"Grândola, Vila Morena" abafa discurso de Relvas em Gaia

por RTP
“Podemos cantar todos”, reagiu Miguel Relvas, depois de ser interrompido por manifestantes Fotos: José Coelho, Lusa


Foi a entoar “Grândola, Vila Morena” e a clamar “demissão” que um grupo de duas dezenas de pessoas interrompeu, na última noite, uma intervenção de Miguel Relvas no Clube dos Pensadores, em Gaia. Rindo-se, o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares ainda tentou acompanhar o coro, mas só retomaria o discurso após os manifestantes deixarem a sala. Questionado, durante o debate, sobre o seu currículo académico, a sua integridade e mesmo sobre “o que é preciso” para que o Executivo de Pedro Passos Coelho caia, o governante quis afiançar que a legislatura é para levar até 2015.

Miguel Relvas discursava há cerca de cinco minutos quando um grupo de manifestantes se levantou, empunhou cartazes com palavras de ordem como “políticas de direita, basta!” e começou a cantar “Grândola, Vila Morena”; à semelhança do que já acontecera a meio do último debate quinzenal na Assembleia da República, quando o mesmo tema emblemático da Revolução de 25 de Abril de 1974 foi entoado a partir das galerias por iniciativa do movimento “Que se lixe a troika”, interrompendo o primeiro-ministro.
Após o debate, Relvas disse ter vivido “uma noite normal, igual a tantas outras”. “Já sabia que iria haver manifestações organizadas. Mas é a vida, temos que estar preparados para isso”, acrescentou.


O ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares ainda procurou falar aos manifestantes. E tentou mesmo cantar. Pelo meio foi ouvindo gritos de “gatunos”, “demissão” e “fascistas”. Já depois da ação de protesto, Relvas diria: “Nestas circunstâncias não me desencorajam. Não tenho qualquer tipo de preconceito”.

O ministro enfrentaria, ao longo da noite, o “mais difícil” dos debates já promovidos pelo Clube dos Pensadores, nas palavras do organizador da iniciativa, Joaquim Jorge, citado pela agência Lusa. Relvas foi confrontado com perguntas – e críticas – sobre o seu percurso universitário, a sua integridade, a frota de automóveis do Governo, a assistência financeira à banca e as condições do Executivo de coligação para se manter em funções até ao termo da legislatura.

Sempre a sorrir, o governante devolveria que “a questão de o Governo se ir embora é uma opção que os portugueses vão ter em 2015”: “Essa questão estará na mesa nessa altura e os portugueses vão saber se querem continuar com um caminho que lhes está a resolver parte dos problemas, ou se querem ter mais do mesmo”.

“Nunca dissemos que resolveríamos o problema do país no primeiro ou no segundo mandato. O que pedimos é: acreditem que daqui a três anos, em 2015, quando terminarmos o mandato, Portugal estará melhor do que está hoje”, reforçou.
“Coligação de boa saúde”

Já no epílogo do debate, depois da manifestação, Relvas voltaria à carga com a ideia de que o Governo terá condições para subsistir, ao advogar que “a coligação tem sabido resistir a todas as dificuldades”. E que “o CDS está de corpo e alma neste Governo”.



“Num momento tão difícil como este, o pior que nos podia acontecer seria a ausência de estabilidade política e este Governo só pode cair se a coligação não se entendesse. Mas a coligação está de boa saúde e recomenda-se”, insistiu, para estimar que “Portugal vai sair da crise” e “vencer no contexto europeu”.

Questionado sobre o que o Governo espera da próxima avaliação do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia, Miguel Relvas antecipou que será “naturalmente” positiva: “Portugal este ano já foi aos mercados. A grande questão que se coloca é a de que desta avaliação saia mais uma situação em que se demonstre que estamos a fazer o caminho das reformas necessárias e que adiámos durante a última década. Sabemos que é um caminho de esforço, mas vamos conseguir”.

O ministro dos Assuntos Parlamentares justificaria ainda as ajudas aos bancos com o argumento de que um colapso do sistema financeiro daria lugar à destruição do “modelo de sociedade que fomos construindo ao longo das últimas décadas”. “A preocupação da Europa e do Banco Central Europeu, como aliás os americanos também o tiveram, foi o medo de um processo de contaminação sistémico sobre todo o sistema financeiro”, enfatizou.

No decurso do aceso debate do Clube dos Pensadores, Relvas ainda encontraria espaço para apontar uma farpa ao PS e a António José Seguro, afirmando que “a função mais difícil e mais perigosa da vida política em Portugal é a de líder da Oposição, porque os problemas nascem logo dentro de casa”.

“Um líder da Oposição que tem problemas internos é um líder mais frágil para poder colaborar e poder chegar a entendimentos com os governos”, rematou.
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