Presidenciais. Catarina Martins e António Filipe contra o Governo e pacote laboral

Catarina Martins e António Filipe estiveram esta quarta-feira em debate na RTP. Os dois candidatos mostraram estar de acordo em vários pontos, mas António Filipe entende que a candidatura de Catarina Martins "não favorece a convergência".

Mariana Ribeiro Soares, Ana Sofia Freitas - RTP /
Pedro Pina - RTP

O debate arrancou com o tema da greve geral marcada para esta quinta-feira e os dois candidatos a Belém mostraram estar do mesmo lado em relação a este ponto.

António Filipe disse que espera que o Governo “olhe para a greve geral e retire esta proposta”, referindo-se à reforma laboral, que considera “um retrocesso profundo nos direitos dos trabalhadores”.

“Nenhum Governo responsável pode ficar indiferente perante uma manifestação desta dimensão”, disse, afirmando que se fosse presidente, “levaria ao limite os poderes presidenciais”.

Questionada também sobre a revisão laboral e se será “uma força de bloqueio”, Catarina Martins lembra que Mário Soares apoiou uma greve geral como presidente, em 1988, e que “deve ter sido por isso que Cavaco Silva lhe chamou força de bloqueio”.

“Se força de bloqueio é quem defende os trabalhadores contra um Governo que lhes quer tirar os direitos, será, mas isso não é bloquear o país, isso é desbloquear o país”, asseverou.

“Esta greve geral é um sinal que o Governo tem de ter outra proposta em cima da mesa para ser negociada”, acrescentou.
Questionados sobre o objetivo de Luís Montenegro de aumentar o salário mínimo para 1600 euros, ambos consideram-no irrealista.

A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda diz que o primeiro-ministro “está a gozar com as pessoas e é feio”. “Alguém acha que ele está a falar a verdade?”, questiona.

António Filipe concorda e diz que “um sinal claro de que ninguém leva isto é a sério é que confederações empresariais não protestarem”. “Nem eles acreditam nele”, afirmou.
Convergência à esquerda
António Filipe não critica Catarina Martins, que, lembra, tem toda a legitimidade para avançar para Belém, mas entende que a sua candidatura "não favorece a convergência".

Catarina Martins esclarece que se apresenta sabendo que tem apoios "para lá da sua origem política" e lembra que uma candidatura "pode ir para baixo e também pode ir para cima".

A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda não quer antecipar cenários e prefere esperar pela campanha eleitoral. 

António Filipe considera que "uma candidatura deve valer por si".
O papel do Presidente da República
Para Catarina Martins, um Presidente da República tem de ser a voz de quem está ao abandono e confessa que gostaria de ver um chefe de Estado que "fale menos dos jogos partidários e fale mais do país". 

Questionada sobre se defende um Presidente menos interventivo, a candidata sugere que a postura de Marcelo Rebelo de Sousa "é a errada". Dissolver a Assembleia da Republica, por exemplo, só se estiver em causa "o Estado de Direito Democrático". 

O candidato apoiado pelo PCP sublinha que a decisão de dissolver a Assembleia "não pode ser tomada de ânimo leve. A nossa Constituição é muito rica e isso deve ser levado a sério".
Guerra na Ucrânia
Passando à guerra na Ucrânia e a posição da Europa, António Filipe reiterou que “é completamente errado pensar que se chega à paz com o envio de armas”.

“Todas as oportunidades desde 2014 para haver uma solução de paz deveriam ter sido aproveitadas e não foram”, disse.

“Entre Putin e Zelensky venha o diabo e escolha”, disse o candidato apoiado pelos comunistas, afirmando que os presidentes da Ucrânia e da Rússia “são muito iguais, estamos perante elites corruptas”.

António Filipe lamentou ainda que haja “dois pesos e duas medidas” em relação à guerra na Ucrânia e ao conflito no Médio Oriente.

Catarina Martins também vê dois pesos e duas medidas, mas salienta que “independentemente do que se pense do Governo de Zelensky, a Ucrânia tem direito à sua soberania e tem o direito a defender-se”. “A invasão é injustificável”, sublinha.
A situação na Venezuela e Israel
António Filipe não tem dúvidas: "independentemente de quem esteja no poder na Venezuela, os interesses da comunidade portuguesa devem ser defendidos. Relativamente a María Corina Machado estamos de acordo, uma pessoa que quando soube que era Nobel da Paz foi ligar a Trump e a Netanyahu, está tudo dito".

Catarina Martins lamenta a escolha do Nobel da Paz e saúda "os músicos portugueses que anunciaram que não vão participar no festival da Eurovisão se Israel lá estiver".

A candidata a Belém pede ainda à RTP para "reavaliar a sua posição". Sobre essa matéria, António Filipe aplaudiu também a posição dos músicos.
Redes Sociais
António Filipe entende que este debate "faz todo o sentido", lembrando que é uma questão de cidadania".

Para Catarina Martins a utilização das redes até aos 16 anos tem desde logo a ver "com uma questão de saúde". "Está provado que as redes sociais têm um impacto muito negativo na saúde das crianças e dos jovens", disse.

Em relação ao discurso de ódio, a candidata rejeita "a falsa dicotomia em perder a privacidade dos cidadãos que utilizam redes sociais e desresponsabilizar as pessoas pelos crimes que se praticam nas redes".

A ex-cordenadora do Bloco de Esquerda avisa que não é preciso apertar na "vigilância individual sobre cada cidadão para conseguirmos responsabilizar as redes de comunicação pelos crimes que permitem que aconteçam".
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