Morreu José Hipólito Santos, participante na Revolta de Beja

por RTP
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José Hipólito Santos era em 1961 um dos mais activos membros do grupo da "Seara Nova". Envolveu-se na Revolta de Beja, no último dia desse ano, como elemento fundamental nas tarefas de apoio ao grupo de insurrectos que assaltou o quartel. Era um dos poucos participantes da Revolta ainda sobrevivos.

O papel de José Hipólito Santos teve, a certa altura, um aspecto decisivo. Manuel Serra viera a Portugal com a missão, que no exílio lhe fora atribuída por  Humberto Delgado, de tomar um quartel em que o general iria depois instalar-se e lançar um apelo ao levantamento popular.

Contudo, Manuel Serra deparou com uma inesperada relutância dos militares com quem contactava. Especialmente da parte de Varela Gomes, o capitão que protagonizara em Novembro desse ano a campanha eleitoral da oposição antisalazarista, havia uma atitude de recusar o que considerava uma aventura. O risco de assaltar o quartel de Beja com oito dezenas de civis, sem armamento nem experiência, tornava-se mais premente na medida em que a componente militar não estava garantida.

Para a viragem contribuiu José Hipólito Santos, ao estabelecer o contacto da conspiração com Alexandre Hipólito Santos, seu irmão, à data tenente no quartel de Beja. Este, por sua vez, garantiu a adesão do major Francisco Vasconcelos Pestana, que tinha a seu cargo a Companhia de Ordem Pública naquele quartel. O novo ingrediente da conspiração foi determinante para que Varela Gomes se decidisse a assumir o comando operacional da tomada do quartel.

Embora não estivesse incluído no grupo civil organizado para entrar no quartel, José Hipólito Santos deslocou-se a Beja, para realizar as tarefas de apoio com que contavam os insurrectos. Por isso mesmo veio depois a ser detido, julgado e condenado.

Dos seus companheiros da Revolta, e da prisão, recordava numa entrevista recente: "Eu passei um ano e meio com eles, na prisão, e vi que eram pessoas sadias, que se revoltavam espontaneamente contra a prepotência da autoridade, sem se submeterem a ditames partidários. Comparo-os aos 'indignados' de hoje: era gente que não aceitava mais a lógica dos partidos e das instituições oposicionistas, mesmo se tinham militado nelas. Estavam indignados com a situação e não a aceitavam".

Num livro publicado recentemente pela Âncora Editora, José Hipólito Santos apresentou um resumo, porventura o mais completo que foi publicado, sobre o sucedido na Revolta de Beja.

Nascera no Porto, em 1932, e, além de participar na revista “Seara Nova”, presidira Ateneu Cooperativo e militara no MUD-Juvenil. Estivera depois exilado em Argel e em Paris, integrara a direcção da LUAR – Liga de Unidade e Ação Revolucionária –, e participara activamente no levantamento estudantil de Maio de 1968, na École Pratique des Hautes Études (Sorbonne). Após o o 25 de Abril, fora dirigente do PRP.

Como economista, José Hipólito Santos leccionara na Universidade Paris XIII, e em Lisboa, no ISEG e no ISPA, fora perito da ONU e membro das redes Alliance Pour Un Monde Responsable, Pluriel et Solidaire e DRD-Démocratiser Radicalement la Démocratie.
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