Nordeste: a via rápida que traz turistas, leva população

Na Casa do Trabalho do Nordeste fazem-se trabalhos artesanais: tecelagem e bordados. É aqui que começa a viagem pelo concelho com menos população da ilha de São Miguel.

Linda Luz /
Sentada a meio da sala dos teares, com duas grandes sacas de lã para trabalhar, está Eva Nunes. É da ilha Terceira, emigrou para os Estados Unidos da América, mas quis o destino que viesse parar ao Nordeste.

Todas as sete senhoras que aqui trabalham, enchem-se de orgulho ao ver cada peça acabada. Mas os preços a que os produtos são vendidos, podem não corresponder à realidade. A responsável, Tânia Arruda, admite isso mesmo e acrescenta: se não fossem os programas de emprego, o dia-a-dia desta instituição seria bem mais difícil. Quem aqui trabalha sabe-o bem. Aceitam de bom grado este emprego dito popularmente “precário”. Só não aceitam que se formem estereótipos em volta dos programas de emprego.

Ora de pé a receber turistas, ora sentada ao tear. Fátima Leite sabe o que faz. A saia que está a fazer tem como destino o Canadá.
Do tear para o folclore açoriano, do folclore açoriano para os palcos. Vários palcos. Ver o trabalho que fazem vestido noutra pessoa é motivo de orgulho.

O concelho do Nordeste tem 4 mil 439 pessoas. Praticamente 1500 são jovens até aos 15 anos ou idosos com mais de 65.

Nesta visita ao concelho do Nordeste, visitamos também o grupo de folclore de São José da Salga. Dos poucos mais de 30 elementos, mais de metade tem menos de 25 anos.

Diana Costa é um exemplo. Tem 23 anos e é ela a presidente do grupo. Estudou no Porto, mas sempre com a ideia de regressar à sua terra, contrariando assim outro dos estereótipos desta terra: que quando os jovens vão, não voltam.

Mas há quem definitivamente queira sair. Por ficar longe do maior centro da ilha, Ponta Delgada, por não haver muitas oportunidades culturais ou de emprego… há quem prefira sair.
Se devia haver medidas para atrair população? Devia. Mas como?
Tânia Machado tem um negócio com o marido, Pedro Machado. Ele relacionado com informática, ela com moda.

Antigamente o negócio corria melhor. Havia mais população no concelho, a conjuntura era outra e não havia “scut”, que é como quem diz “via rápida”.

Há um antes e depois. Em outubro de 2011 foi inaugurada a via rápida. Ponta Delgada – Nordeste faz-se agora em 45 minutos. Tornou-se mais fácil para cada habitante ir a Ponta Delgada fazer compras, por exemplo. Dizem estes empresários que foi bom para o turismo, para a saúde… mas não para o comércio tradicional.

Otília Melo era empresária na altura. “Comerciante”, diz ela. Tinha uma bomba de gasolina e um café. Encontramo-la a fazer uma visita às amigas do centro de convívio da Feteira Grande, em Santana.

Para Otília, cada vez mais o Nordeste está a tornar-se um dormitório. É preciso soluções para fixar população? Sim. Mas quais?
Nordeste é o concelho mais pequeno de São Miguel.
O seu despovoamento e o envelhecimento da população está a provocar o fecho de escolas primárias. Em freguesias onde havia duas escolas, estão agora ambas de portas fechadas.

490 alunos do pré-escolar ao secundário. O primeiro ciclo tem 131 crianças.

A filha mais velha de Luísa Pereira conseguiu frequentar o 4.º ano na Salga. A filha mais nova teve de fazer um percurso diferente. Ao 3.º ano foi transferida para a escola da Achadinha e ao 4.º foi mesmo para a escola da vila.

Nordeste é um concelho rural onde conseguimos ouvir os galos do vizinho. A calmaria da vida acontece aqui.
Com cascatas, trilhos e miradouros de cortar a respiração, com uma vila pequena e acolhedora, o Nordeste é um autêntico postal pintado a aquarela.

O mais pequeno município da ilha de São Miguel talvez não seja tão pequeno assim.
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