"Os trabalhadores estão fartos". CGTP marchou no Porto e em Lisboa contra pacote laboral

Milhares de pessoas integraram, na tarde deste sábado, uma marcha da Praça do Marquês de Pombal até ao final da Avenida da Liberdade, em Lisboa, para contestar a reforma da legislação laboral planeada pelo Governo de Luís Montenegro. Depois de uma primeira manifestação, durante a manhã, no Porto, a CGTP levou à capital uma mensagem: impõe-se, para a Intersindical, “derrotar” um “profundo ataque aos direitos dos trabalhadores”.

Carlos Santos Neves - RTP /
"Os trabalhadores estão fartos de estarem sempre sujeitos a circunstâncias que lhes penalizam a vida" António Cotrim - Lusa

Cerca das 15h30, várias centenas de pessoas perfilavam-se já no Marquês de Pombal. De entre os manifestantes, erguiam-se cartazes com palavras de ordem como “35 horas para todos”, ou “não ao pacote laboral”.

A marcha contaria com personalidades da esquerda parlamentar, desde logo do PCP, do Bloco de Esquerda e do Livre, nomeadamente o secretário-geral dos comunistas, Paulo Raimundo, a ex-coordenadora bloquista e candidata presidencial Catarina Martins e a deputada Patrícia Gonçalves, do partido de Rui Tavares. Também o candidato do PCP a Belém, António Filipe, marcou presença. A manifestação deste sábado decorreu sob o mote Mais Salários e direitos - Outro rumo é possível!, contando com trabalhadores dos distritos de Leiria, Castelo Branco, Santarém, Lisboa, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Algarve.

Ouvido pela RTP, durante o desfile na Avenida da Liberdade, o secretário-geral da CGTP afirmou que “os trabalhadores estão fartos de estarem sempre sujeitos a um conjunto de circunstâncias que lhes penalizam a vida”.

“A questão central, neste momento, é informar os trabalhadores, discutir com os trabalhadores e trazê-los à rua para lutar”, vincou Tiago Oliveira.

A Intersindical - que durante a manhã promovera já uma primeira ação de protesto no Porto - protagoniza no atual momento um “grande momento de luta no sentido de derrotar a intenção do Governo”, nas palavras do dirigente da Intersindical. Trata-se, segundo Tiago Oliveira, de “um profundo ataque aos direitos dos trabalhadores”.Na mais recente reunião da Concertação Social, a 10 de setembro, o Governo prometeu apresentar uma nova versão do anteprojeto de revisão da legislação laboral “com evoluções” em matéria de família e parentalidade. Isso mesmo foi adiantado pela UGT e pela Confederação Empresarial de Portugal.

Questionado sobre o aparente recuo do Governo em parte das medidas, Tiago Oliveira sublinhou que o que o poder executivo fez “foi apresentar um conjunto de mais de 100 medidas”.

“Há uma coisa que os trabalhadores nunca nos perdoariam. Os trabalhadores nunca perdoariam à CGTP que se invertesse uma ou outra medida num pacote de mais de 100 e que as restantes 98 medidas fossem penalizadoras para os trabalhadores”, frisou.
“É um ajuste de contas”
A jornada nacional de luta deste sábado culminou com uma intervenção do secretário-geral da Intersindical perante os manifestantes. Tiago Oliveira repetiu as críticas ao que descreveu como “um dos maiores ataques feitos aos trabalhadores”.
”Estamos aqui hoje na Avenida da Liberdade e muitos milhares estiveram também de manhã no Porto, respondendo a este apelo da CGTP de virmos para a rua, de virmos lutar, rejeitar e exigir ao Governo a retirada do pacote laboral, um dos maiores ataques feito aos trabalhadores. Estamos aqui a exigir que sejam revogadas as normas gravosas que já hoje marcam a legislação laboral e não a tornar ainda pior”, acentuou.

“Confrontámos o Governo com os problemas dos trabalhadores, com a precariedade – 1,3 milhões de trabalhadores com vínculos precários, 54 por cento dos jovens com vínculos precários -, confrontámos o Governo sobre a desregulação cada vez maior dos horários de trabalho – 1,9 milhões de trabalhadores são já hoje vítimas de horários de trabalho desregulados -, confrontámos o Governo sobre os salários – a necessidade de aumentar significativamente os salários, o poder de compra”, enumerou.Em resolução, a CGTP propõe-se avançar “com toda a determinação no desenvolvimento de todas as formas de luta necessárias, com todos os que queiram convergir, com a unidade na ação a partir dos locais de trabalho, para derrotar o pacote laboral, valorizar o trabalho e os trabalhadores, por uma sociedade mais justa, ancorada nos valores de Abril e na Constituição da República Portuguesa”.


“Confrontámos o Governo com a contratação coletiva, a necessidade de revogar as matérias que já hoje existem na legislação laboral em vigor e que atacam a contratação coletiva, como a caducidade, e a necessidade de reintroduzir plenamente o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. Confrontámos o Governo com a liberdade sindical e os bloqueios constantes que existem à intervenção dos sindicatos nas empresas e locais de trabalho, o acesso dos trabalhadores à informação, o ataque à democracia que este caminho nos conduz. Confrontámos o Governo com o aumento do custo de vida, nos bens de primeira necessidade, na habitação, na energia. Confrontámos o Governo com a fiscalidade e afirmamos que sim, é preciso rever os escalões e as tabelas do IRS mas de forma a permitir que quem tem menos tenha uma vida melhor e não no sentido de favorecer os mesmos de sempre”, prosseguiu o secretário-geral da CGTP.

“Sabem qual foi a resposta? Não nos revemos nas vossas posições. É isto que temos”, enfatizou Tiago Oliveira, para acrescentar que “as mais de 100 matérias que este Governo do PSD e do CDS apresentam de revisão das leis do trabalho têm objetivos profundos. É um ajuste de contas”.

c/ Lusa

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