PS e PSD admitem entendimento pós-eleições, Chega aponta "centrão"

por João Alexandre

Fotografias de Gonçalo Costa Martins

Apesar das divergências de fundo sobre o caso a envolver o primeiro-ministro e sobre a proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito a Luís Montenegro anunciada pelo PS, socialistas e social-democratas perspetivam entendimentos após as eleições legislativas antecipadas.

"Têm de se entender. Aliás, aquilo que se passa a nível da Europa e da evolução do sistema político faz com que as forças democráticas do centro, centro-esquerda e centro-direita tenham capacidade de compromisso e capacidade de entendimento. Capacidade de compromisso e capacidade de entendimento não é anularem-se", vincou, em declarações à Antena 1, o deputado e dirigente socialista António Mendonça Mendes.
No programa Entre Políticos, Mendonça Mendes, do PS, e Cristóvão Norte, do PSD, manifestaram divergências quanto à forma como os socialistas pretendem avançar com o escrutínio a Luís Montenegro, mas, pelo PSD, o deputado e vice-presidente da bancada 'laranja' sublinhou a importância de ambos os partidos assumirem compromissos futuros de diálogo.

"Eu estava preocupado com as condições de governabilidade após as próximas eleições, mas acompanho as declarações de António Mendonça Mendes na íntegra. Se desejo aquilo que está a acontecer nos Estados Unidos? Não desejo", argumentou Cristóvão Norte, que lamenta, no entanto, as decisões e posições do PS em relação ao caso a envolver a empresa da família do primeiro-ministro: "O Governo propôs 80 dias [de Comissão Parlamentar de Inquérito] e o PS, ao contrário do que se assinala, não propôs 90 dias. O PS propôs um período de 90 dias que poderia ser sucessivamente prorrogado".
O deputado social-democrata considera que a proposta do PS era limitada e sem sentido no âmbito dos inquéritos parlamentares.

"Era completamente incompatível a ideia do escrutínio sem que esse escrutínio se perpetuasse no tempo, assegurasse o regular funcionamento das instituições e não degenerasse na corrosão da confiança dos cidadãos. Isso não faria sentido rigorosamente nenhum perante um caso nuclear que avalia a idoneidade ético-moral do primeiro-ministro e em que se põe em causa as suas condições para desempenhar funções públicas", ressalva Cristóvão Norte.

E salienta:" O PS estava indisponível para votar moções de censura propostas por outros partidos. Ao mesmo tempo, requeria ao Governo que não apresentasse uma moção de confiança porque também estaria indisponível".

"Luís Montenegro está a tentar moldar a narrativa", diz Rita Matias


O Chega insiste que o primeiro-ministro ainda não deu os esclarecimentos necessários ao país e acusa Luís Montenegro de "desviar as atenções" do caso que está na origem da crise política.

"Percebemos que está a tentar moldar a narrativa. Os estudos de opinião dizem-nos que mais de 50 por cento dos portugueses acreditam que Luís Montenegro não tem condições para se recandidatar e, por isso, agora há uma tentativa de dizer o contrário, dizer que este Governo é muito popular, tentar desviar as atenções, tentar mostrar aquilo que o Governo foi capaz de fazer, sabendo que não foi capaz de fazer assim tanto quanto tinha prometido", diz, na Antena 1, a deputada Rita Matias.
Para a dirigente do Chega, o primeiro-ministro "falhou em toda a linha" em áreas como a saúde, a educação ou as forças de segurança, tendo ficado "sempre um pouco aquém" do que tinha prometido em campanha.

"Parece-me importante dizer que Luís Montenegro vai ficar para a história como o primeiro-ministro que desperdiçou uma maioria à direita histórica, porque há mais de uma década que não tínhamos uma composição da Assembleia da República assim, com mais deputados à direita do que à esquerda", sublinha Rita Matias, que confia que há margem para entendimentos com o PSD, mas não com o atual líder social-democrata: "Luís Montenegro não merece um voto de confiança, sobretudo pela arrogância com que veio ao parlamento e não quis esclarecer".
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