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Imprensa internacional mostra preocupação

por RTP
José Sena Goulão, Lusa

O famigerado efeito-dominó é hoje um dos temas recorrentes da imprensa internacional para comentar a crise portuguesa. Pelo meio, revelações como a de El Pais sobre os contactos entre Sócrates e Zapatero, apreensivo com o contágio português, ou a de Al Jazeera sobre uma alegada intenção de emendar a Constituição para permitir eleições num prazo mais curto.

O correspondente em Lisboa do diário espanhol El Pais Francesc Relea, sublinha as possíveis consequências da crise portuguesa para Espanha e a admissão, por parte de fontes governamentais de Madrid, de que essa crise "'poderia condicionar' Espanha e provocar novos ataques especulativos contra a dívida espanhola, como aqueles que se seguiram aos regates da Grécia e da Irlanda".

As mesmas fontes terão, contudo, sustentado que a crise política portuguesa "não afectará os fudamentos da economia espanhola". E as bolsas europeias pareciam hoje imunes a qualquer efeito de contágio da crise portuguesa, vendo subirem quase todos os seus valores, com excepção já esperada dos coligidos no índice português PSI 20. No momento de redigir a sua crónica, o correspondente de El Pais não conhecia ainda a queda do índice espanhol Ibex.

Segundo Relea, o presdiente do Governo espanhol, José Luis Zapatero, falou várias vezes por telefone com Sócrates nos últimos dias, para transmitir-lhe solidariedade e apoio.

A gravidade da crise estava mais do que anunciada desde vários dias antes, e também, segundo o mesmo Relea, pela circunstância, de se ter conhecido no próprio dia de ontem a "péssima notícia" de que "a Eurostat, o departamento estatístico da União Europeia, põe em dúvida as contas públicas de Portugal em 2010". Desse questionamento, lembra o correspondente, resulta a possibilidade de o défice português não ser inferior a 7% como diz o Governo, e sim superior a 8%.

Nas páginas do diário alemão Frankfurter Allgemeine, o chefe do gabinete de estudos económicos do Deutsche Bank, Thomas Meyer, põe "em dúvida se um governo de gestão terá força para negociar um programa de resgate ou se será aceite nas negociações sobre créditos de emergência pelo BCE e pelo FMI".

Mesmo sem ese programa, Meyer considera que o Banco Central Europeu "pode ver-se obrigado na atual situação a comprar títulos da dívida publica portuguesa para evitar um incumprimento desordenado de Portugal, dado que o fundo de resgate europeu não tem mandato para tal".

O Die Welt insiste também sobre as consequências internacionais da crise portuguesa, afirmando tratar-se de um "rude golpe na luta contra a crise europeia das dívidas soberanas". No mesmo sentido, o jornal econmíomico Handelsblatt afirma que "Portugal assusta Europa antes da Cimeira de Bruxelas" e, depois, que a demissão do Governo gera "preocupações e incertezas em Lisboa e não só".

O norte-americano Los Angeles Times sublinha os efeitos da crise portuguesa sobre a zona euro e acrescenta que, para Portugal, a mesma "poderá elevar ainda mais o custo dos empréstimos do país, já em níveis elevados. Isso poderá significar que Portugal não terá opção mas virar-se para o fundo de resgate da UE".

O canadiano Globe and Mail refere-se também ao significado europeu da crise portuguesa, observando que a demissão do Governo mostra como "a temperatura de crise também está a aumentar na Europa" - isto apesar da quase-monopolização das atenções pelas crises na Líbia e no Japão.

O site da Al Jazeera cita o seu correspondente em Lisboa, Barnaby Phillips, a lembrar que "a Constituição portuguesa permite eleições no prazo de 55 dias". Seguidamente, o mesmo Phillips comenta: "Isto agora parece estar muito longe, considerando a crise em que este país está".

E acrescenta: "Tem havido conversas no parlamento sobre [a possibilidade de] emendar isso, avançando com algum tipo de legislação de emergência que permitisse levar a cabo eleições mais cedo".

Para o Financial Times, a crise política surge num contexto em que já estavam a dissipar-se as expectativas de ampliação do fundo de resgate, fundo esse que, após a queda do Governo, tem mais probabilidades de ser chamado a intervir em Portugal - já "nos próximos dias".

O britânico The Guardian também sublinha a concomitância entre o não alargamento do fundo de resgate europeu e a demissão do Governo português." E, citando um analista do Lloyds Bank, também considera "cada vez mais provável que Portugal precisará de algum tipo de ajuda".

A revista The Economist também considera iminente o recurso português a algum mecanismo de ajuda internacional, partindo daí para uma curiosa comparação com o caso irlandês: "Na Irlanda, o resgate ajudou a forçar o Governo a convocar eleições antecipadas. Em Portugal, eleições antecipadas podem forçar o Governo a aceitar um resgate. A questão é, que Governo?".
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