Governo volta a falar em moção de confiança e acusa oposição de estar empenhada em "desgastar" Montenegro

A Assembleia da República debate e vota, esta quarta-feira, a moção de censura do PCP ao Governo - a segunda que Luís Montenegro enfrenta no espaço de 12 dias por causa da empresa familiar que detém. A moção tem chumbo garantido, visto o PS ter anunciado que não vai viabilizá-la, embora queira uma comissão de inquérito para investigar documentos da Spinumviva e apurar se o primeiro-ministro continuou em funções na consultora e o tipo de serviços prestados. Entretanto, o Governo voltou a acenar com uma moção de confiança e o PSD acusou os socialistas de não quererem respostas sobre o património e rendimentos de Montenegro, pretendendo apenas "desgastar a imagem" do líder do Executivo.

RTP /
António Cotrim - Lusa

Depois de o PS ter anunciado, no sábado, que não viabilizava a moção de censura do PCP ao Governo, a possibilidade de o Executivo apresentar ao Parlamento uma moção de confiança caiu por terra. Mas na reunião da conferência de líderes, o ministro Pedro Duarte avisou que ainda poderia avançar com a moção, em resposta à decisão socialista de pedir a realização de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) à questão da empresa familiar de Luís Montenegro.

Os sociais-democratas querem saber se é legal pedir essa CPI ao caso a envolver o primeiro-ministro e Alexandre Poço defendeu que os socialistas estão a ir além do aceitável. Poço, vice-presidente da bancada do PSD e um dos vice-presidentes do partido, afirmou mesmo que está a ser feita uma campanha para "assassinar o caráter de Luís Montenegro".

Segundo Alexandre Poço, o Partido Socialista não avança com uma moção de censura porque quer apenas “desgastar a imagem” do primeiro-ministro.

"É normal exigir escrutínio", disse no 360 da RTP3. "Aquilo que eu penso que não é normal é nós avançarmos numa campanha que visa assassinar o caráter de um homem".

A sessão parlamentar desta tarde, considerou ainda, "será mais um momento de confronto entre o Governo e as oposições". Apontando dedos ao PS, o social-democrata acrescentou que "quem está a pedir esclarecimentos não quer esclarecimentos, quer é arrastar o tema por qualquer motivo político". Isto é, para "tentar desgastar a imagem do primeiro-ministro".

Já sobre o facto de o ministro dos Assuntos Parlamentares ter admitido hoje, na reunião de líderes parlamentares, que o Governo pode avançar com uma moção de confiança, Alexandre Poço sublinha que essa é uma possibilidade que diz respeito ao Executivo.

Também o líder parlamentar do PSD criticou o secretário-geral do PS, repetindo que Pedro Nuno Santos não querer nem respostas, nem a queda do Governo, ao avançar com uma comissão parlamentar. O único objetivo do líder socialista, segundo Hugo Soares, é “achincalhar”.

Numa entrevista na SIC Notícias, Hugo Soares declarou que a comissão parlamentar de inquérito pedida pelo PS “responderá a todas as perguntas”, apesar de poder recusar-se a estar presencialmente na mesma. Mas o líder parlamentar do PSD afirma que o objetivo deste instrumento não será obter esclarecimentos.

“Pedro Nuno Santos não quer respostas a nada. Quer achincalhar, achincalhar, achincalhar”, afirmou na terça-feira à noite.

O líder socialista, acrescentou, não pretende a queda do Governo. Caso contrário, “votava a favor da moção de censura” apresentada pelo PCP – o que Pedro Nuno já anunciou que não fará.

"Deve-se sempre desconfiar dos desconfiados. Quem desconfia, normalmente, não é sério", apontou Hugo Soares. "O país está a assistir incrédulo a esta fantochada política que alguns estão a criar".

Quanto à reunião com o presidente da República, o líder parlamentar do PSD admitiu que Luís Montenegro não estava obrigado a ligar a Marcelo Rebelo de Sousa, antes de realizar qualquer declaração ao país.

"Quem governa é o Governo. (...) O senhor presidente da República e o primeiro-ministro não devem, os dois, imiscuírem-se dos poderes uns dos outros"
, referiu Hugo Soares.
Também na terça-feira foram avançadas novas informações quanto ao caso que envolve Luís Montenegro, revelando que o primeiro-ministro está a viver num hotel de Lisboa com a família enquanto espera por obras na casa que comprou.

Um segundo apartamento na Lapa foi pago com um cheque de 380 mil euros da conta do BCP que o primeiro-ministro declarou à Entidade da Transparência. Este cheque consta da própria escritura feita em novembro de 2024, altura em que Montenegro decidiu comprar um andar no mesmo prédio onde já tinha adquirido um outro antes, em nome dos filhos.

Atualmente, o primeiro-ministro está hospedado no Hotel Epic Sana, enquanto decorrem as obras para juntar os dois apartamentos. Hotel que é escolha habitual do PSD para as noites eleitorais e cuja diária sem desconto ronda, segundo o site oficial, os 300 euros.

A notícia da CNN Portugal adianta que Montenegro pernoita no hotel porque se encontra a fazer obras nos dois apartamentos que comprou na Travessa do Possolo, na Lapa, perto da sede do partido. A informação foi confirmada pelo líder parlamentar, que alegou que o assunto é privado e criticou a mediatização do caso.

“Como é evidente, o primeiro-ministro está a viver num hotel porque tem a casa em obras e há de pagar o serviço”, esclareceu Hugo Soares.

“O primeiro-ministro tem a casa em obras e tem de pagar um hotel porque não tem onde dormir”, expôs o líder parlamentar do PSD. “Se calhar queriam que fosse para uma pensão ou para um alojamento local”.
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