PS renova maioria absoluta nos Açores com “contexto nacional” em fundo

No rescaldo da maioria absoluta ontem reconquistada pelo PS nos Açores, com a eleição de 31 dos 57 deputados à Assembleia Legislativa da Região Autónoma, os líderes do PSD e do CDS-PP assumem-se como rostos de uma derrota que admitem ser indissociável do “contexto nacional”. Contudo, se Pedro Passos Coelho quis afiançar que “a estratégia” social-democrata para o país “se manterá firme”, Paulo Portas sublinhou que haverá “uma leitura” a fazer pelas “instâncias regionais e nacionais” do seu partido. Entre as hostes socialistas, Vasco Cordeiro, sucessor de Carlos César à frente do Governo Regional, prometeu “um novo ciclo”. E António José Seguro disse esperar que os “valores sufragados” pelos açorianos acabem por prevalecer em futuras legislativas.

RTP /
“Abre-se agora um novo ciclo que traz um futuro árduo”, antecipou o socialista Vasco Cordeiro Eduardo Costa, Lusa

Uma “vitória saborosa”. Foi assim que Vasco Cordeiro descreveu a maioria absoluta reeditada pelos socialistas nas eleições regionais dos Açores. O PS conquistou oito das nove ilhas da Região Autónoma. Só a Graciosa ficou pintada de laranja no escrutínio. Trinta e um dos 57 mandatos da Assembleia Legislativa pertencem agora ao Partido Socialista. O PSD elegeu 20 deputados e o CDS-PP apenas três. Bloco de Esquerda, CDU e Partido Popular Monárquico terão a mesma representação no parlamento regional – um deputado.Resultados totaisPS: 48,98% (31 mandatos)
PSD: 32,98% (20 mandatos)
CDS-PP: 5,67% (três mandatos)
PCP-PEV: 1,89% (um mandato)
BE: 2,26% (um mandato)
PPM: 0,08% (um mandato)
PDA: 0,49%
PCTP/MRPP: 0,32%
PTP: 0,44%
PPM/PND: 0,99%
MPT: 0,77%
PAN: 0,63%


Na noite de domingo, diante de centenas de apoiantes socialistas concentrados no coração de Ponta Delgada, o futuro presidente do Governo Regional dos Açores evitou estabelecer de forma explícita um laço decisivo entre a política de austeridade em curso no país e os resultados obtidos pelo seu partido no arquipélago. Preferiu declarar aberto “um novo ciclo”. Que acarreta “um futuro árduo”: “Todos temos de ter consciência e lucidez de que é com todos que conseguiremos ultrapassar esta fase de turbulência que vivemos”.

“Os açorianos, que já resistiram a tanto na sua história, saberão dar as mãos para um diálogo construtivo e também buscar as melhores soluções para ultrapassar com sucesso esta fase que vivemos”, acrescentaria Vasco Cordeiro, que chegou à baixa de Ponta Delgada acompanhado da mulher e do presidente cessante do Governo Regional, Carlos César.

Em Lisboa, António José Seguro também remeteu para “os analistas” os cálculos do impacto da governação de Pedro Passos Coelho nas escolhas do eleitorado açoriano. Mas sempre foi dizendo que alimenta agora a expectativa de que “os valores sufragados nos Açores” venham a ser “sufragados em Portugal na devida altura”.

“Há um significado muito importante que os açorianos quiseram dar, a adesão a uma via que concilia o rigor e a disciplina orçamental com o emprego e o crescimento económico. Os açorianos valorizaram a importância das funções sociais do Estado”, afirmou o secretário-geral do PS, para insistir, à frente, na constatação de que “a governação” socialista da Região Autónoma foi “clara e inequivocamente sufragada pelos açorianos”, que, enfatizou, “querem rigor e disciplina nas suas contas públicas e, simultaneamente, um Estado que desenvolva as suas funções sociais, que saia da crise colocando o emprego e o crescimento económico no topo das suas prioridades”.
“O contexto nacional”

Selada a maioria absoluta dos socialistas, a candidata do PSD açoriano à presidência do Governo Regional quis assumir “pessoalmente” e com “humildade democrática” a derrota. Sem se alargar em pistas sobre o seu futuro próximo na estrutura partidária. Berta Cabral, que fez assentar boa parte da sua estratégia eleitoral na ideia de que não enjeitaria “brigar” com o primeiro-ministro em defesa dos interesses do arquipélago, ouviu de Pedro Passos Coelho uma “palavra amiga e solidária”. E o reconhecimento de que os eleitores das ilhas não se alhearam do “contexto nacional”.Na noite eleitoral, os candidatos Artur Lima, do CDS-PP, Aníbal Pires, da coligação entre PCP e PEV, e Zuraida Soares, do Bloco de Esquerda, procuraram explicar a quebra de resultados dos seus partidos, face a 2008, com o efeito de bipolarização.

Paulo Estêvão, eleito pelo PPM, prometeu mover uma “oposição forte” ao futuro executivo de Vasco Cordeiro.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, leu a vitória do PS como “uma clara penalização da política nacional”, mas também como “um resultado que não é alheio à abusiva utilização em seu benefício dos recursos e meios do poder regional”.

Pelo BE, Luís Fazenda concluiu que “PSD e CDS foram penalizados pela política do Governo da República”.


“Tratou-se de uma eleição regional, mas evidentemente que o contexto nacional terá tido alguma influência nesse resultado. Cá estamos, nos bons momentos e nos maus momentos. Hoje é, portanto, um mau momento e uma noite difícil para o PSD nos Açores e também para o PSD nacional. Quero, no que me diz respeito e como presidente do PSD a nível nacional, assumir também a minha responsabilidade na derrota eleitoral que o PSD sofreu esta noite”, declarou Passos Coelho, conhecidas as primeiras projeções de resultados.

Adiante, Passos Coelho afirmaria que, não obstante a derrota, não mudaria uma vírgula ao rumo político do Governo da República: “Gostaria de dizer que, nos maus momentos por que o PSD passa em termos nacionais, fica a certeza de que não comprometemos o país e a estratégia nacional com os resultados das eleições regionais”.

Já Paulo Portas, que esteve ao lado do candidato Artur Lima na campanha do CDS-PP dos Açores, disse-se “absolutamente convencido” de que, com a exceção de “alguns efeitos específicos nalgumas ilhas em concreto”, o braço regional dos democratas-cristãos “foi prejudicado pelo contexto nacional”. Depois de assumir “a responsabilidade pelo prejuízo causado”, o líder dos parceiros do PSD na coligação governativa apelou aos militantes açorianos para que “não responsabilizem quem não tem nisso responsabilidade”.

“O CDS perdeu deputados, o CDS perdeu votos e recuou na expressão regional mais equilibrada nas novas ilhas dos Açores. Como sabem, ajudei na campanha eleitoral e, por isso mesmo, não quero deixar de dizer presente na noite de uma derrota eleitoral”, sublinhou Portas.

Questionado sobre a avaliação das eleições regionais numa perspetiva nacional, o presidente do CDS-PP foi sintético: “Quer as instâncias regionais, quer as instâncias nacionais do partido, terão que fazer uma leitura destes resultados”.
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