PS insiste na saída da ministra da Saúde: "Há muito tempo que já não assume as suas responsabilidades"

Um dia depois de José Luís Carneiro ter pedido ao primeiro-ministro para que avance para a demissão de Ana Paula Martins, os socialistas não cedem na exigência e insistem que a ministra da Saúde já não tem condições para permanecer no cargo.

João Alexandre - Antena 1 /
"Este Governo e esta ministra da Saúde colocaram o SNS em cuidados intensivos. A ministra há muito tempo que já não assume as suas responsabilidades, que já não tem autoridade política e o que temos visto ao longo do tempo é um agravar de todas estas circunstâncias", disse, na Antena 1, a deputada socialista Sofia Andrade, que, tal como o líder do PS, aponta a Luís Montenegro: "É o primeiro e último responsável político por tudo aquilo que se está a passar".

No programa Entre Políticos, a deputada frisou que, enquanto líder da oposição, Luís Montenegro não facilitou a tarefa ao Governo do PS e à forma como os socialistas geriram a pasta da Saúde - e defendeu que a área sempre teve problemas "complexos" para resolver.

"O PSD dizia desde a primeira hora, e desde a altura da campanha eleitoral, que resolver os problemas da saúde seria muito fácil, que conseguiria resolver tudo em 60 dias e que faria um plano de transformação e emergência para a saúde. Apresentou o plano, mas o que é certo é que as próprias medidas que estão contempladas nesse plano continuam maioritariamente na gaveta", lamentou a socialista.

No mesmo sentido, Sofia Andrade afirma que Ana Paula Martins e Luís Montenegro "continuam a não aprender" com o dia-a-dia da governação, até porque, aponta a deputada, o primeiro-ministro "disse que não haveria um corte" na Saúde, mas a proposta de Orçamento do Estado contém uma "diminuição de 10,1% para a aquisição de bens e serviços" no setor.
Os socialistas lamentam ainda a notícia do jornal Público que, esta semana, deu conta de que a Direção Executiva do SNS pediu aos hospitais para cortarem na despesa, mesmo que tal signifique abrandar consultas e cirurgias - uma notícia que mereceu a resposta do primeiro-ministro, que garante que não há qualquer pedido para cortar na despesa, mas um apelo à "eficiência" no SNS.

"É um acumular de situações. A ministra da Saúde teve muito tempo para mostrar algum trabalho", vincou a deputada Sofia Andrade, que sublinha que são várias as questões que exigem respostas de Ana Paula Martins, que é ouvida esta semana no parlamento durante a discussão do Orçamento do Estado.
PSD defende ministra e aponta "confusão" no PS
Apesar das críticas da oposição, o PSD não vê motivos para a saída de Ana Paula Martins e considera, inclusive, que há alguma "confusão" no PS, que aponta a porta de saída à ministra da Saúde.

"José Luís Carneiro pediu a demissão, mas depois foi à RTP retirar essas próprias palavras. Por isso, existe alguma confusão no PS e, até, nas suas próprias palavras", disse, na Antena 1, a deputada social-democrata Andreia Bernardo, que entende que a atual titular da pasta da Saúde tem tentado criar melhores condições num setor "difícil" de gerir: "É um problema que não existe há um ano, nem há dois anos, mas sim há mais de 10 anos. E que o Partido Socialista não conseguiu resolver e que não foi uma prioridade".

Em defesa da proposta orçamental, Andreia Bernardo sinaliza que a proposta do Executivo da AD contém o "maior" Orçamento do Estado para a Saúde.

"Se, para 2025, era 16,8 mil milhões de euros, para 2026, o Orçamento do Estado é de 17,3 mil milhões de euros. Isto quer dizer que existe uma aposta na saúde", aponta a deputada, que salienta: "Nós temos de tornar a carreira no SNS mais atrativa para trazer mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico e é isso que nós estamos a fazer. E isso vê-se porque existem mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos de diagnóstico".
Andreia Bernardo lamenta ainda o que entende por "demagogia" da oposição e assegura que o Governo vai dar resposta as anseios da população: "Ninguém vai ficar sem uma única consulta, nenhum português vai ficar sem um único tratamento e sem uma única cirurgia, ou sem conseguir ir a uma urgência médica. Estamos preocupados em resolver a vida das pessoas", acrescentou a deputada.
Iniciativa Liberal questiona quais os "cortes" que o Governo propõe para a Saúde: "Onde está a exigência?"
Os liberais, que, há cerca de um mês, sugeriram à ministra da Saúde uma "reflexão" sobre o sucesso dos planos de ação apresentados pelo Governo, querem saber se haverá cortes ou diminuição de desperdícios no ministério e defendem que uma "maior eficiência" no SNS não pode ser sinónimo de menos serviços prestados aos utentes.

"Nós gostaríamos era de perceber onde é que está a exigência e, por isso, a Iniciativa Liberal já fez um requerimento à ministra da Saúde. Primeiro, para saber se estas indicações dadas pelo Diretor Executivo do SNS [sobre cortes na despesa] são do conhecimento da ministra e garantir que não vai ser posto em causa o atendimento aos utentes no Serviço Nacional de Saúde", disse, na Antena 1, a deputada Angélique Da Teresa

No programa Entre Políticos, a deputada antecipou a audição da ministra Ana Paula Martins e avisou que a IL não vai desarmar nas perguntas à governante, em particular depois das mais recentes notícias sobre os pedidos de maior "eficiência" nos gastos com o setor.

"O que é verdade é que estamos a falar de demissões, seja de quem for - e, no caso do PS, da Ministra da Saúde -, mas, ninguém sabe onde é que vai ser cortado. Se houver uma garantia clara e concreta de que o que vai ser cortado são desperdícios, muito bem. Se os cortes forem com as indicações aparentemente dadas pelo Diretor Executivo do SNS, então haverá uma oposição feroz da Iniciativa Liberal", alerta a deputada liberal.

Na mesma linha, Angélique da Teresa acrescenta: "Não é à custa das pessoas que este Orçamento deve ser feito. Não é à custa das pessoas, é à custa do Estado".
PCP critica posição do PS "um dia após" ter viabilizado o OE:"Acho muito curioso", diz Bernardino Soares
Com muitas críticas ao caminho que tem sido seguido pelo Governo da AD, Bernardino Soares, ex-líder parlamentar do PCP, não poupa também nos reparos à forma como o PS tem reagido ao rumo da governação - com particular destaque para a área da Saúde.

"Acho muito curioso que o Partido Socialista centre as suas críticas numa tal falta de autoridade da ministra - ou de credibilidade ou do que quer que seja - um dia após ter viabilizado um Orçamento do Estado que corta de 10% na aquisição de bens e serviços no Serviço Nacional de Saúde. O Orçamento do SNS tem um aumento de 1,5%, ou seja, que é inferior à inflação, o que significa que vai haver uma diminuição real das disponibilidades", avisou o comunista, no programa Entre Políticos.

Segundo Bernardino Soares, que reitera que o principal problema não é o perfil de Ana Paula Martins, mas a "política que está a conduzir ao desmantelamento" do Serviço Nacional de Saúde, a proposta orçamental não só não é ambiciosa para o setor como fica aquém das necessidades.

"Se [o Governo] quiser cumprir o que está no Orçamento vai ter de encerrar muito mais serviços do que já está a encerrar agora, como, por exemplo, a obstetrícia e outros serviços que tem silenciosamente encerrado por esse país fora. Portanto, é evidente que não basta ter mais dinheiro para fazer melhor", diz.
Para o ex-líder parlamentar do PCP é essencial "gerir bem", mas, insiste, há questões que estão longe de ter solução com as atuais políticas: "Não se pode resolver um milhão de consultas marcadas que não estão a ser feitas e 200 mil cirurgias que estão por fazer, das quais 7500 de oncologia. Lembram-se quando, no início, o Governo deu uma grande prioridade à oncologia - até manipulando um pouco os sentimentos naturais das pessoas em relação a esta área?", questiona.
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