Marques Mendes repudia acusação "muito grave" e Cotrim mantém que houve "pressões para desistir"

Começou tenso o debate, na TVI, entre Luís Marques Mendes e João Cotrim de Figueiredo. O primeiro instou o segundo a esclarecer quem, da sua candidatura, o pressionou a desistir da corrida a Belém, acusando mesmo o candidato liberal a Belém de se comportar “como uma espécie de André Ventura envergonhado”.

Carlos Santos Neves, Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Foto: Rui Valido - TVI

O primeiro tema lançado para o debate das presidenciais da noite deste domingo, na TVI, incidia sobre a greve geral marcada para 11 de dezembro e os “problemas atuais do mercado de trabalho” que o pacote laboral do Governo de PSD e CDS-PP se propõe “resolver”. Mas Luís Marques Mendes preferiu começar por confrontar João Cotrim de Figueiredo com as declarações que o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal fez ao Expresso.

“Há duas semanas, fui vítima de um ataque pessoal muito feio. João Cotrim de Figueiredo disse que eu, ou pessoas por mim, o pressionaram a desistir da candidatura. É uma acusação muito séria e muito grave”, atalhou o antigo líder do PSD, que enunciou, em seguida, “duas perguntas muito simples”.

“Quando é que eu falei consigo a pressionar para a sua desistência? Quais foram as pessoas que, em meu nome, o pressionaram a desistir? Não se fazem acusações desta gravidade sem apresentar provas”, vincou.

“Ainda bem que entra ao ataque, que é para eu responder na mesma moeda”, retorquiu de imediato Cotrim de Figueiredo, para acrescentar que “nunca disse que Luís Marques Mendes” o “tinha contactado”: “Nunca falei no seu nome”.
Debate na íntegra

“Os apoiantes destacados, que eu presumi que faziam parte da sua candidatura, pressionaram-me a desistir da campanha”, reiterou.

“Nas últimas semanas, houve acusações de Gouveia e Melo, que diz que foi pressionado pelo Governo para não avançar. Sobre isso, Luís Marques Mendes não disse nada”, acentuou ainda o candidato liberal.

“Eu acredito que o assunto está encerrado. Para mim, estou a responder a coisas a que já publicamente respondi”, rematou.O tema das pressões esteve também em destaque no debate entre Cotrim de Figueiredo e Jorge Pinto. O ex-dirigente da Iniciativa Liberal reiterou então ter sido pressionado por “apoiantes” de Marques Mendes que se sentiram “à vontade” para o “intimidar”.


“Não se fazem acusações desta gravidade da forma ligeira que fez. Se eu não levantasse esta questão, não era uma pessoa de caráter. Quem não se sente não é filho de boa gente. Eu tiro a seguinte conclusão: João Cotrim de Figueiredo fez acusações sem fundamento. Não tem provas, nem tem fundamento”, carregaria adiante Marques Mendes.

“Acho isto de uma leviandade enorme para quem quer ser presidente da República. Mesmo os seus eleitores não gostam. Eu sei que isto lhe custa”.

“Acho que o senhor se comporta como uma espécie de André Ventura envergonhado e isso não o recomenda para presidente da República, até o desqualifica. Como se viu neste episódio, a sua palavra não é para ter em conta”, acusou.

“O que os portugueses esperam do presidente da República, para além da palavra, é transparência. Sei que vai lançar um livro em que resume a sua passagem pelo Governo em cinco páginas. Tem alguma coisa a esconder?”, contrapôs então Cotrim.
Os jovens, o Conselho de Estado e os consensos
Questionado, em seguida, sobre se teme que o voto útil acabe por favorecer candidaturas como a do adversário social-democrata, com uma experiência política mais prolongada, Cotrim de Figueiredo respondeu: “Sei que sou diferente. Não tenho a carreira política de Marques Mendes, tenho uma carreira de seis anos”.

Afirmou, todavia, ter uma perspetiva “mais arejada”, criticando a proposta, por parte de Marques Mendes, de introduzir um jovem no Conselho de Estado, o órgão consultivo da Presidência da República.

“Não acho que matérias como incluir um jovem no Conselho de Estado dê destaque à juventude. No meu caso, estaria sempre com a juventude. Esses sinais seriam importantes, mas não são o que resolve os problemas”.

“Tenho-o visto a falar menos de consenso e mais de ambição e de crescimento. Eu sou o candidato que mais fala de crescimento económico. Fi-lo toda a vida e tenho continuado a fazer enquanto político”, advogou Cotrim.

“Continuo a defender que são precisos consensos e concretizo: na área da justiça, na área do combate à corrupção, para combater a morosidade da justiça, sobretudo na justiça criminal e na área económica, combater a ideia de uma justiça para ricos e outra para pobres”, devolveu Marques Mendes.“As coisas não estão bem no Ministério Público e existe algum corporativismo”, admitiu Luís Marques Mendes.


Ainda segundo o candidato apoiado pelo PSD, “um presidente tem que ser moderado, mas não é ser mole, é ser firme”.

“Há problemas na habitação, no alojamento estudantil, há problemas nos salários, em geral. Sou o primeiro candidato que apresentou uma proposta concreta: um jovem para o Conselho de Estado. Acho um erro enorme desvalorizar esta proposta. É o único órgão que junta à mesma mesa o presidente da República, o primeiro-ministro e o líder da oposição. Ter um jovem no Conselho de Estado é dar uma oportunidade aos jovens”, propugnou.

“Não defendo ideias em que não acredito. Luís Marques Mendes é membro do Conselho de Estado desde 2022, 2003, e mesmo assim, com tanta importância que o Conselho de Estado tem, continuamos a ter problemas”, afirmou, por seu turno, Cotrim de Figueiredo.

“Não estou a desvalorizar, se as pessoas discutem soluções, se é uma sucessão de monólogos. Se se quer estar perto da juventude, não é com o simbolismo de ter um jovem no Conselho de Estado que isso se resolve”, reforçou.

Marques Mendes voltaria ainda à carga com a mesma ideia: “O presidente da República tem direito a designar cinco membros do Conselho de Estado. Nunca foi designado um jovem. E eu vou designar um jovem. Quero dizer-lhe que tenho tido imensos contactos com jovens e todos valorizam muito esta ideia, este compromisso”.
Problemas do mercado de trabalho
Sobre o novo pacote laboral, Marques Mendes sublinha que é para já necessário “esperar pela lei na sua forma final”. Confrontado com a ideia de que está genericamente de acordo, o candidato sublinhou que “o Governo tem toda a legitimidade para fazer esta reforma”.

“Há questões no presente e no futuro que talvez possam justificar” o novo pacote, apontou o candidato apoiado à direita, lembrando “a transição digital, as questões que se colocam com a Inteligência Artificial, do teletrabalho, da conciliação do trabalho com a vida familiar”.

“Acho que há razões para fazer a reforma (…) Faz-me impressão que haja uma parte grande das pessoas peçam reformas e depois quando elas surgem não querem que elas sejam feitas”, concluiu.

Cotrim de Figueiredo estabeleceu uma distinção entre os papéis do presidente da República, que não legisla, e a possibilidade que os candidatos a esse cargo dispõem de debater os assuntos: “Temos obrigação de nos dar a conhecer”.

Nesse sentido, afirmou que “promulgaria essa legislação laboral na versão mais recente (…) que já não é a mesma que foi proposta a 24 de julho ao conselho permanente da Concertação Social e que já foi objeto de várias alterações fruto de diversos contactos com a UGT”.Cotrim de Figueiredo manifestou aqui a surpresa por esta central sindical ter sido “bastante rápida a aderir à greve geral, como o ter sido a primeira a aventar a hipótese de a greve geral ter dois dias”.


“Fez-me alguma confusão até perceber que há eleições na UGT em março”, disse, argumentando que a decisão tenha possivelmente a ver com o desejo de a central se querer “mostrar mais ativa (…) ou tão ativa como a CGTP”.

Quanto à decisão de promulgar, justificou com a necessidade de "tornar a legislação mais flexível [e] quando se fala em mais flexibilidade não é despedir mais facilmente ou recrutar mais facilmente, é tornar as empresas mais capazes de se adaptarem a uma diferença súbita na procura da sua carteira de encomendas [quando] a atual legislação torna isso muito difícil (…) com empresas a tomarem medidas mais gravosas como despedimentos coletivos”.
Litoral e Interior

Questionado sobre as políticas de incentivo à natalidade e diminuição de diferenças de condições de vida entre o Litoral e o Interior, Marques Mendes falou de “um processo longo”, que exige trabalho sobre o texto inicial.

“O papel de um presidente da República que se preze e que acredita que verdadeiramente vai ser eleito é: só se pronuncia, nesta matéria como em qualquer outra, com o texto final e neste momento está longe de ser um texto final”.

Confrontado com a opinião agora emitida de Silva Peneda, antigo ministro do PSD que disse que as centrais sindicais foram encostadas à parede, Marques Mendes disse que o seu amigo e apoiante “não é candidato, portanto pode dizer tudo isso”. Neste ponto, Cotrim de Figueiredo lembrou que “nenhum de nós é presidente ainda”.

O antigo líder do PSD deixou depois dois apelos: ao equilíbrio e ao diálogo social, sobretudo com a UGT. Considerou a este propósito que, ao contrário do clima de há duas semanas, de grande crispação e bloqueio, agora está desanuviado apesar de uma greve: “Governo e UGT já disseram que depois da greve continuarão a negociar”.

Sobre os jovens, desvalorizou a questão das leis laborais para defender que mais importante são as medidas que estão a ser preparadas em termos do arrendamento.Voltando a acusar Marques Mendes de não revelar se promulgaria a lei ou não, Cotrim de Figueiredo considerou que a nova legislação “é contrária à política de natalidade que Portugal precisa”.

“Tornar mais difícil pais de crianças com menos de 12 anos recusarem trabalho ao fim de semana ou fora de horas parece-me um erro, dificultar o regime de amamentação parece-me um erro e desnecessário”, considerou o liberal, acrescentando que em relação aos salários e ao regresso dos jovens é estar a enganar as pessoas dizer que essa é uma questão que se resolve em dois ou três anos: “Isto é um processo longo”.

“Deixámos demasiado tempo que a nossa economia se baseasse num modelo muito pouco dinâmico, muito pouco atrativo para investimento nacional e estrangeiro, pouco gerador de empregos qualificados e bem pagos”.

Sobre a existência de pobreza entre a classe dos trabalhadores portugueses e lembrando que apenas os apoios sociais permitem que sejam menores os números da pobreza, Cotrim de Figueiredo regressa ao lema do crescimento económico como prioridade do país e fala “no maior atestado de fracasso da política económica nos últimos 30 ou 40 anos”.

“Quem acha que não é preciso mudar as coisas e que o país pode continuar assim está profundamente enganado e é cúmplice deste estado de coisas”, apontou o candidato liberal, voltando a defender que “o crescimento económico é a única maneira de tratar da pobreza a prazo”.

Marques Mendes fez questão de assinalar uma diferença entre os dois neste tema. Assegurando que “é bastante mais ambicioso no plano social”. Dizendo que há anos defende o crescimento económico na ordem dos três por cento ao ano, lembra que “isso vai levar tempo”.

“No entretanto, a pobreza é um problema nacional e deve ser tida como um desígnio nacional, não podemos estar à espera que o mercado vá resolver o problema dos idosos, dos pensionistas, dos reformados, com pensões de 300 ou 400 ou 500 euros (…) aqui a intervenção do Estado é essencial”.

Assinalando o que diz ser uma grande diferença entre os dois candidatos, Marques Mendes diz que nesta matéria é necessária sensibilidade e não tanto a crença no mercado. Aqui, acusou Cotrim de Figueiredo de ter uma proposta fiscal que, adoptada, “iria comprometer seriamente a componente social do país: educação, saúde, pensionistas”.

Questionado pelo oponente sobre o custo dessa proposta, Marques Mendes falou numa taxa única no IRS, aos que o liberal retorquiu: “Não propomos uma taxa única há cerca de cinco anos, mas está bem”.

Insistindo que é a ideia defendida pelo adversário, Marques Mendes seguiu o seu guião apontando a essa proposta “um problema de justiça” por taxar de igual forma “uma pessoa que ganha 20 mil euros e outra que ganha 500 mil ou um milhão”.

“Quantificando, a UTAO, há quatro ou cinco anos, relativamente a estas propostas da Iniciativa Liberal apresentadas por João Cotrim de Figueiredo, que se fossem por diante implicavam uma perda de receita de três mil milhões de euros (…) o que significaria cortes na saúde, na educação e até nas prestações sociais”.
Falhas "no raciocínio económico"

O candidato liberal respondeu que, nos casos de desespero, defende “tanto ou mais do que Luís Marques Mendes a intervenção do Estado”. Apontando falhas do social-democrata “no raciocínio económico”, lembrou que a chamada do argumento da UTAO perde validade quando nestes anos o IRS já baixou dois mil milhões de euros. Acrescentou que já não propõem a taxa única mais baixa há cinco anos.

Lembrou depois que “temos dos IRS mais progressivos da Europa”, o que, acredita, será o factor que leva os jovens a sair do país. Nesse sentido, o dinheiro que se perderia em receita fiscal, defende, “que é mais dinheiro no bolso das pessoas”, seria rapidamente recuperado se s mantivessem no país as novas gerações de trabalhadores mais jovens.

Marques Mendes chamou a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para acusar Cotrim de Figueiredo de defender a sua privatização, o que poderia levar a situações em que decisões importantes seriam tomadas a partir de Madrid e não de Lisboa. Cotrim de Figueiredo pegou no tema e defendeu que sim, mas que não, que é o contrário, e pegou no tema da TAP, denunciando um demasiado intervencionismo do Estado na vida da transportadora aérea.

Sobre a CGD, Cotrim de Figueiredo lembrou que numa altura de problemas tiveram de ser “injetados 5.600 milhões de euros com regras restritas da União Europeia para se comportar como um banco comercial”.
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