Raimundo avisa quem quer reescrever história do fascismo que verdade vem sempre ao de cima
O secretário-geral do PCP avisou hoje quem quer reescrever a história do fascismo que a verdade acaba sempre por vir ao de cima e pediu que todos façam frente "à operação reacionária e antidemocrática que está em curso".
Paulo Raimundo deixou estes avisos numa sessão alusiva aos 64 anos da morte do antigo dirigente comunista José Dias Coelho, assassinado em 19 de dezembro de 1961 por agentes da PIDE numa rua em Alcântara, Lisboa, no local onde, hoje, o secretário-geral do PCP depositou uma coroa de flores.
Num discurso nessa sessão, Paulo Raimundo afirmou que, faz hoje 64 anos, José Dias Coelho foi "cobardemente assassinado à queima-roupa pela PIDE" com apenas 38 anos de idade, e deixou avisos para o presente.
"Nestes momentos estranhos que vivemos, bem podem tentar reescrever a história, bem podem tentar ilibar os carrascos, bem podem utilizar todos os seus muitos e poderosos instrumentos e meios, podem tentar tudo, que a verdade, como sempre, virá sempre, sempre ao de cima", afirmou.
Recordando o percurso de vida de José Dias Coelho, Paulo Raimundo salientou que o antigo dirigente comunista aderiu ao PCP em 1955, com 32 anos, e, "homem da cultura e da arte", dedica-se na clandestinidade à falsificação de documentos, com a sua companheira e histórica comunista Margarida Tengarrinha, assim como à criação de gravuras para o Avante e "peças e desenhos intemporais".
"José Dias Coelho é um dos heróis, é um dos mártires do fascismo, é um exemplo para os comunistas, mas também um exemplo para todos os amantes da liberdade e da democracia, um exemplo para a juventude e para todos aqueles que são agentes da cultura e da arte", defendeu.
Paulo Raimundo frisou que, apesar de o regime fascista ter assassinado José Dias Coelho, não conseguiu impedir a revolução, que chegou em abril de 1974 e "abriu um caminho de esperança, de resposta aos anseios e direitos da maioria".
"Um caminho interrompido por um processo contrarrevolucionário desde 1976, em que sucessivos governos têm colocado e subjugado o país nas mãos dos grupos económicos e das multinacionais, colocado Portugal numa posição subalterna, como se fosse uma província da União Europeia (UE) e um apêndice da NATO ou dos Estados Unidos", disse.
Defendendo que Abril é "optar pelo trabalho e pelos trabalhadores", Paulo Raimundo considerou que "esse Abril exige hoje" que todos "façam frente à dimensão da operação reacionária e antidemocrática que está em curso" e "que procura não só dividir, como fomenta o ódio e responsabiliza todos por cada um dos problemas, menos os verdadeiros responsáveis pela situação".
"Está em desenvolvimento uma intensa ofensiva ideológica que dissemina conceções antidemocráticas, que abre espaço à agenda reacionária e que procura sempre, sempre desviar atenções", afirmou.
Numa crítica aos discursos contra imigrantes, Paulo Raimundo salientou que "a falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou a falta de professores na escola pública não é por culpa dos imigrantes".
"O custo de vida aumenta não é por causa dos dois milhões de pobres que temos no nosso país. As casas são inacessíveis não é de certeza absoluta pelos gordos salários que cada um de nós tem", ironizou, salientando que o "país está a saque, subordinado ao grande capital e aos interesses" dos grandes grupos económicos, "à custa dos trabalhadores".
"Este percurso tem responsáveis, tem beneficiários e tem vítimas. Os responsáveis são os partidos ao serviço dos interesses dos grupos económicos: PS, PSD e CDS e os seus sucedâneos do Chega e da IL. Os beneficiários são os grupos económicos e as multinacionais. Quem paga, como sempre, é sempre o povo e os trabalhadores", afirmou, considerando que a greve geral de dia 11 de dezembro, que qualificou como histórica, mostrou que, quem "tem força para pôr tudo a trabalhar", também tem "força para impor o caminho ao seu serviço".