"Não faltam professores". Fernando Alexandre em entrevista ao podcast da Antena 1, "Política com Assinatura"

O Ministro da Educação adianta que existem mais de 20 mil professores não colocados, quando as necessidades do Ministério são bem menores. 

Andreia Brito com Natália Carvalho - Antena 1 /
Em vésperas de abertura do novo ano letivo, Fernando Alexandre acusa o PS de ter deixado o Ministério da Educação desorganizado. “Não consigo perceber como foi possível o Partido Socialista estar mais de oito anos naquele ministério sem organizar o ministério”. “A responsabilidade aqui é mesmo política”, acrescenta.
Fernando Alexandre revela que existem mais de 20 mil professores não colocados, a grande parte deles no norte do país, acima do Douro, os quais tem sido difícil colocar porque não aceitam deslocar-se para o centro e sul e recusam horários incompletos.

O ministro revela mesmo que “os números que precisamos são muito, muito, muito, muito inferiores a isso. Se estivermos a falar de horários completos, provavelmente temos pouco mais de mil, se tivermos mil”.
Apesar de afirmar que a falta de professores não é um fenómeno nacional, mas localizado, o ministro da Educação avisa que “o problema da falta de professores vai fazer-se sentir em todo o país nas próximas décadas”. 

Por isso o Ministério, em articulação com as instituições de ensino superior (IES), aumentou as vagas para os cursos de Educação, as quais ficaram todas preenchidas no último Concurso Nacional de Acesso.

Fernando Alexandre revela também que vão ser aplicados 27 milhões de euros para, até 2030, investir na formação de professores, para contratualizar nomeadamente nas regiões com mais falta de docentes.
 
Lisboa está a falhar nas escolas
Quando o ano letivo está prestes a arrancar com quase um milhão e 600 mil alunos a voltar às escolas, o ministro da Educação acredita que este ano vai correr melhor do que o anterior e que o próximo vai ser melhor ainda.

Fernando Alexandre assegura que em “98%/99% das escolas os professores estão todos colocados, os alunos vão ter aulas a todas as disciplinas”. Mas faz um apelo às autarquias e uma critica em particular à Câmara de Lisboa de Carlos Moedas: é preciso criar alojamento para docentes, o que falhou na capital nos últimos anos.
O modelo de contratação dos professores tem de ser revisto e vai ser revisto no âmbito da revisão do Estatuto da Carreira Docente” defende o Ministro da Educação. As negociações arrancam no fim deste mês, acrescenta.

No entanto, para Fernando Alexandre existe ainda outra questão crucial. “Há aqui toda uma articulação entre aquilo que o Ministério faz, os seus serviços e as escolas que tem claramente que ser afinada”. Para o ministro da Educação, existem procedimentos que não fazem sentido e que vão mudar.
No podcast “Politica com Assinatura”, o Ministro da Educação admite que os grandes problemas de cobertura em termos de pré-escolar são na Grande Lisboa.

Os municípios têm que dar mais atenção a estas matérias”, diz e anuncia que o Governo vai assinar contratos de associação para alargar as vagas na rede pública.
A proibição de telemóveis nas escolas traz benefícios, acredita o Ministro da Educação, baseado, diz, em evidências científicas. E por isso essa proibição arranca no primeiro e segundo ciclos, com responsabilidade de fiscalização atribuída às escolas.

Porém, Fernando Alexandre até gostava de a alargar ao terceiro ciclo. “Idealmente teríamos já incluído o terceiro ciclo”, diz. No entanto acredita que “para os alunos que vão agora entrar no primeiro ciclo e no segundo ciclo e que vão beneficiar desta política de proibição, quando chegarem ao sétimo ano eles estão suficientemente conhecedores dos benefícios e dos malefícios do uso do telemóvel e vão saber usá-lo de uma forma responsável”.

Governo valoriza a disciplina de cidadania

Era uma disciplina “desorganizada, não tinha uma estrutura, não tinha definido o perfil dos professores” e era desrespeitada pelos pais. É desta forma que Fernando Alexandre caracteriza a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento até agora.

Assegura que os Governos de Montenegro foram os primeiros a valorizar a disciplina e que as alterações mostram isso mesmo.

Nesta entrevista ao podcast “Política com Assinatura”, o ministro anuncia que a disciplina vai incluir o ensino de matérias obrigatórias e muito importantes, como, por exemplo, literacia financeira. Fernando Araújo anuncia que, para lançar o ensino dessa matéria, está a ser organizado um evento nacional, para o Dia Mundial da Poupança, a 31 de outubro, em todas as escolas com ações de literacia financeira.
As obras nas escolas só arrancam no segundo semestre de 2026. Em causa mil milhões de euros para requalificar quase 500 escolas que precisam de obras urgentes e muito urgentes.

À Antena 1, Fernando Alexandre explica como vão decorrer os concursos para esta empreitada nacional, cujas obras só arrancam na segunda metade do próximo ano “porque se não fizermos isto só vamos estar a criar inflação de preços”.
No ensino superior, o Governo aprovou já diversas alterações no Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), que aguardam agora discussão e votação na Assembleia da República.

Uma dessas mudanças passa pela forma de eleição dos reitores. Em vez de serem escolhidos pelo Conselho Geral, o reitor passa a ser eleito diretamente pelos docentes investigadores, estudantes e restantes membros da comunidade académica.

No entendimento do Ministro, essa será uma escolha mais democrática, “o que nós estamos a fazer é democratizar. Para aqueles que não acreditam na Democracia eu percebo que isso possa ser um problema”, diz.
As mudanças no RJIES contemplam ainda a criação de um estatuto único para professores e investigadores no âmbito da carreira científica.
Nos próximos meses, o Ministro da Educação vai promover uma discussão pública com a comunidade científica nacional sobre a próxima Agência que vai substituir a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que financia a ciência em Portugal.

Fernando Alexandre considera que a FCT está “muito ultrapassada, e o Conselho Diretivo sabia isso e os investigadores sabiam isso”. Acusa ainda a FCT de não cumprir os calendários definidos e de não gerir uma mistura de instrumentos financeiros.

Polémica com reitor da Universidade do Porto é assunto encerrado
Sobre a polémica que envolve o Ministro da Educação e o Reitor da Universidade do Porto, Fernando Alexandre insiste que nunca falou até hoje com o Diretor da Faculdade de Medicina daquela instituição e que o telefonema que fez ao Reitor foi para devolver duas chamadas que António Sousa Pereira fez para falar sobre deixar entrar 30 candidatos que não tinham a classificação mínima para aceder ao curso de Medicina.

Em entrevista à Antena 1, o ministro garante que para si “o assunto está encerrado” e afirma que “ainda não percebi quem é que errou: se foi o jornal Expresso ou o senhor Reitor”.
Entrevista conduzida pela editora de política da Antena 1, Natália Carvalho, no podcast "Política com Assinatura", em vésperas da abertura do ano lectivo.
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