"Não sou um robô nem sou um super-homem. Tenho as minhas fragilidades"

A entrada no colégio alemão aos quatro anos, a morte do irmão aos sete, a educação rígida do pai ou o facto de não ter sido um preso da PIDE até ao dia em que decidiu candidatar-se à presidência do PSD. Rui Rio, o ex-autarca do Porto, diz que nunca planeou nada na sua carreira e que tudo lhe foi surgindo de forma natural, tal como a política. Após vários meses de especulações, o homem que se deixa guiar mais pela racionalidade e disciplina considera que chegou o momento de “mobilizar os portugueses e com eles restabelecer a confiança num futuro melhor”.

Desde que saiu da presidência da Câmara do Porto, em 2013, que o nome de Rui Rio era apontado para a liderança do PSD. Foi convidado duas vezes, em 2008 e 2010, mas tanto na política como na vida, “palavra dada deve ser palavra honrada” e em “circunstância alguma deve trair quem em si confia”.

Nesta entrevista de vida à RTP, Rui Rio considera-se metódico, programado, disciplinado, num maior esforço de racionalidade mas também emotivo. Na culinária, as suas preferências vão para a gastronomia nortenha, nomeadamente lampreia à bordalesa.

Não gosta do “politicamente correto” e perde facilmente a paciência com a hipocrisia, não abdicando nunca dos seus valores, princípios e convicções.

Falta saber como teria sido a vida de Rui Rio se o tivessem deixado seguir uma carreira no hóquei em patins.

Como é que foi a sua infância? Que brincadeiras tinha? Teve uma educação muito rígida?

A minha infância é, para situar no tempo, nos princípios dos anos 60, na prática. Eu nasci em 1957. A minha infância começa no início dos anos 60. Brincava com os carrinhos. Hoje não é exatamente assim. Não tinha televisão em casa em 1960/1/2. Tinha um irmão que morreu muito jovem. Morreu em 1965. Portanto, nesse primeiro período de tempo da minha infância brincava com o meu irmão, brincava com os meus primos.

Entrei para o Colégio Alemão do Porto com quatro anos e, portanto, ao contrário dos outros meninos daquela altura, tinha alguns amigos fora do universo familiar. Nas aldeias tinham os vizinhos. Eu não vivia numa aldeia. Vivia no Porto, vizinhos não tinha para esse efeito. Não brincava na rua. Na minha rua não dava para fazer isso. Portanto, estava em casa e tinha os amigos do colégio também.



Depois numa fase seguinte, em que inclusive mudei de casa, passei a ter os amigos da rua, já com 11, 12 anos de idade. Jogava futebol, ouvia música, numa fase seguinte jogava bilhar no café, já adolescente. E depois da adolescência, para além de jogar bilhar, começava a fazer outras coisas também como é evidente [risos]. Começava a olhar para umas raparigas, etc. A vida era mais ou menos normal.
Ele morreu em junho de 65. Eu fiz anos em agosto. É obviamente brutal por aquilo que é a perda e brutal porque apesar de sermos muito jovens, percebemos o sofrimento dos pais.
Mas se me pergunta se a educação foi rígida? Foi. Por duas razões: foi rígida porque na altura a educação era rígida para todos nós, mas no meu caso como eu andava num colégio alemão, o colégio alemão era mais disciplinador ainda e o meu próprio pai também era muito disciplinador.

Aliás havia muitos pais assim naquela época. O meu era do topo superior em termos de disciplina, soma à do Colégio Alemão, soma à época dos anos 60, que não tem nada a ver com o que é hoje. É a minha fotografia nessa matéria.

A morte do seu irmão foi um dos momentos que o marcou? Quantos anos tinha?

Eu tinha sete, ele tinha cinco e meio. Ia fazer oito passados dois meses. Ele morreu em junho de 65. Eu fiz anos em agosto. É obviamente brutal. Brutal por aquilo que é a perda e brutal porque apesar de sermos muito jovens percebemos o sofrimento dos pais.

Um miúdo com oito anos percebe o sofrimento dos pais e o sofrimento dos pais que perdem um filho, como sabe, é uma coisa brutal. Isso é efetivamente uma marca que o destino me quis meter aos oito anos de idade e que fica.



Há ali uns anos em que a pessoa se lembra muito do irmão, depois esquece um bocado. Depois quando tem 18, 19, 20, 21, 30 tende a esquecer. Quando passa ali a franja dos 50 começa outra vez a reviver muito mais o passado do que quando tinha dez anos.

Penso que é assim, quanto mais velho se é, eu não tenho 80 anos, mas penso que as pessoas que têm essa idade têm mais presente na sua memória o passado longínquo do que aquilo que é o passado recente.

Portanto, essas marcas mais profundas na nossa vida surgem no momento em que acontecem e depois surgem lá mais à frente outra vez com mais força. Aquilo que é superficial não fica tão facilmente na memória, como é evidente.

Que reflexos teve o Colégio Alemão na sua vida?

As pessoas costumam dizer que teve um reflexo de disciplina. Sou um tipo mais metódico, mais programado, mais disciplinado, num maior esforço de racionalidade, o que não quer dizer que as pessoas não sejam emotivas. Isso é um erro muito grande que as pessoas fazem de análise.

Sou um tipo mais metódico, mais programado, mais disciplinado, num maior esforço de racionalidade, o que não quer dizer que as pessoas não sejam emotivas. Isso é um erro muito grande que as pessoas fazem de análise.

A componente emotiva temo-la praticamente todos. Conseguimos lidar melhor ou pior com ela e, portanto, nós podemos fazer um esforço de racionalidade e sermos mais bem-sucedidos ou menos bem-sucedidos, mas a emotividade está em todos. Um bocadinho mais, um bocadinho menos mas está em todos nós.

Costumam dizer que as mulheres são mais emotivas do que os homens. Não. A emoção está lá nos dois patamares. Elas sublimam é talvez pior que os homens essa emotividade no momento de a exteriorizar.

No Colégio Alemão dizem que há um maior esforço de racionalidade, haverá. Mas o meu perfil está pouco moldado por isso. Está muito mais moldado por aquilo que que eu sou de forma inata e daquilo que é o momento envolvente em que eu vivo, em que todos nós vivemos.



Isso molda-me muito mais culturalmente, no sentido amplo da palavra do que propriamente a educação que tive. Também marca um bocadinho mas eu tive colegas do Colégio Alemão que depois não têm exatamente esse perfil.

Direi que muitos têm esse perfil ou quase todos mas não é porque o colégio os moldou é porque eles já o tinham de certa forma e, por isso, se adaptaram a um colégio daquele género, caso contrário eram postos fora.

A quantidade de alunos que eram convidados a sair aos quatro anos, cinco, aos seis ou sete, até à antiga quarta classe eram muitos. Eram convidados a sair por não acompanhar o colégio por diversas razões, uma das quais seria provavelmente essa componente, desse perfil.

O que é que sonhava ser quando crescesse?

Tirando aqueles primeiros momentos da vida em que os miúdos, um quer ser polícia, outro quer ser detetive. No meu tempo, as miúdas queriam ser todas hospedeiras da TAP. Tirando isso, que não diz nada, a partir do momento em que eu me conheci melhor e tenho de decidir o curso que vou tirar, nunca tive assim nenhuma ideia especial. Dizer assim: sempre quis ser economista ou isto ou aquilo ou arquiteto, não!


Tinha ali um pequeno dilema. Eu achava que se fizesse aquilo que eram os testes psicotécnicos (na altura faziam-se testes psicotécnicos). Quando era muito miúdo até só se faziam em Lisboa. Era preciso vir a Lisboa fazer os testes psicotécnicos. Não havia quem os fizesse no Porto.

Depois no meu tempo em que eu os podia fazer e tinha de decidir se era ciências ou letras, eu não quis fazer o teste porque achava que se fizesse, a profissão que me ia dar em primeiro lugar era jurista. Era advogado. E eu não queria tirar um curso que não tivesse matemática porque eu gostava muito de matemática. Então pensava: vou ser um mau estudante de direito mas posso ser um grande advogado e se o teste diz isso, o que é que eu faço? Além disso teria de ir estudar para fora de casa, para Coimbra.

Direito não havia no Porto, no meu tempo. Então engenharia, engenharia civil, engenharia química é que me passou pela cabeça. Tem a matemática mas também é matemática a mais. Também não sou assim tão matemático.



Se calhar economia faz aqui um compromisso entre as duas coisas. Tem ali uma certa componente até das letras mas depois tem uma componente técnica, matemática, de raciocínio lógico muito grande e foi assim que eu fui parar à economia no equilíbrio destes fatores.

Não foi daquelas coisas que eu dizia: desde pequenino que eu queria ser economista! Até porque em pequenino não se sabe o que é ser economista. Lembro-me de a minha filha ser pequenina e dizer: "Oh pai o que é um economista? O que é que tu fazes?" E a resposta não é simples de dar.

Sente que está a fazer aquilo que sempre quis? Em relação à profissão e à política?

A política é algo de natural. Não é forçado. Uma grande parte das pessoas, hoje, entra para a política de uma forma que não é a melhor. Muitos entram da melhor forma para contribuir, mas muitos entram porque um amigo traz e porque vê forma se singrar na vida nesse patamar.

No meu tempo, eu entrei para a política ainda antes do 25 de Abril. Quem entrou antes do 25 de abril ou logo a seguir ao 25 de abril, não entra por isso. Entra por princípios, entra por valores e, portanto, o que é que acontece? Entra de uma forma natural. Nem sabe que entra. É a vida que o empurra para ali e no meu caso foi assim.

Nunca fiz projetos para ser político. Entrei assim de uma forma normal e as coisas sucederam-se. O que é que eu fiz para ser alguma coisa na política? Nada.

Quando com 15, 16 anos começo a ter a primeira atividade política, ainda antes do antigo regime porquê? É porque eu me revoltava com coisas que existiam, que eu não gostava e como eu andava no ensino alemão, tenho o contraponto da Alemanha que era muito diferente.

Lá era uma democracia, aqui era uma ditadura. Coisas tão diferentes. Eu até tinha simpatias partidárias na Alemanha, aqui nem havia partidos, mas devia haver. Eu queria aquilo. E, portanto, entro de uma forma normal e natural na política.

Nunca fiz projetos para ser político. Entrei assim de uma forma normal e as coisas sucederam-se. O que é que eu fiz para ser alguma coisa na política? Nada. A primeira coisa que eu fui foi agente partidário, da Juventude Social-democrata. Não fiz nada para ser. Fui Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto, o primeiro não comunista e primeiro presidente. O que é que eu fiz para isso? Não fiz nada.

Fui estudante. Envolvi-me na política e, de repente, escolheram-me a mim como candidato e o que é que eu fiz para ser deputado? Não fiz nada. Militava no PSD, ia às reuniões, falava e um dia escolheram-me. O que é que eu fiz para ser secretário-geral do partido? Não fiz nada. Ou para ser vice-presidente ou para ser presidente da Câmara do Porto ou da Junta Metropolitana? Não fiz nada. As coisas sucederam-se de uma forma normal. Portanto, a política é assim.



A questão da profissão obviamente, como lhe dizia, responder à minha filha, quando ela era pequenina, o que é um economista? Não é linear, porque um economista faz muitas coisas. Por exemplo, eu hoje na principal profissão que tenho que é o chamado caça cabeças - Head Hunting – tenho de escolher os altos quadros das empresas, administradores das grandes empresas. Por exemplo, o curso de gestão é um curso muito transversal.

Eu não tenho um curso de gestão. No meu tempo era junto: economia e gestão. Eram cinco anos em que tínhamos cadeiras de economia, a lógica da macroeconomia e gestão micro mas na lógica da gestão.

Portanto, gestão é um curso muito transversal. Pode fazer muitas coisas com o curso de gestão. Não tem que ser contabilista ou gestor financeiro. Na economia é um pouco mais restrito. Portanto, dentro daquilo que é a profissão de economista naturalmente que há coisas para as quais eu estarei mais inclinado ou menos inclinado dentro do muito que se pode fazer na profissão de economista.

Foi muito namoradeiro?

Um bocadinho [risos]! Fui, acho que sim.

Tem até um episódio com os seus amigos, na altura da sua juventude, em que estão com um grupo de alunas universitárias. Como já tinha dito aos seus amigos que ia às quatro da tarde para casa, foi. É sempre assim na sua vida? Nunca muda nada?

Se calhar eles precisavam de mim para entabular conversa porque eu tinha alguma conversa. [Risos] Por isso é que se calhar eu devia ter ido para Direito. Nesse aspeto, sou assim. Até já fui mais um bocadinho. A idade depois molda a pessoa mas eu fui sempre muito rigoroso comigo mesmo. Lembro-me de pessoas que me conhecem me dizerem isso.

Lembro-me da Dr.ª Manuela Ferreira Leite me dizer muitas vezes em conversa: “Você é muito rigoroso consigo próprio”! E esse rigor comigo, hoje, existe bastante mas um pouco menos do que aquilo que era com 30 anos ou com 20 e tal anos.
Lembro-me da Dr.ª Manuela Ferreira Leite me dizer muitas vezes em conversa: “Você é muito rigoroso consigo próprio”.
Esse episódio é um episódio único mas que ilustra efetivamente. Se eu realmente tinha um compromisso, tinha um teste, um exame ou seja o que for. Só tinha três dias para estudar e precisava de quatro ou cinco, tinha que aproveitar os três dias. Por mais engraçadas que as garotas fossem, eu tinha aquele compromisso e não podia ser.

Agora, tenho as minhas fragilidades. Eu não sou um robô nem sou um super-homem. Tenho as minhas fragilidades. Sou um ser humano normal mas faço esse esforço. Repito: com a idade um bocadinho mais condescendente comigo. Mas a idade põe-nos mais condescendentes connosco e com os outros. Compreendemos melhor os outros e também me compreendo melhor a mim, se calhar.

Foi pai depois dos 40. O que é que mudou na sua vida?

Mudou muito mas a primeira coisa que muda é o cuidado com a minha saúde e o cuidado com o meu futuro. Ou seja, se eu não fosse pai, se eu não tivesse ninguém que dependesse de mim, a não ser a afetividade de quem me rodeia, dos meus amigos, que precisam de mim pela afetividade e eu preciso deles, mas enfim a vida é o que é, eu desvalorizava mais a minha presença neste mundo.

A partir do momento em que nós somos pais, nós percebemos que temos de ter mais cuidado com o nosso futuro porque já não é só o nosso futuro. Isso é a principal transformação que eu noto, no momento em que fui pai, que na minha opinião foi tarde demais. Devia ter sido uns anitos antes.



Fui ainda em tempo porque se não fosse em tempo, não o era. É da minha maneira de ser e, por isso, até é que só tenho uma filha. Não tenho dois, três nunca teria talvez, precisamente por causa da idade porque eu faço as contas e então já teria uma idade muito avançada.

Não é que eu esteja contra quem faz isso mas não me sentia confortável. Portanto, se eu pudesse ter decidido completamente, de forma completamente livre, sem condicionamentos que a minha vida teve, eu hoje diria que teria sido pai, quatro ou cinco anos mais cedo.

Lembra-se de alguma história engraçada ou caricata que tivesse passado com a sua filha quando era pequena?

Há sempre muitas. Todos temos muitas. Lembro-me, por exemplo, de uma em que era muito pequenina, já andava e dizia algumas palavras, e estava naquelas cadeiras, mais presa, e não comia a sopa. A mãe dizia: Marta, come a sopa, come a sopa, come a sopa. Há aí meninos pobrezinhos que querem comer e não têm. Tu não comes, come a sopa. E ela olha assim para a minha mulher e diz: Mãe dá esta sopa aos meninos pobrezinhos! [Risos] Pequenina, mal falava. Tenho outras mas esta marcou-me mais. Também dá para advogada, ela. Tem a resposta na ponta da língua.

Onde é que começou a sua consciência política?


Começou ali por volta dos 15, 16 anos. Começa ali muito pouco tempo antes do 25 de Abril mas não começa num dia com hora marcada. Sou desperto para isto. Aliás, o meu pai teve uma responsabilidade muito grande por eu hoje não poder dizer que fui um preso da PIDE. Houve um encontro na Faculdade de Ciências, que é hoje a Reitoria do Porto, aí eu ainda era estudante do secundário. Foi por uma unha negra que eu não pude dizer que também fui preso pela PIDE, apesar de ser muito jovem.

Era um encontro de estudantes contra o regime e eu lá estava certinho para estar ali às três ou quatro da tarde e na hora do almoço, o meu pai ia almoçar a casa, proibiu-me de sair.

Eu não sei se o meu pai percebeu que eu ia ou se a minha mãe lhe disse porque percebeu. O meu pai proibiu-me de sair de casa e eu não saí. Todos os que foram à reunião, para aí uns 100, foram todos presos pela PIDE, detidos, etc. e só saíram no dia seguinte.

Naquela altura, eu respirei de alívio. Passados uns meses deu-se o 25 de abril. Eu que podia dizer que era um preso da PIDE. Foi por uma unha negra que eu não pude dizer que também fui preso pela PIDE, apesar de ser muito jovem.



Tem pena?

Hoje, olhando para trás, era uma experiência que se calhar era engraçada. Na altura seria completamente desengraçada. Já viu, o que era o meu pai ser chamado à PIDE para me ir tirar de lá como foram os pais de muitos outros? Tinham menos de 18 anos. A maior parte teria mais de 18 anos, andavam no ensino superior, mas havia alguns do secundário. Com certeza que hoje era uma história que eu podia contar, que fica cortada a meio. Não a posso continuar.

E como é que se tornou num político?

Mas eu sou político? Eu nem sei bem se sou político. Eu ando na atividade política mas eu sou um bocado diferente do comum dos políticos. Alguns até dizem que sou um pouco ingénuo. Digo aquilo o que não se deve dizer, o que vai na alma e na política não se deve dizer isso.
Eu ando na atividade política mas eu sou assim um bocado diferente do comum dos políticos. Digo aquilo que não se deve dizer.
Portanto, na medida em que ocupei cargos políticos posso dizer que sou político mas a única coisa que me motiva particularmente é o ter determinadas convicções, o achar que há determinadas coisas na sociedade que estão mal e hoje, se calhar, até haverá mais coisas más do que há dez ou 20 anos atrás.

Portanto, o que me motiva, onde eu vou buscar forças para todos estes obstáculos e para toda esta enorme dificuldade que é a vida política num patamar alto, é à convicção. Há gente que vai buscar à ambição, vai buscar à vaidade. Eu tenho reparado muito nisso.

O único combustível forte, que pode alimentar o motor, que tem que ser potente para subir uma subida muito íngreme e muito difícil de subir, só podem ser as convicções. É as que eu tenho, se eu as perder, o motor não funciona.

Já disseram muitas vezes que tem um perfil austero. É assim?

Isso carece de uma explicação mais pormenorizada. Eu nas relações com as pessoas, nas relações pessoais, não tenho perfil austero nenhum. Dir-lhe-ei que em muitas circunstâncias até serei fraco. Nalgumas circunstâncias até devo dar um murro na mesa em relações pessoais e não dou. É o contrário do que possam pensar, não sendo um bananas.

Agora, naquilo que são as minhas convicções profundas, os meus valores e os meus princípios, aí é que há um nível de inflexibilidade muito elevado, muito superior àquilo que é o normal das pessoas. Eu acho que as coisas devem ser desta maneira. Não é correto em nome dos valor
Não tenho perfil austero nenhum. Dir-lhe-ei que em muitas circunstâncias até serei fraco. Nalgumas circunstâncias até devo dar um murro na mesa em relações pessoais e não dou. É o contrário do que possam pensar, não sendo um bananas.
es, em nome da ética, em nome dos princípios. E depois a maior parte das pessoas têm tendência a aligeirar.

Uma vez não são vezes e eu aí não! Eu sou de uma firmeza muito grande, ligada àquilo que são as minhas convicções mais profundas e isso depois dá talvez a imagem de: é teimoso, é arrogante, é uma falha.

E se me disser: Então não muda? Pode mudar. Queria mudar se conseguisse? Talvez fosse mais feliz se mudasse mas para o mundo era melhor que as pessoas fossem mais firmes e mais fiéis aos seus valores porque os nossos valores são quase todos comuns.



Nós todos sabemos que, por exemplo, a gratidão, que é uma regra ética não tem tradução num direito. Não posso dizer: quem é ingrato leva três anos de cadeia mas todos nós percebemos que não devemos ser ingratos porque se todos formos ingratos ninguém faz nada por ninguém.
O mundo é uma selva. Era melhor que fossemos todos mais firmes.
O mundo é uma selva. É por isso que o mundo evolui e a gratidão torna-se um valor ético. Todos o temos mas alguns em determinadas circunstâncias, por comodismo, podem dizer: sou ingrato porque me dá jeito. Era melhor que fossemos todos mais firmes.

Não estou a dizer que não falho, mas é nesse tipo de coisas que eu tenho uma firmeza muito grande. Talvez pudesse ser um pouco mais feliz se a abandonasse mas zangava-me comigo. Eu posso-me zangar com muita gente, é sempre desagradável. Comigo próprio é o primeiro passo para me zangar com os outros também. O melhor amigo de mim próprio tenho que ser eu. Tenho que estar bem comigo.

Com uma agenda sempre tão ocupada, o que é que lhe sobra para fazer nos tempos livres?

Em momentos como este que estou a viver não sobra tempo nenhum. Quando tenho uma agenda mais ocupada, imagine quando era autarca, era muito ocupado mas não era 24 horas por dia. O que é que eu faço? Procuro fazer algum exercício físico, ler, procuro coisas que me dão satisfação, por exemplo, construir a minha árvore genealógica, fazer investigação sobre a minha família em documentos antigos, navegar um pouco na internet e ir vendo coisas diferentes.

Hoje, a internet para o bem e para o mal, mais para o bem do que para o mal, é um mundo onde nós podemos descobrir e aprender muita coisa.A mensagem que eu durante muitos anos tive no meu telemóvel era: "Aprende sempre qualquer coisa"!

No tempo em que os telemóveis se desligavam [à noite] e se voltavam a ligar de manhã. Ligava-se de manhã o telemóvel e se eu quisesse colocava uma mensagem para mim próprio e a mensagem que eu durante muitos anos tive no meu telemóvel era: "Aprende sempre qualquer coisa".

Isto estava escrito em alemão porque em alemão é uma coisinha pequenina: “Lerne immer etwas” e “aprende sempre qualquer coisa” não cabia no telemóvel. Então eu ligava o telemóvel e todas as manhãs lia: “Lerne immer etwas”.

Quer dizer o que é que eu hoje vou aprender? E procurava sempre de todas as experiências menos positivas ou negativas tirar o positivo para me enriquecer. Para que eu amanhã saiba um pouco mais do que aquilo que sei hoje.



E esse é um certo fascínio que eu tenho, que quando tenho tempo livre para refletir, o faço. Confesso-lhe que neste momento não tenho tempo livre para fazer essa reflexão. É sempre a andar, sempre a andar.

Quando tenho algum tempo livre também gosto de ler e refletir e ver como é que posso crescer, não em tamanho, que já não passo de 1,74m, mas o crescimento em termos do conhecimento, da capacidade de entender o mundo, de melhorar a minha capacidade cultural, no sentido de mais capacidade para entender o que me rodeia: a sociedade, Portugal e até o próprio mundo.

Descobriu alguma coisa sobre os seus antepassados?

Tanta coisa. Depende dos ramos de famílias mas há ramos em que eu já consegui ir até 1600 e tal. Tenho muita coisa. No ramo principal, ramo principal é uma forma de dizer, eles são todos principais. Basta que um trisavô não exista para nós não existirmos. Basta que alguém que eu descobri em 1600 e tal, um avô de avó, de avó, basta que um não exista, tudo aquilo era diferente e eu já não existo. Mas aquilo que eu considero o ramo principal “Rio”, esse não vou tão longe porque depois ele vem do Norte de Espanha e fica ali por volta de 1760, 1770. Não consigo ir mais para trás.



Quer dizer se eu tiver tempo livre, se eu me reformar, poderei ir para a Galiza, para Lugo, mais propriamente, e tentar investigar mas depois também tenho que ir para o Brasil. Todos nós temos parentes no Brasil. Num dos casos viviam numa componente, em São João do Príncipe, que já não existe esse espaço, perto do Rio de Janeiro.

Ainda toca bateria?

Raramente. Eu toquei assim de uma forma mais seguida num conjunto da escola, antes do 25 de Abril. Na altura em que comecei a dar os primeiros passos na política.

A política começou a ocupar o espaço da bateria, em parte. Agora toco muito pouco. Toco pior viola que bateria. Só sei dar uns acordes mas nas férias, por exemplo, toco mais um bocadinho de viola. Venho das férias a tocar melhor mas depois deixo de tocar outra vez.



E o hóquei em patins? Teve pena de não ter seguido essa carreira?

Tenho, muita pena, muita pena! Naquela pergunta que me faz se a educação foi muito rígida. Foi demasiado rígida. Era demasiado rígida para muitos miúdos, para quase todos nos anos 60.
Foi um dos sonhos de criança que efetivamente não se realizaram. Vim a ser depois atleta federado mais tarde (...) mas eu não tinha o potencial no atletismo que tinha no hóquei em patins.
Portanto, eu nos anos 60, 70 não fui jogador federado de hóquei em patins porque o meu pai dizia: Não podes ser porque tu tens é de estudar. O teu tempo tem de ser todo para estudar. Não vais perder tempo nisso. Eu jogava hóquei em patins no pátio dos prédios.

Jogava muito bem, muito bem. Dois de nós foram federados, um no Futebol Clube do Porto outro no Infante Sagres. Jogaram. Foram grandes jogadores. Eu jogava tão bem ou melhor do que eles e não treinava como eles e, portanto, na altura tinha muita pena. Foi um dos sonhos de criança que efetivamente não se realizaram.



Vim a ser depois atleta federado mais tarde, de atletismo, quando já mandava um pouco mais em mim mas eu não tinha o potencial no atletismo que tinha no hóquei em patins.

Nunca pensou desobedecer ao seu pai?

Não. Não, porque poucos de nós faziam uma coisa dessas nos anos 60, acho eu. Quando fazíamos penso que já estávamos num caminho muito torto. Porque era preciso uma revolta muito especial para ter a força para o fazer. Isso já entrava na componente da marginalidade. Não é marginalidade, criminalidade mas à margem da sociedade, das regras básicas da sociedade e, portanto, não. Esse desobedecimento não.

Desobedecer no sentido de falar com os amigos e dizer umas asneirolas quando o meu pai dizia que não se devia dizer, isso sim. Assim desobedecer, não. Antes de desobedecer comecei a discutir com eles coisas em que não estava de acordo e isso sim. Começou a acontecer lá para os 17 anos.

Qual é que é o seu prato preferido? Tem algum?

Gosto muito de lampreia à bordalesa, embora reconheça que é para comer três vezes no ano. Não é como comer um bife com um ovo a cavalo. Gosto de bacalhau à Brás, gosto de rojões, gosto bastante daquela comida mais própria do Minho, tripas à moda do Porto, mais próprias dessas regiões do país, que é de onde eu venho. É natural que eu esteja mais ligado a essa gastronomia.

Com o que é que perde facilmente a paciência?

Talvez com a estupidez. A hipocrisia. Mas a estupidez quando é de propósito é hipocrisia. E no caso da política, o que é que é o politicamente correto? É a hipocrisia. É por isso que eu não gosto daquilo que é o politicamente correto e o mediaticamente correto.
O que é que é o politicamente correto? É a hipocrisia. É por isso que eu não gosto daquilo que é o politicamente correto.
Não entro em loucuras de negar que isso existe, de ignorar que isso existe e que tem de haver um certo equilíbrio mas dizer aquelas frases feitas, a chapa cinco que se diz naquela circunstância, em que ninguém acredita, é uma hipocrisia que a mim me toca. E na vida também, não é só na política.

Se calhar, nunca fiz essa reflexão em profundidade, tinha de andar agora um mês a pensar nisso e a falar com outras pessoas para pensar alto, mas eu quando disse a estupidez, se calhar corrigindo porque se for estupidez porque a pessoa não tem capacidade não me irrita nada. Coitada da pessoa. É quando ela é ligada à hipocrisia.

Que livros é que andam consigo?

Quando estou mais longe de um qualquer problema, os livros que andam comigo são de História ou de uma coisa que eu goste. E à medida que o tempo avança, nós gostamos mais de história. Andam livros, poucos de política, alguns de economia e ultimamente têm andado alguns ligados ao nutricionismo e à saúde e à prevenção da saúde e à alimentação.

Por acaso o que anda neste momento até é mais ligado a isso. Mas depois eu tenho que ler este papel ou aquele e o livro não há meio de sair do sítio. Estou a lê-lo devagarinho porque põe-se sempre qualquer coisa à frente.

Na sua moção de estratégia global disse que “O PSD precisa de se reencontrar consigo próprio para se reposicionar no lugar que é seu”. E que lugar é esse?

O lugar do PSD é o lugar de alternar com o partido socialista, ser o maior partido português. O PSD neste momento, em número de deputados, ainda é o maior partido português mas em número de câmaras municipais, que é um indicador muito importante, está longe de ser o maior. O maior é o PS. Tem 161 e nós temos, salvo erro, 98. Juntas de Freguesia não sei o número mas o PS tem mais do que o PSD.

O lugar do PSD é "ter um projeto de tal maneira robusto para o país que ponha os portugueses perante um grave dilema: voto no PS ou voto no PSD?"Portanto, o lugar do PSD é de em qualquer eleição, seja autárquica seja europeia, seja legislativa ou até presidencial relativamente ao candidato que se possa apoiar, estar sempre ali na linha da frente.

E nós olhamos para as autárquicas, para as penúltimas e para as últimas e os resultados do PSD estão muito longe disso e as autárquicas são muito importantes porque são a verdadeira implantação do partido.

É muito mais do que o número de deputados que se tem, que é muito mais volátil. O PSD teve por exemplo dez por cento no Porto, onze por cento em Lisboa e eu não quero culpar, porque era injusto, os candidatos que tivemos. É o partido como um todo que não foi capaz porque também não foi capaz em muitos outros sítios, que não apenas Lisboa ou Porto e concelhos limítrofes.



Portanto, o lugar do PSD é esse: ter um projeto de tal maneira robusto para o país que ponha os portugueses perante um grave dilema: voto no PS ou voto no PSD? Pelo menos este dilema tem de existir e não haver uma décalage muito grande em que se diz: voto neste porque o outro não é alternativa a nada. Não estou a dizer que é assim o PSD neste momento.

Se ganhar, o que quer para os anos da sua liderança?

Quero uma alternativa e um projeto credível para o país que saia do politicamente correto. Que seja uma coisa com frontalidade, que eu diga com frontalidade aos portugueses, que o PSD diga com frontalidade aos portugueses que está disponível para abandonar aquele discurso politicamente correto, que diz tudo e não diz nada e que se toca nos problemas, mesmo nos problemas mais complexos do país.

O país só vai para a frente se nós tivermos a coragem de mexer naquilo que é a componente estrutural, aquilo que estruturalmente está débil. Não vamos a lado nenhum se andarmos apenas na superfície, a gerir a superfície e a procurar que o dia de amanhã traga uma notícia que nos é mais agradável a nós do que aos nossos adversários. Não devemos ser ingénuos. Devemos olhar também para isso.



Mas o país e, particularmente, a geração que vem atrás de nós, à qual pertence em primeiro lugar o futuro, também nos pertence a nós, mas infelizmente nós vamos acabar como é lógico e os que vêm atrás, que são mais novos é que vão usufruir ou ser penalizados pelo futuro que nós estamos a construir. Isso é uma regra de ouro. Isso é uma regra ética.

Quem está na vida pública tem em primeiro lugar de pensar nas consequências futuras da sua decisão ou da sua não decisão. E isso é aquilo que é dificílimo mas se eu estou metido nisto é para tentar. Se for para fazer igual aos outros então venham outros, até mais novos, que é o tempo deles. Se estou aqui com mais experiência da vida é justamente para isso.


Este é o seu maior desafio?

Este não sei se é o meu maior desafio. Já tive desafios muito grandes na minha vida. Agora se ganhar então vou às legislativas e aí é para ser ou não ser primeiro-ministro de Portugal e aí sim, será o maior desafio. Que desafio pode um português ter na política maior do que esse? Estou a falar na política, não estou a falar na parte pessoal, como é lógico.

O que é que podemos esperar de Rui Rio na oposição?

Eu espero não descambar para aquilo que muitos fazem que é entrar pela politiquice, criticar tudo e mais alguma coisa, contar meias verdades sobre o Governo, se eu tiver na oposição, contar mentiras, inventar casos, andar a reboque da comunicação social mais sensacionalista.

Conto não fazer isso, conto ser igual a mim próprio, procurar com seriedade construir uma alternativa e conseguir captar a simpatia das pessoas pela credibilidade dessa alternativa, relativamente àquilo que são os grandes problemas do país.



Não estou a dizer que o PSD se abstenha de intervir na conjuntura, tem aliás um grupo parlamentar a quem em larga medida compete fazer também isso mas no global, não descurando essa componente conjuntural, acima de tudo ter uma visão estratégica, estruturada para o país. Colocar em cima da mesa os verdadeiros problemas do país, ainda que possam ser impopulares. Procurar explicar isso às pessoas.
Eu espero não descambar para aquilo que muitos fazem que é entrar pela politiquice, criticar tudo e mais alguma coisa e contar meias verdades sobre o Governo, contar mentiras e inventar casos.
No limite, se depois as pessoas não entenderem nós demos o melhor de nós próprios às pessoas e temos a consciência tranquila.

Para bem do país, eu acho que é assim que deve ser e o país está a precisar de alguém que faça assim, na esperança de que se alguém fizer assim, os outros acabem por ser obrigados a fazer a mesma coisa e o país saia a ganhar.

Já disse que não se fechava a entendimentos. Que relação é que mantém com António Costa?

Se me perguntar quando foi a última vez que falei com ele já nem me lembro. Mas tenho ideia que foi numa inauguração no Porto há um ano ou dois atrás, onde por acaso eu estava e ele inaugurou. E antes disso nem sei quando é que foi porque a nossa relação vinha dele ser presidente da Câmara de Lisboa e eu ser presidente da Câmara do Porto, que eram duas câmaras que estavam sempre muito de costas voltadas e havia muita rivalidade.Porque é que os líderes de diversos partidos se hão-de odiar? Isso evita o diálogo que é absolutamente vital para o futuro de Portugal.

Nós entendemos na altura que deveríamos contrariar isso e colaborar e estou completamente de acordo. Portanto, fizemos essa colaboração. Foi aí que nasceu essa relação. Já tínhamos sido deputados em conjunto mas há muitos com quem eu fui deputado em conjunto.

Agora há uma coisa absolutamente importante. Esse relacionamento de respeito mútuo existe. Eu acho isso positivo. Porque é que os líderes de diversos partidos se hão-de odiar? Isso evita o diálogo que é um diálogo absolutamente vital para o futuro de Portugal. O que é que o Dr. António Costa me deve? Nada. O que é que eu devo ao Dr. António Costa? Nada. Ambos estamos livres para decidir o que quer que seja.

Agora é preciso que as coisas também sejam de uma dada maneira, ou seja, o que é que o Dr. António Costa me deve? Nada. O que é que eu devo ao Dr. António Costa? Nada. Ambos estamos livres para decidir o que quer que seja, coisa diferente é se o Dr. António Costa me tivesse nomeado para alguma coisa ou eu lhe devesse alguma coisa. Aí constrangia-me.

Não estou constrangido em nada. A partir daí há um relacionamento de respeito mútuo. É mau? Eu acho que é bom, relativamente a ele ou a qualquer outro líder partidário. Eu acho que é mau quando os líderes partidários, no calor da luta, degradam a sua relação, o diálogo deixa de poder existir. Quem perde? Portugal. Acho eu.

Está a referir-se a Pedro Santana Lopes?

Não sei. Estou-me a referir a quem quiser. Estou agora a falar de mim mas estou no quadro de uma campanha, isso é verdade.

Que problemas é que tem vontade de ver resolvidos se for eleito primeiro-ministro? Que prioridades tem?

[Risos] Diversos. Muitos. Mas isso tem de ser tudo cadenciado. Em primeiro lugar tem de ter uma economia mais competitiva, de modo a poder dar melhor qualidade às pessoas, melhor nível de vida às pessoas. No quadro dessa economia mais competitiva, onde Portugal possa vender produtos com maior valor acrescentado e, por isso, pagar melhores salários, tem depois a riqueza que daí advém desse crescimento económico, ser utilizada de uma forma socialmente mais justa.

Isto exige uma gestão da despesa pública muito diferente daquela que temos vindo a fazer ao longo dos anos e é um desafio estrutural muito grande porque passa por uma coisa muito grande que se chama a reforma do Estado. Só aqui já lhe estou a dizer uma coisa enorme mas no qual o país tende a balançar.

Se me perguntar por exemplo sobre a qualidade da democracia, que é também absolutamente vital e que se tem vindo a degradar, precisa de uma reforma do regime no sentido de reforçar e revitalizar a qualidade da democracia. No quadro destas duas coisas em conjunto, precisa de ter um país muito mais equilibrado, não só do ponto de vista social que já lhe referi, como do ponto de vista territorial.

Não pode ter um país completamente centralizado na sua capital e um pouquito no Litoral e na área metropolitana do Porto e depois ter o grosso do país a desaparecer, completamente desertificado porque aquilo que tem de esperar é que amanhã ainda esteja pior. Se não fizermos nada, melhor é que não vai ficar.

Como é que uma pessoa pode ficar no interior do país se não há emprego no interior do país? Tem aqui desafios estruturais enormes...

O slogan da sua candidatura é “Hora de Agir”. Considera que os portugueses falam muito e agem pouco?

Esse slogan é muito virado para dentro. Quando se diz “É hora de Agir”, isso nasce na sequência de umas eleições autárquicas, em que se as de 2013 foram muito más, as de 17 ainda foram piores, com resultados piores e que põe o PSD numa situação frágil.

Se nós não temos os pés bem assentes na terra e se não olhamos para a situação do PSD e não dizemos assim: “Temos de agir”, nós podemos amanhã no Porto e em Lisboa, em vez de ter dez por cento e 11, podemos ter cinco e seis por cento. E eu penso que não é isso que as pessoas querem.



Temos de ser racionais. Não temos de estar no politicamente correto: “Um grande partido, somos sempre”, isto é conversa do politicamente correto, a tal conversa com toque de hipocrisia. Não! Estamos nesta situação! Então se queremos sair desta situação, a primeira coisa é fazer bem o diagnóstico. Não é andar cá com hipocrisias e o diagnóstico é este. É hora de agir! Não é hora de ir abaixo! É hora de ir para cima. Esta é que é a lógica das coisas.

O que é que se quer ter na próxima eleição em Lisboa? Dez por cento, baixar um ou 12 por cento? Nem uma coisa nem outra que é pouco. Vamos ver é se voltamos a ter a hipótese de discutir e ganhar. Então para isso nós temos de agir.

Portanto, naquele momento perante aquele choque daquele resultado, o slogan ou o tema de campanha foi escolhido em função disso, no sentido de dar um impulso para cima à pessoas e dizer: é hora de agir! Não é hora de ir abaixo! É hora de ir para cima. Esta é que é a lógica das coisas.
O economista do Colégio Alemão
Rui Fernando da Silva Rio nasceu no dia 6 de agosto de 1957, no Porto. Fez os ensinos primário e secundário no Colégio Alemão, tendo-se licenciado em Economia na Universidade do Porto. Foi presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto e membro do seu Conselho Pedagógico.

Em 1982 teve a sua primeira experiência profissional como economista, tendo sido assessor, para a área administrativa e financeira, de uma empresa comercial ligada essencialmente à indústria têxtil, atividade que foi interrompida em 1984 para cumprimento do serviço militar obrigatório e depois retomada em 1985.

Economista no Banco Comercial Português, no fim da década de oitenta, colaborou na implementação da Direção de Mercado de Capitais.

Ao longo da sua carreira foi vogal do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos e administrador não-executivo da empresa Metro do Porto. Das diversas ações de valorização académico-profissional consta um estágio no Bundesbank, em Frankfurt, para aperfeiçoamento técnico no âmbito da criação da União Económica e Monetária.

Rui Rio desenvolveu ainda uma intensa atividade política, iniciada antes da revolução do 25 de Abril. Foi Vice-Presidente da Comissão Política Nacional da Juventude Social Democrata (JSD) entre 1982-84, sendo simultaneamente membro da comissão política nacional do PSD, durante a presidência de Pinto Balsemão e posteriormente de Mota Pinto.



Mais tarde, como deputado à Assembleia da República pelo círculo eleitoral do Porto, teve especial intervenção na Comissão Parlamentar de Economia, Finanças e Plano entre 1991 e 2001, tendo também assumido as funções de Porta-Voz da bancada social-democrata para as questões económicas e financeiras.

Foi secretário-geral do partido, durante a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, e posteriormente vice-presidente do grupo parlamentar. Entre 1996 e 1998 foi vice-presidente do Instituto Sá Carneiro. Foi também vice-presidente do PSD, sob as lideranças de Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite. De 2003 a 2005 foi presidente do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.

Foi condecorado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e pelo Papa Bento XVI, com a Grã-Cruz da Ordem de S. Gregório Magno.

Foi eleito Presidente da Câmara Municipal do Porto em 2002, tendo sido reeleito em 2005 e 2009. Ao terminar o seu terceiro mandato em Outubro de 2013, conseguiu ser a personalidade que, na história da cidade, durante mais tempo ocupou este cargo.

É atualmente consultor da empresa de recursos humanos Boyden e da empresa Neves de Almeida.