a negociação com os professores está em curso", assegurando que o Governo está a tentar melhorar as condições das suas carreiras, nomeadamente no combate à precariedade e fixação dos docentes às escolas.

Em relação à economia, António Costa espera que a situação externa dos parceiros da União Europeia melhore, o que fará com que o país acompanhe esse bom clima, e vê também esses índices a refletir-se na queda do desemprego.

Na entrevista à RTP, o primeiro-ministro anunciou um Conselho de Ministros extraordinário dedicado à habitação, marcado para 16 de fevereiro.
Pretende-se aprovar várias medidas, nomeadamente na disponibilização de mais solos para a construção de habitação e ainda a criação de um forte incentivo à construção de habitação por parte de privados.

De acordo com António Costa, este encontro de ministros pretende também criar incentivos para quem é proprietário de habitação colocar as casas no mercado de arrendamento e apoios para os jovens acederem com mais facilidade ao aluguer das casas.
Face aos indícios deixados por Marcelo Rebelo de Sousa, mormente quando aponta que "a maioria absoluta não é um escudo político ilimitado", o que poderia indicar no sentido de uma dissolução da Assembleia da República em caso de mau resultado socialista nas Eleições Europeias, António Costa limitou-se a dizer que o executivo continua a trabalhar dia-a-dia.

“Um governo tem de provar todos os dias aquilo que vale", concluiu.
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