Governo. PS critica continuidade da ministra da Saúde: "É uma bomba-relógio"

Em dia de posse do novo Executivo, o PS não poupa nas críticas à composição do Governo liderado por Luís Montenegro e insiste que a decisão de manter Ana Paula Martins à frente da pasta da Saúde é um erro que vai ter consequências para o país.

João Alexandre - Antena 1 /
"Nós achamos que, a bem do Serviço Nacional de Saúde, a bem do país, deveria existir essa mudança. Agora, se esperávamos que o primeiro-ministro iria alterar o ministro da Saúde, essa expectativa não existia. Aliás, vimos isso sempre ao longo do tempo. Achamos que é um erro e que, mais tarde ou mais cedo, o país e os portugueses vão pagar pelo facto de termos esta ministra da Saúde, que é uma bomba-relógio", disse, em declarações à Antena 1, o deputado Pedro Vaz, no programa Entre Políticos.

Mas as críticas do dirigente socialista estendem-se a outras escolhas da AD, desde logo, sobre a decisão de criar um Ministério da Reforma do Estado para o qual foi convidado presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Gonçalo Saraiva Matias, que fica também como ministro adjunto.
"No passado assistimos a várias tentativas por parte de governos da direita e, quando dizem que é preciso fazer grandes reformas - que não se diz o que é, que é preciso acabar com a burocracia, nomeadamente em matéria de licenciamentos -, fujam todos. O que é isto de desburocratizar os licenciamentos? É acabar com o impacto ambiental? É fazer alterações legislativas nas autarquias que estão afundadas?", questionou Pedro Vaz, que insiste: "De forma encapotada, este Governo está a preparar, sim, de facto, a redução do Estado, mas da pior maneira".
PSD aponta oito anos de governação do PS: "Não houve reformas importantes"
Miguel Guimarães, deputado do PSD, considera que não há motivos para o PS criticar o trabalho feito durante a liderança da AD e defende que os socialistas ainda não refletiram sobre quase uma década de governação de António Costa.

"Como é que um deputado do PS ainda não percebeu o que é que aconteceu durante 8 anos do Governo do Partido Socialista. Não percebeu o que é que aconteceu na educação, na imigração, na habitação ou na saúde? Ou seja, não percebeu que não houve reformas importantes que são necessárias para nós começarmos a recuperar essas matérias", respondeu.
O antigo bastonário da Ordem dos Médicos defendeu ainda a decisão de manter Ana Paula Martins como ministra da Saúde, considerando que se trata da pessoa certa para dar corpo ao programa político da Aliança Democrática.

"Teve e tem um plano de emergência e transformação que, obviamente, não se consegue concretizar em apenas 11 meses. Eu percebo o desespero do PS que, em oito anos, em vez de ter introduzido melhorias na saúde, a saúde foi piorando. Queria que em 11 meses estivessem resolvidos os problemas todos? Mas houve muitos, muitos indicadores positivos", afirmou.

Em declarações na Antena 1, Miguel Guimarães argumentou com alguns números, dando conta de que, no caso das cirurgias oncológicas, ou seja, dos doentes que estavam à espera de uma cirurgia oncológica, a redução foi de 52 para 32 dias: "Uma redução muito significativa".

"Neste momento, estão praticamente todos, ou uma grande parte, a imensa maioria, a serem operados dentro daquilo que são chamados tempos máximos de resposta garantidos. Reduziu-se em cerca de 20 por cento o tempo de espera no serviço de urgência, entre muitas outras situações", concluiu o deputado.
CDS-PP satisfeito com novo Governo e avisa: "AD não precisa da IL para fazer reforma"
Pelo CDS-PP, Paulo Núncio acompanhou o otimismo do deputado do PSD quanto às mudanças no Governo e antecipou uma "maior eficiência" do Estado durante a liderança de Luís Montenegro.

"Demonstra a prioridade que o governo da AD tem na reforma e na modernização do Estado", disse o líder parlamentar centrista, em declarações à Antena 1, onde assegurou ainda que a coligação PSD/CDS-PP não precisa de qualquer tipo de pressão liberal para avançar com reformas: "A AD não precisa da Iniciativa Liberal para fazer a reforma e a modernização do Estado. Isso está no espírito de cada partido que compõe a coligação".
O líder parlamentar do CDS-PP acusa ainda a esquerda de preferir que o Estado seja "pesado, ineficiente, omnipresente" e que com "cada vez piores serviços aos cidadãos".

"O que nós queremos é agilizar o Estado, é que o Estado preste o melhor serviço aos cidadãos, que se modernize, que seja um Estado mais eficiente", sublinhou Paulo Núncio, que afirmou que a proposta de Governo para a nova legislatura é segura: "Um Governo sólido e competente, que mantém um ímpeto reformista".
BE compara novo Ministério à estrutura DOGE de Elon Musk nos EUA: "É cortar a eito"
O BE manifesta-se preocupado com as escolhas para o novo Governo e dá como exemplo o Ministério da Reforma do Estado, que vai ser liderado por Gonçalo Saraiva Matias.

"Quando ouvi a notícia da criação da Reforma do Estado, confesso que o que pensei foi: Já percebi porque é que Rui Rocha se demitiu. Vai integrar o Governo da AD com uma motosserra. É evidente que um Ministério com uma designação tão vaga e sem uma explicação que seja consistente nos remete para o DOGE de Elon Musk, ou seja, para a ideia de cortar a eito", disse Joana Mortágua, numa referência a ao Departamento de Eficiência Governamental criado pela nova administração norte-americana.
A dirigente e ex-deputada bloquista refere ainda que Iniciativa Liberal foi dos partidos que "mais insistiu que era preciso cortar gastos e ineficiências" e diz que a AD tem de detalhar sobre a intenção de ser mais eficiente.

"É uma questão de aplicar a inteligência artificial à Administração Pública? Aplicar à Segurança Social o mesmo tipo de processo digital e digitalização que foi aplicada às finanças? Duvido que seja preciso um ministério para isso. Acho que são processos que devem acontecer dentro dos próprios ministérios, sob as tutelas desses ministérios", salientou Joana Mortágua, que apontou também críticas à decisão de manter a ministra da Saúde no cargo: "É inexplicável. Não há qualquer razão para premiar a incompetência".
PUB