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Manuel Delgado já tinha posto o lugar à disposição do ministro da Saúde

por RTP
Tiago Petinga - Lusa

O ex-secretário de Estado afirmou esta terça-feira à TVI que logo que rebentou o escândalo da Raríssimas se quis demitir mas terá sido o próprio ministro Adalberto Campos Fernandes que considerou "não ver razões objetivas" para a saída. A demissão de Manuel Delgado esta terça-feira não foi suficiente para acalmar a tempestade política desencadeada pelas acusações.

Antes de ser secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado recebeu da associação mais de 60 mil euros entre 2013 e 2014, como consultor para a construção da Casa dos Marcos, na Moita, que acolhe cerca de 300 crianças.

Delgado tem mantido que nunca soube de quaisquer abusos financeiros durante as suas ligações à Raríssimas e também que não tinha relações de proximidade com a sua presidente.O ex-governante foi já substituído no cargo por Rosa Matos Zorrinho, que era presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

Não explicou os motivos da demissão mas esta noite, a TVI afirma que foi uma nova entrevista, na qual "foi confrontado com documentos novos que o puseram em xeque" que acabou "por levar a que se demitisse do Governo".

Na entrevista, gravada pelas 12h00 desta terça-feira e transmitida no Jornal da Noite, Manuel Delgado afirmou contudo que quis demitir-se logo depois da emissão da reportagem que denunciou sábado a gestão danosa na Raríssimas, mas o ministro da tutela segurou-o.

Confrontado sobre se colocou o lugar à disposição, o ex-governante disse "pus com certeza. É evidente que o senhor ministro, numa atitude que tem a ver com a sua forma de pensar e de estar, e ele próprio tem autoridade para julgar as decisões que toma, disse-me: Não vejo até agora razões objetivas nenhumas para poder pôr em causa o seu lugar".
Oposição quer saber mais
O Governo substituiu Manuel Delgado em apenas quatro horas e diz que o ex-secretário da Saúde invocou razões pessoais para sair.

Razões que não convencem a oposição que, ainda antes da emissão da entrevista a Manuel Delgado, exigia explicações.

O PSD afirmou que quer ouvir o ex-secretário de Estado e o ministro responsável pela tutela explicarem o motivo da demissão.

"Esta suspeita não se pode manter", sustentou a deputada social-democrata Clara Marques Guedes, sublinhando que, há apenas dois dias, Delgado considerava - oficialmente - não haver motivos para se demitir.

Para o CDS-PP, a demissão era inevitável mas não suficiente para esclarecer os factos.

"Há questões muito relevantes nesta matéria que têm de ser esclarecidas, que não ficam ultrapassadas porque se demitiu um secretario de Estado", referiu João Almeida, deputado centrista, em conferência de imprensa no Parlamento.
Vieira da Silva em xeque
Também a proximidade do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social à instituição é outra pedra no sapato governamental em todo este caso.

Vieira da Silva é casado com a deputada socialista Sónia Fertuzinhos, mencionada na reportagem da TVI como tendo realizado uma viagem pela Raríssimas.

Foi ainda vice-presidente da Assembleia da Raríssimas antes de ir para o Governo e, uma vez que é ele o responsável pela fiscalização dos dinheiros públicos que vão para as associações, também o PS já lhe pediu para ir ao Parlamento.

Os partidos da oposição dizem que as palavras do ministro em conferência de imprensa segunda-feira, não esclareceram os factos e as acusações levantadas pela reportagem da TVI no fim de semana.

Na altura Vieira da Silva revelou que a Raríssimas já estava a ser auditada desde novembro, após denúncias de falta de cumprimento dos estatutos das IPSS, mas afirmou nunca ter sido informado de qualquer gestão danosa.

Anunciou ainda uma inspeção geral à associação, após as revelações feitas na reportagem. Mas as suas ligações à instituição levantam outras questões e os partidos querem ouvi-lo sobre isso.
Fiscalização
À esquerda, o apelo é para fiscalização mais apertada do uso dado aos dinheiros públicos atribuídos às Instituições Particulares de Solidariedade Social.

Nos últimos anos, a Raríssimas recebeu mais de seis milhões de euros dos contribuintes. Esse dinheiro foi-lhe entregue pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério da Saúde.

A associação recebia auditorias frequentes, que pelos vistos não conseguiram detetar as irregularidades agora reveladas.

Demissão "pelos meninos"
O escândalo Raríssimas rebentou no sábado com a emissão de uma reportagem da TVI. A investigação da jornalista Ana Leal revelou gastos da presidente da associação, Paula Brito e Costa, em seu próprio favor e em detrimento da instituição.

Práticas de gestão danosa e um estilo prepotente de gestão do pessoal, pela própria presidente, também ficaram patentes.

Paula Brito e Costa fala de uma cabala bem urdida contra si mas, tal como Manuel Delgado, acabou por se demitir esta tarde da associação que ajudou a fundar e que sempre dirigiu.

Em entrevista à RTP, a presidente da Raríssimas justificou a demissão dizendo que o fez "pelos meninos que apoiei tantos anos".
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