"O primeiro-ministro caiu nos braços do Chega, Montenegro devia ter pudor"

Com o risco de o Chega aprovar a proposta do PS de um aumento das pensões mínimas, José Luís Carneiro diz que Luís Montenegro não tem o direito de falar no regresso de uma coligação negativa entre PS e Chega.

Andreia Brito, Natália Carvalho - Antena 1 /

Imagem e edição vídeo de Pedro Chitas e Íris Pereira

Sobre isso, em entrevista ao podcast da Antena 1 Política com Assinatura, José Luís Carneiro diz que “o primeiro-ministro devia ter pudor” e acusa de ser Montenegro quem "integrou todo o discurso do Chega” e de ser “um primeiro-ministro que caiu nos braços do Chega”.

O líder dos socialistas também não poupa António Leitão Amaro, que acusou o PS de “reengenharia demográfica e reengenharia política do país”.

Para José Luís Carneiro, o discurso do ministro da Presidência está “à direita da extrema-direita".
“Governo traiu os eleitores”

José Luís Carneiro afirma que o Governo, “logo na apresentação do Programa do Governo, traiu a confiança dos eleitores, porque em campanha eleitoral nunca assumiu publicamente que queria fazer a revisão da Lei de Bases da Saúde, nem nunca falou com os eleitores sobre querer alterar as leis do trabalho”.

Admite que Luís Montenegro cumpriu o prometido: retirou do Orçamento do Estado para 2026 matérias às quais o PS se mostrou contra. Mas, José Luís Carneiro avisa: “Vamos ver o que é que lhes quer fazer”. “Terá o nosso combate nos termos e nos locais próprios”, reforça.

E reafirma que, com a “abstenção exigente” do PS, o primeiro-ministro não se pode desculpar com o PS para não cumprir os compromissos que assumiu com os portugueses, por exemplo em termos de habitação, saúde, rendimentos e concretização do Plano de Recuperação e Resiliência.
“Frouxo, eu?! O país tem é muitos fanfarrões e bazófias”

Nesta entrevista ao podcast da Antena 1 Política com Assinatura, José Luís Carneiro recusa ter sido “frouxo” no sentido de voto da proposta de Orçamento de Estado.

O grande problema que o país tem é ter muitos fanfarrões que apresentam planos atrás de planos, mas depois espreme espreme e não sai absolutamente nada”, ironiza. “Na minha terra até se usa outra expressão, que é o bazófias”.

Não responde se vê Luís Montenegro como um fanfarrão ou um bazófias. “Eu estou a utilizar esta expressão para aqueles que acusam a oposição socialista de ser frouxa”, remata.
Nacionalidade: Governo aliou-se ao Chega, diz José Luís Carneiro

Quando olho para estas propostas que o nosso Governo está a fazer, caminhando para a desumanidade do Chega, digo que isto é inaceitável”.

Na opinião do secretário-geral do PS, as políticas de imigração do Governo “ofendem os valores fundadores dos partidos que formam esta coligação (a AD)”.

À pergunta da editora de política da Antena 1: “o Governo preferiu aliar-se ao Chega nesta matéria?”, José Luís Carneiro responde: “isso parece-me claro”.
André Ventura: entrada de leão, saída de sendeiro

José Luís Carneiro garante que não é intenção do PS levar a Lei da Nacionalidade ao Tribunal Constitucional. Os socialistas preferem esperar pela apreciação do presidente da República.

No entanto, o líder do PS adianta que “parece-me que é uma matéria que carece de uma leitura muito atenta”.

E acusa o Chega de ter recuado no que diz respeito à perda da nacionalidade. “É uma daquelas entradas de leão e saída de sendeiro, mas não é a primeira, tem acontecido várias vezes”, critica.
Recusa que o PS seja responsável pelo grande fluxo migratório que Portugal tem registado. José Luís Carneiro não aceita a crítica por parte do Governo de Montenegro que acusa o PS de ter implementado uma política de imigração de “portas escancaradas”, fruto do estabelecimento da manifestação de interesse.

É uma conversa falsa, que não tem fundamento”, defende.

Garante que são "afirmações produzidas a partir da ignorância de quem desconhece o que se passou na Europa de 2014 e 2015 até à atualidade”.
Governo está a falhar: “tem havido falhas incompreensíveis” na Administração Interna

Garante que não coloca a culpa na Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública nem nos seus profissionais, no entanto José Luís Carneiro denuncia “uma debilidade na coordenação que é devida ao Sistema de Segurança Interna”.

O secretário-geral do PS diz mesmo haver “problemas graves no desenvolvimento de políticas de segurança interna que tinham vindo a ser desenvolvidas e consolidadas pelos Governos do PS”.

E acrescenta: “Em várias funções de soberania o Governo tem falhado, esta é uma das áreas onde tem havido falhas incompreensíveis”.
Seguro: apoio num tempo oportuno e convicto

Foi um apoio no tempo oportuno e foi um apoio convicto” - é desta forma que José Luís Carneiro se refere ao apoio do Partido Socialista à candidatura a Belém por parte de António José Seguro.

Relembra que, na altura, o país estava a quatro meses das eleições presidenciais e que dentro da Comissão Nacional do PS apenas dois membros se abstiveram em relação a esse apoio.

O líder do PS garante que caso Seguro ganhe as eleições “não me verão a reivindicar a vitória do Partido Socialista”, porque, diz, eleições para presidente da República não são eleições partidárias.

José Luís Carneiro acredita ainda que António José Seguro irá à segunda volta e adianta que gostava de ter o apoio de António Costa à candidatura de Seguro às eleições presidenciais de janeiro do próximo ano. “Todos gostariam de ter o apoio de António Costa, a começar por mim”, conclui.
Nas eleições autárquicas de 12 de outubro, em Loures, Ricardo Leão foi reeleito. O autarca socialista foi quem, em julho, decidiu demolir dezenas de habitações ilegais, gerando críticas até no interior do PS.

José Luís Carneiro manteve e mantém a confiança política em Ricardo Leão e relembra que na altura, ele próprio, inteirou-se das várias possibilidades de alojamento para as famílias que ficaram sem casa. Uma responsabilidade, diz, que devia ter sido assumida pela Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Rosário Palma Ramalho.

Devia ser o papel do Governo, nomeadamente o papel da ministra do Trabalho e da Solidariedade, numa resposta que não pode ser apenas deixada às câmaras municipais”, defende.
Entrevista de José Luís Carneiro ao podcast Política com Assinatura conduzida pela editora de política da Antena 1, Natália Carvalho.
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