Mariana Vieira da Silva critica "peso excessivo" do Orçamento do Estado: "Com consequências para a vida portuguesa"

A pouco mais de duas semanas da entrega da proposta de Orçamento do Estado (OE), a ex-ministra Mariana Vieira da Silva desdramatiza o debate em torno do documento que vai ser entregue no parlamento pelo Governo e lamenta que, em anos anteriores, a proposta tenha tido mais destaque do que o necessário e, entende, com consequências negativas para o país.

João Alexandre - Antena 1 /

"Acho que, ao longo dos últimos anos, com muitas consequências para a vida portuguesa, nós sobrevalorizámos e colocámos excessivo peso na aprovação do Orçamento de Estado", afirmou, em declarações à Antena 1, a antiga ministra socialista.

No programa Entre Políticos, a deputada e ex-governante saudou, no entanto, a forma como o Governo da AD tem procurado afastar alguns temas da discussão sobre o OE. "Vejo de forma positiva a tentativa de retirar medidas de política que não têm lugar no Orçamento, que não são obrigatoriamente aprovadas no Orçamento e que elas possam ser tratadas fora do Orçamento. Acho isso um bom sinal para o debate", sublinha.
Quanto à forma como Luís Montenegro respondeu aos deputados durante o debate quinzenal - e, em particular, ao secretário-geral do PS, José Luís Carneiro - Mariana Vieira da Silva aponta ao primeiro-ministro dificuldades no relacionamento com os parlamentares.

"Estranho muito as reações do primeiro-ministro. A dada altura parecia que estava com muitas saudades de ser apenas comentador, porque se dirigia aos partidos nessa perspetiva", lamentou a deputada, quando questionada sobre uma eventual tentativa de menorização do papel dos socialistas por parte de Luís Montenegro.

Quanto às críticas feitas pelo PS ao "ano e meio de governação" da AD, a deputada socialista sublinha: "O PS não pode estar num debate quinzenal não assinalando aquilo que tem corrido mal ao longo deste ano e meio. É isso que faz um partido da oposição".

PS não desarma nas críticas à ministra da Saúde: "Falhou redondamente"

No mesmo sentido, a ex-ministra do PS insiste que, apesar das dificuldades que "há vários anos" se têm sentido no setor da saúde, há uma avaliação negativa a fazer à liderança de Ana Paula Martins.

"O plano de emergência [para a área da Saúde] falhou redondamente e temos hoje mais pessoas à espera de cirurgia oncológica fora do tempo máximo de resposta garantido do que existia quando o plano começou. O PS não pode deixar de apontar o número recorde de mulheres que tiveram os seus filhos em ambulâncias ou na beira da estrada", salientou.

Um dia depois de o primeiro-ministro ter afirmado, no parlamento, que os problemas na saúde "não se resolvem de um dia para o outro", mas garantindo que o programa estrutural do Governo está executado "em mais de 80%", Mariana Vieira da Silva aponta: "As medidas estão lá dadas como cumpridas, mas quando uma das medidas era acabar com as pessoas fora do tempo máximo de resposta em lista de espera para a cirurgia oncológica e temos mais, a medida pode estar dada como cumprida?".

"O plano era mau e não resultou por razões sobre as quais procurámos avisar. Não chega a apresentar o PowerPoint e não chega a colocar lá o visto ao lado da medida", conclui.

Bloco de Esquerda quer "normalidade democrática" dos orçamentos do Estado e lamenta anúncios na Habitação

Para o ex-líder parlamentar do BE, após vários anos em que houve um "excessivo peso" dado à proposta de Orçamento do Estado, o momento é de regressar à "normalidade".

"Espero que se reponha a normalidade democrática e constitucional, ou seja, um Orçamento do Estado chumbado não tem de corresponder necessariamente a eleições antecipadas. Essa introdução por parte do presidente da República só criou instabilidade na democracia portuguesa. Era bom que essa prática fosse abandonada na República e nas regiões autónomas", disse Fabian Figueiredo.

Em declarações no programa Entre Políticos, o dirigente bloquista mostrou-se ainda apreensivo quanto as anúncios do Governo para o setor da habitação, até porque, aponta Fabian Figueiredo, o caminho do Governo nesta área tem sido negativo.

"Sempre que o Governo anuncia medidas para a habitação os preços das casas aumentam e este plano terá também essa consequência. Esta semana batemos mais um recorde de alta de preços de habitação e todas as medidas que o Governo toma têm o efeito contrário ao anunciado. Estas medidas contribuem para o sobreaquecimento do mercado imobiliário", lamentou.
Para o ex-líder parlamentar, não há dúvidas de que a política de habitação da AD "não contraria nem um bocado a tendência que já vinha de trás" e "agravou" a situação de milhares de portugueses.

"Há uma tempestade perfeita no mercado imobiliário, de tal forma que a Comissão Europeia, que não é conhecida por defender a regulação do mercado de habitação, tem chamado a atenção do Governo português de que é preciso tomar medidas efetivas. É preciso puxar o travão de mão", insiste,

Fabian Figueiredo e as mudanças no BE: "Não sou candidato"

Em declarações à Antena 1, o ex-líder parlamentar bloquista relativiza as alterações na representação do partido - quer na Assembleia da República, quer durante a campanha eleitoral -, e garante que não há divergências dentro do Bloco de Esquerda sobre a decisão da coordenadora do BE, Mariana Mortágua, que permanece a bordo de uma flotilha humanitária que segue com destino a Gaza.

Fabian Figueiredo explica ainda que, apesar de ter sido o número dois do partido nas últimas legislativas pelo círculo de Lisboa, há motivos profissionais que o afastam da substituição de Mariana Mortágua no parlamento - onde o lugar é agora ocupado por Andreia Galvão.

"Eu não sou candidato à liderança do Bloco de Esquerda e eu não substituo a Mariana Mortágua na Assembleia da República porque tenho um impedimento profissional onde tenho de estar em exclusividade. Há um projeto que depende de mim, não posso ser deputado e continuar com esse projeto. Em terceiro lugar, a Andreia Galvão [número três por Lisboa e agora deputada substituta] conta com todo o meu apoio", respondeu.

O ex-líder parlamentar elogia o início de funções da deputada, notando que esteve "perfeitamente à altura" do mandato no "confronto" que teve com o primeiro-ministro, e esclarece a substituição da coordenadora do BE por Marisa Matias durante a campanha eleitoral autárquica.
Mariana Mortágua não foi substituída como coordenadora, continuou a ser coordenadora. O que acontece é que, durante alguns dias, durante as eleições autárquicas, será substituída do ponto de vista público e mediático pela Marisa Matias", disse.
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