Política
Presidenciais
Pobreza e austeridade no dicionário da campanha
As diferenças ideológicas e de personalidades e a preocupação com a pobreza são armas cada vez mais agitadas por Cavaco Silva e Manuel Alegre. O primeiro considera “chocante” que o critiquem por atacar a exclusão. O segundo apela à eleição de um Presidente “que não confunda” o país “com um manual de finanças”. Os demais candidatos dividem-se entre a denúncia das “chagas” da austeridade e a luta contra a abstenção.
A candidatura de Cavaco Silva reuniu ontem à noite mais de um milhar de apoiantes para um jantar em Castelo Branco. Precisamente no mesmo pavilhão que vai acolher, na quinta-feira, um evento da campanha de Manuel Alegre com a presença de José Sócrates. Alegre esteve, uma vez mais, no ponto de mira do candidato apoiado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP). Mas também as opções políticas do Governo socialista, que o Presidente à procura da reeleição considera não ter adotado “as medidas certas no tempo certo”.
Na perspetiva de Cavaco, impõe-se explicar “porque não foram tomadas as medidas certas no tempo certo, quais são as finalidades que se pretende alcançar com os sacrifícios que agora nos são pedidos, qual é a justiça na distribuição dos sacrifícios que agora são impostos aos portugueses”. E o candidato apoiado pela direita parlamentar apresenta-se como detentor do “conhecimento” e da “experiência que é decisiva para enfrentar situações complexas, mesmo imprevisíveis”, e superar a “encruzilhada em que o país se encontra”. “Mas para resolver o problema do nosso país é também importante que os nossos políticos falem verdade aos portugueses, que lhes expliquem porque chegámos à situação em que nos encontramos”, insistiu.
Cavaco Silva isolou, a dada altura, Manuel Alegre para vislumbrar “uma total falta de sensibilidade social” no modo como o candidato apoiado por PS e Bloco de Esquerda reagiu, há cerca de um mês, a uma intervenção do Presidente da República sobre a pobreza. Alegre disse-se, então, “chocado” depois de Cavaco ter afirmado que os portugueses deviam sentir-se “envergonhados” por haver pessoas com fome. Cavaco disse-se agora “objeto de uma crítica verdadeiramente chocante”: “É chocante, mas o certo é que alguns ousaram fazê-lo”.
“Portugal de pé”
A partir do Algarve, Manuel Alegre preencheu a noite política com um exercício de separação de águas quanto a personalidades, percursos políticos e até mesmo conceções de cultura. O Presidente da República, advogou o antigo deputado socialista, “não pode comportar-se como um aluno bem comportado, de forma acrítica”: “Não quero um Portugal de joelhos, eu quero um Portugal de pé. Quero Portugal na Europa mas com uma voz crítica, defendendo a igualdade entre todos os Estados soberanos”.
“Precisamos de um Presidente que não confunda Portugal com um manual de finanças. A economia é importante, mas um país não é só economia, porque o país não é uma sebenta de finanças. O país é os Lusíadas, a Mensagem de Fernando Pessoa, é Teixeira Gomes, são os seus grandes poetas e as suas grandes figuras”, vincou Alegre durante um comício em Faro.
Ao falar do significado do escrutínio de 23 de janeiro, Alegre dramatizou com a ideia de que está em causa “uma mudança de democracia e uma mudança de regime”. “Temos de decidir se queremos um Presidente que esteja perto daqueles que mais sofrem, ou um Presidente que esteja mais perto dos que mais têm e dos que menos sofrem e que são aqueles, quase todos, que estão nas suas comissões de honra e política”, lançou o candidato, de dedo apontado a Cavaco Silva. Adiante, procurou acentuar o que o aparta do adversário: “Candidato-me por uma República entendida como serviço público, como primado pelo interesse geral, contra o clientelismo, contra o amiguismo, contra a promiscuidade entre negócios e política”.
“Chagas sociais”
Francisco Lopes esteve na Voz do Operário, em Lisboa, onde disparou fortes críticas ao Governo, que ontem se socorreu de dados preliminares da execução orçamental para garantir que o défice das contas públicas de 2010 vai ficar abaixo da meta de 7,3 por cento. Aquilo que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças apresentaram como “um grande troféu”, condenou o candidato comunista, corresponde a “chagas sociais e indignidade” para milhões de portugueses.
“Como é que alguém se pode vangloriar de ter comprometido o desenvolvimento, de promover a recessão, o desemprego, a pobreza, a exclusão social? Vêm dizer: aqui está, um grande troféu. Que sociedade é esta que tem estes valores?”, questionou-se Francisco Lopes.
À intervenção de Sócrates e Teixeira dos Santos, o candidato presidencial do PCP contrapôs uma imagem: “Aqueles que fazem fila à porta da Segurança Social para ver se é mesmo verdade que já não têm direito ao apoio social que tinham na véspera, ou os que não querem acreditar que vão ter de devolver apoios que recebiam”.
“Reduzir a abstenção”
A lutar contra as sondagens e um aparente défice de popularidade, Fernando Nobre colocou ontem a tónica no combate à abstenção, ao tentar fazer passar a ideia de que a sua candidatura é a única que vai “permitir reduzir” esse “flagelo”. “Tenho encontrado inúmeras pessoas pelo país fora que me dizem que só vão votar porque existe a minha candidatura, que não é mais do mesmo, é uma candidatura diferente”, asseverou o candidato independente, que falava aos jornalistas durante uma visita ao lar dos Inválidos do Comércio.
Por sua vez, Defensor Moura elegeu a solidariedade como tema para a terceira jornada da campanha eleitoral. Em trânsito pelas lojas do comércio tradicional de Viana do Castelo, a sua terra natal, o deputado socialista procurou apoios para um trajeto que, admitiu, pode “ser difícil”. Mais tarde, numa visita a uma valência da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente, deu ênfase à “inclusão”: “É possível integrar todos os portugueses na vida quotidiana do país, é possível que o país recupere das suas dificuldades e possa integrar o contexto europeu de uma forma parceira com os outros países e não estar constantemente a pedir apoios, empréstimos e à espera dos bons olhos e boas ações dos outros países”.
Ao terceiro dia de campanha, José Manuel Coelho postou-se diante de um tribunal da Madeira para fazer a apologia de “uma vassourada na Justiça” e de um “novo Marquês de Pombal para o país”. O deputado regional madeirense descreveu mesmo o local como a sua “segunda casa”, tendo em conta os seus processos pendentes. Ali, acusou, “são perseguidos os democratas que combatem a corrupção”.
Na perspetiva de Cavaco, impõe-se explicar “porque não foram tomadas as medidas certas no tempo certo, quais são as finalidades que se pretende alcançar com os sacrifícios que agora nos são pedidos, qual é a justiça na distribuição dos sacrifícios que agora são impostos aos portugueses”. E o candidato apoiado pela direita parlamentar apresenta-se como detentor do “conhecimento” e da “experiência que é decisiva para enfrentar situações complexas, mesmo imprevisíveis”, e superar a “encruzilhada em que o país se encontra”. “Mas para resolver o problema do nosso país é também importante que os nossos políticos falem verdade aos portugueses, que lhes expliquem porque chegámos à situação em que nos encontramos”, insistiu.
Cavaco Silva isolou, a dada altura, Manuel Alegre para vislumbrar “uma total falta de sensibilidade social” no modo como o candidato apoiado por PS e Bloco de Esquerda reagiu, há cerca de um mês, a uma intervenção do Presidente da República sobre a pobreza. Alegre disse-se, então, “chocado” depois de Cavaco ter afirmado que os portugueses deviam sentir-se “envergonhados” por haver pessoas com fome. Cavaco disse-se agora “objeto de uma crítica verdadeiramente chocante”: “É chocante, mas o certo é que alguns ousaram fazê-lo”.
“Portugal de pé”
A partir do Algarve, Manuel Alegre preencheu a noite política com um exercício de separação de águas quanto a personalidades, percursos políticos e até mesmo conceções de cultura. O Presidente da República, advogou o antigo deputado socialista, “não pode comportar-se como um aluno bem comportado, de forma acrítica”: “Não quero um Portugal de joelhos, eu quero um Portugal de pé. Quero Portugal na Europa mas com uma voz crítica, defendendo a igualdade entre todos os Estados soberanos”.
“Precisamos de um Presidente que não confunda Portugal com um manual de finanças. A economia é importante, mas um país não é só economia, porque o país não é uma sebenta de finanças. O país é os Lusíadas, a Mensagem de Fernando Pessoa, é Teixeira Gomes, são os seus grandes poetas e as suas grandes figuras”, vincou Alegre durante um comício em Faro.
Ao falar do significado do escrutínio de 23 de janeiro, Alegre dramatizou com a ideia de que está em causa “uma mudança de democracia e uma mudança de regime”. “Temos de decidir se queremos um Presidente que esteja perto daqueles que mais sofrem, ou um Presidente que esteja mais perto dos que mais têm e dos que menos sofrem e que são aqueles, quase todos, que estão nas suas comissões de honra e política”, lançou o candidato, de dedo apontado a Cavaco Silva. Adiante, procurou acentuar o que o aparta do adversário: “Candidato-me por uma República entendida como serviço público, como primado pelo interesse geral, contra o clientelismo, contra o amiguismo, contra a promiscuidade entre negócios e política”.
“Chagas sociais”
Francisco Lopes esteve na Voz do Operário, em Lisboa, onde disparou fortes críticas ao Governo, que ontem se socorreu de dados preliminares da execução orçamental para garantir que o défice das contas públicas de 2010 vai ficar abaixo da meta de 7,3 por cento. Aquilo que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças apresentaram como “um grande troféu”, condenou o candidato comunista, corresponde a “chagas sociais e indignidade” para milhões de portugueses.
“Como é que alguém se pode vangloriar de ter comprometido o desenvolvimento, de promover a recessão, o desemprego, a pobreza, a exclusão social? Vêm dizer: aqui está, um grande troféu. Que sociedade é esta que tem estes valores?”, questionou-se Francisco Lopes.
À intervenção de Sócrates e Teixeira dos Santos, o candidato presidencial do PCP contrapôs uma imagem: “Aqueles que fazem fila à porta da Segurança Social para ver se é mesmo verdade que já não têm direito ao apoio social que tinham na véspera, ou os que não querem acreditar que vão ter de devolver apoios que recebiam”.
“Reduzir a abstenção”
A lutar contra as sondagens e um aparente défice de popularidade, Fernando Nobre colocou ontem a tónica no combate à abstenção, ao tentar fazer passar a ideia de que a sua candidatura é a única que vai “permitir reduzir” esse “flagelo”. “Tenho encontrado inúmeras pessoas pelo país fora que me dizem que só vão votar porque existe a minha candidatura, que não é mais do mesmo, é uma candidatura diferente”, asseverou o candidato independente, que falava aos jornalistas durante uma visita ao lar dos Inválidos do Comércio.
Por sua vez, Defensor Moura elegeu a solidariedade como tema para a terceira jornada da campanha eleitoral. Em trânsito pelas lojas do comércio tradicional de Viana do Castelo, a sua terra natal, o deputado socialista procurou apoios para um trajeto que, admitiu, pode “ser difícil”. Mais tarde, numa visita a uma valência da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente, deu ênfase à “inclusão”: “É possível integrar todos os portugueses na vida quotidiana do país, é possível que o país recupere das suas dificuldades e possa integrar o contexto europeu de uma forma parceira com os outros países e não estar constantemente a pedir apoios, empréstimos e à espera dos bons olhos e boas ações dos outros países”.
Ao terceiro dia de campanha, José Manuel Coelho postou-se diante de um tribunal da Madeira para fazer a apologia de “uma vassourada na Justiça” e de um “novo Marquês de Pombal para o país”. O deputado regional madeirense descreveu mesmo o local como a sua “segunda casa”, tendo em conta os seus processos pendentes. Ali, acusou, “são perseguidos os democratas que combatem a corrupção”.