Política
Política com Assinatura
"País está preso por arames. Não sei em que país vive o primeiro-ministro"
"Não sei em que país vive o primeiro-ministro e os membros do Governo, mas não deve ser no mesmo país em que eu vivo". Em entrevista ao podcast da Antena 1 "Política com Assinatura", o secretário-geral do PCP acusa o Governo de acentuar os problemas em vez de os resolver.
O líder comunista chama ainda a atenção para os quatro milhões de portugueses que vivem com os apoios do Estado e que sem esses apoios viveriam na pobreza, o que para Paulo Raimundo “é dramático”. As condições económicas dos trabalhadores são o verdadeiro problema do país e não a questão da imigração, é o que defende Paulo Raimundo.
O secretário-geral comunista caracteriza as medidas do Governo relativas à imigração e à nacionalidade como uma “hipocrisia” porque são apresentadas para resolver um problema que não é o problema do país e porque “basta ter 500 mil euros e não há um problema de nacionalidade, da cor da pele, da religião, da cultura”, afirma.
“Se eu tiver 500 mil euros, chego cá, pago, passo cá 14 dias, e pronto, está resolvido o problema da nacionalidade. Isto não é hipócrita?”, questiona Paulo Raimundo.
O líder do PCP acrescenta ainda que “não alimento essa ideia de aproximação à agenda do Chega, eu acho que isto é a agenda do Governo”.
Um populista, um do Governo, outro do centrão
Paulo Raimundo até admite contactos com outros partidos para encontrar um candidato a Belém, mas no fim o PCP escolheu dentro do partido e lançou António Filipe como candidato comunista a Belém.
Confessa que “olhámos para o quadro que estava, fizemos os contactos que entendemos fazer para perceber quais eram os andamentos, mas não nos podemos substituir à vontade dos outros”.
Acrescenta que “temos um candidato do setor populista (Gouveia e Melo), um outro candidato suportado pelo Governo (Marques Mendes) e temos mais um candidato que se afirma como o candidato do centrão (António José Seguro)”.
Perante este cenário o PCP decidiu avançar com a candidatura de António Filipe para Presidente da República porque “era preciso que aparecesse uma candidatura que desse expressão política a amplos setores diversos que não se reveem em nenhuma dessas vertentes”. “Não correu tudo bem”, é a avaliação de Paulo Raimundo ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa.
De entre o que não correu bem, o secretário-geral do PCP destaca a convocação de eleições, pelo presidente da República, em 2022, a propósito do chumbo do Orçamento do Estado.
“Não havia nenhuma razão objetiva para que se tivesse precipitado eleições". Na opinião de Paulo Raimundo “a partir desse momento o próprio Presidente autocondicionou-se nas soluções futuras”.
"Não nos peçam para nos aliarmos ao PS"
Paulo Raimundo responsabiliza o PS por aquilo que considera ser o “desastre” de gestão de Carlos Moedas.
O líder do PCP considera que “90 por cento das opções (de Carlos Moedas) só foram possíveis porque o Partido Socialista, na Câmara Municipal de Lisboa, as permitiu”.
Raimundo elege o PS como o maior adversário do ponto de vista autárquico e por isso “não nos peçam para nos aliarmos a uma força que, na prática, contribuiu de forma direta para a situação que temos hoje na cidade de Lisboa”. “Manter as 19 autarquias que temos, aumentar o número de eleitos e conquistar novas autarquias porque temos condições para o fazer”, Paulo Raimundo resume assim aquilo que considera vir a ser um bom resultado nas eleições autárquicas de 12 de outubro.
Para Paulo Raimundo “é legitimo, é justo” retomar a gestão da câmara da Moita e da autarquia de Montemor, dá como exemplos. Define o PCP como “uma grande força autárquica” e relembra que “somos mais de quatro mil eleitos, não é propriamente uma coisinha”. Entrevista conduzida por Natália Carvalho, editora de política da Antena 1.