"Portugal tem um problema de autoflagelação", constata António Costa
Antena 1
Em entrevista ao podcast da Antena 1 "Política com Assinatura, o presidente do Conselho Europeu aponta para o que considera ser um problema nacional: a "autoflagelação". É desta forma que António Costa avalia a ideia pré-concebida de que Portugal não tem aproveitado os fundos comunitários.
“A ideia de que aproveitámos mal, é uma ideia errada”, afirma, para acrescentar que os investimentos que fizemos no passado não podem ser avaliados com “os olhos de hoje”. Em entrevista concedida na semana em que Portugal assinala os 40 anos da entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE), o presidente do Conselho Europeu congratula-se com os avanços da Europa na política de habitação.
“Sem uma oferta pública de habitação não é possível regular o mercado”. António Costa recusa os louros de uma carta que enviou a Bruxelas como primeiro-ministro, mas assinala que tinha razão: “Finalmente a União Europeia assumiu a habitação como uma política essencial”.
António Costa considera positivo o facto de a habitação ter direito a Comissário Europeu e adianta que a Comissão Europeia, apresenta, entre o outono e o final do ano uma estratégia europeia para a habitação.
Matéria que será também elegível no próximo quadro financeiro plurianual da Comissão. António Costa defende que “foi um erro” a não suspensão do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) em toda a Europa.
Nesta entrevista, o presidente do Conselho Europeu diz que, tendo em conta o pico de inflação, a retoma da economia e o emprego que estava preservado, não fez sentido acelerar a execução do PRR.
O líder do Conselho Europeu acredita que “isso penalizou a execução”.
O ex-primeiro-ministro socialista antecipa alterações no próximo Quadro Financeiro Plurianual europeu. António Costa acredita que as verbas do PRR serão incluídas nesse orçamento europeu até porque duvida da execução total do PRR até agosto do próximo ano. Quanto ao investimento no mercado de capitais por parte dos fundos de estabilização da Segurança Social, António Costa diz que isso não passa por uma decisão em sede de Comissão Europeia, conforme sugeriu a Comissária Europeia Maria Luís Albuquerque.
Costa diz que o que poderá existir são “incentivos e um quadro regulatório para que haja, com segurança, investimento no mercado de capitais” por parte dos fundos de estabilização da Segurança Social. A sensação do aumento das desigualdades sociais e a sensação de falta de representação é o que está na base, na opinião de António Costa, do aumento dos partidos de extrema-direita na Europa.
Mas adianta que aquilo que disse sobre o populismo há uns anos, pode ter sido retirado do contexto. António Costa não poupa críticas a Israel, que acusa de estar a “desviar-se daquilo que é o exercício de legitima defesa” contra o Hamas pelos ataques no dia 7 de outubro de 2023.
Diz que “a situação em Gaza é absolutamente intolerável, é uma violação clara do Direito Internacional” e aguarda por isso pela avaliação que a União Europeia está a levar a cabo sobre o que se passa na Faixa de Gaza.
Adianta que teme que Israel “destrua fisicamente as possibilidades e a essência dos dois Estados”. Na opinião de António Costa, se a guerra começou e se a guerra continua na Ucrânia, a culpa é da Rússia. Defende por isso continuar a pressionar a Rússia através de sanções para que a guerra termine e apoiar a Ucrânia para que o país resista.
Acrescenta que “enquanto a Rússia não dá ouvidos ao Presidente Trump e à comunidade internacional” a Ucrânia será apoiada pela União Europeia, até porque a questão é mais ampla do que a Ucrânia. Está em causa, diz, um princípio fundamental do Direito Internacional. A entrada da Ucrânia na União Europeia “pressupõe necessariamente uma reforma da própria União Europeia”, defende António Costa para quem este alargamento, incluindo a entrada da Moldávia e da Geórgia, esta última se assim o decidir, e de todos os países dos Balcãs Ocidentais, é “um investimento geopolítico da maior importância”.
Garante que a Hungria não coloca bloqueios e que o trabalho de negociação com os ucranianos continua e elogia o desenvolvimento que tem sido levado a cabo pela Ucrânia.
Quanto ao investimento em Defesa, António Costa prefere olhar para o panorama internacional, dos 27 Estados-membros, e não país a país. “A Defesa europeia assenta num plano de defesa coletiva”, que desde logo tem como prioridade a defesa da fronteira leste.
A convicção de António Costa sobre a forma como a União Europeia geriu a crise económica durante a pandemia. O líder do Conselho Europeu fala mesmo de uma “aprendizagem que resultou muito dos erros que tinham sido cometidos na estão da crise da dívida soberana”. Entrevista conduzida pela editora de Política da Antena 1, Natália Carvalho.