Ramiro Morgado: um trabalhador em armas na defesa do Ralis

por António Louçã, Nuno Patrício
Civis com metralhadoras ao ombro em frente ao R.A.L. 1 DR

No dia do golpe spinolista, Ramiro Morgado era lapidador de diamantes na Dialap, onde hoje se encontra a sede da RTP. Foi dos primeiros a acorrerem ao Ralis, quando soube dos confrontos que estavam a ter lugar.

Detido como operacional da ARA (Acção Revolucionária Armada, criada pelo PCP), Ramiro Morgado viveu o 25 de Abril preso no forte de Caxias  e foi libertado nesse momento. Voltou à empresa e voltou ao partido, com responsabilidades na ligação aos militares.

Quando sobreveio o 11 de março, a organização de Ramiro Morgado tinha alguns planos defensivos para actuação na capital, assinalando a localização de quartéis, pontes, postos de electricidade, locais onde se poderia colocar barricadas.

No dia 11, por volta do meio dia, recorda que estava no trabalho, ouviu rajadas de metralhadora pesada e explosões, desceu as escadas a correr e, com um colega da sua confiança, meteu-se no carro e foi para o Ralis. Quando lá chegou, o quartel estava cercado pelos páraquedistas e foi, nesse preciso momento, sobrevoado por um avião que depois seguiu.

Numa vala da EDP, Ramiro Morgado e o outro companheiro encontraram um páraquedista. Embora lhe tenha explicado que era militar do Ralis e queria passar, Ramiro não deparou com quaisquer objecções do páraquedista e pôde seguir caminho, para entrar no quartel.
Ramiro Morgado pôde entrar no quartel, foi reconhecido à porta por um alferes "esquerdista", que lhe deu um abraço e disse que naquele momento se acabavam as divergências. Em cima de um blindado estava o capitão Curvelo, que lhe deu uma arma e o mandou para a sua companhia, onde ficaria até ele lá ir ter.

Como tinha mais confiança em Ramiro Morgado do que no alferes que lá estava, deixou-o como responsável da companhia enquanto ele próprio não regressasse.

No quartel, mostraram-lhe a camarata, a messe, o edifício do comando e o local onde estavam guardadas viaturas, com os estragos causados pelo bombardeamento. Disseram-lhe também que havia muitos feridos, que finalmente se apurou serem quinze. E mostraram-lhe também o local onde se encontrava o soldado que foi morto.

Antecedentes de um militante
Na Dialap, empresa onde trabalhava Ramiro Morgado, houve antes do 25 de Abril um processo reivindicativo e os trabalhadores admitiram organizar uma greve para imporem as reivindicações. Ramiro Morgado, como animador do processo, foi chamado à administração e aí foi ameaçado de despedimento, independentemente do que, à sua maneira, a PIDE também pudesse fazer.

Não cedeu à ameaça e no dia seguinte voltou a ser chamado para ouvir a resposta ao caderno reivindicativo dos trabalhadores. Deu-lha um administrador, falando sempre de costas voltadas para ele, mas satisfazendo o essencial das reivindicações pendentes. Assim, já não houve greve.

No 25 de abril de 1974, estava preso em Caxias A primeira notícia que os presos tiveram sobre a movimentação de tropas foi-lhes dada por um guarda prisional que era de Grândola e tinha alguma cumplicidade com os presos. Nesse dia, já não vieram buscar os presos que era suposto irem para o julgamento na Boa Hora. Depois, ainda se viu um graduado da GNR a recolher as sentinelas que se encontravam fora de portas.

Ramiro Morgado foi um dos que Spínola não queria deixar sair, por também fazer parte do braço armado daquele partido (a ARA, Acção Revolucionária Armada). Os presos opuseram-se a essa discriminação e fizeram saber às autoridades que saíam todos ou não saía nenhum. A Caxias chegou o coronel Dias de Lima, enviado de Spínola, para negociar com os presos e acabou por ver-se obrigado a aceitar a saída de todos.

De regresso à Dialap, foi-lhe oferecido o lugar que quisesse. Optou pelo lugar que tinha no momento em que foi preso, explicando que não fora promovido a mestre na mesma altura em que o foram todos os outros da sua idade e que não seria agora que iria sê-lo.





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