Rangel é candidato a líder do PSD pela "ruptura"
Paulo Rangel assumiu-se esta quarta-feira como candidato à liderança do PSD, propondo um programa de “ruptura” com “15 anos de políticas socialistas” e assente em “eixos” como a “disciplina financeira, dinamismo económico, rigor na educação, agilidade na justiça, equilíbrio social e inovação territorial”. O eurodeputado parte sem “exércitos alinhados”.
A 29 de Outubro, na Grande Entrevista da RTP, Rangel garantia "peremptoriamente" que estava à margem da "corrida" pela sucessão de Manuela Ferreira Leite, dizendo que o partido da São Caetano à Lapa estava "recheado de pessoas". Agora, "em face de circunstâncias excepcionalmente graves", o antigo líder parlamentar dos sociais-democratas apresenta às estruturas partidárias e ao país um "projecto de ruptura política essencialmente aberto", alargado "às bases e aos cidadãos preocupados". E diz-se movido por um "apelo moral", pelo "dever cívico" e mesmo "pela responsabilidade nacional".
"Candidato-me com total sentido de serviço, por estar intimamente convicto de que raras vezes foi tão necessária uma ruptura, uma ruptura com 15 anos de políticas socialistas, uma ruptura com este caminho de inércia e de apatia para o abismo de um país endividado e sem horizontes para as gerações presentes e futuras. Esta situação não pode continuar. É preciso fazer um corte, uma clarificação, uma ruptura. No actual estado de coisas, já não basta mudar. É preciso romper", vincou em conferência de imprensa o eurodeputado do PSD.
"Desgaste continuado" na justiça
Paulo Rangel, que esta semana levou ao plenário do Parlamento Europeu a "denúncia" do alegado plano do Governo de José Sócrates para controlar a comunicação social e "cercear" a liberdade de expressão, volta à carga com a ideia de que "até o poder judicial vive tempos de desgaste continuado, suscitando cada vez menos confiança no povo e na opinião pública".
"A ruptura tem de chegar à justiça, onde é indispensável aumentar os poderes decisórios e definitivos dos magistrados, aumentando-lhes também as vias de avaliação e de responsabilidade externa", advogou Rangel, acrescentado que "a ruptura há-de passar por um novo equilíbrio social e até territorial em que se dê prioridade àqueles que precisam da ajuda do Estado, mas só na medida em que precisam e só enquanto precisarem, sendo implacável com a fraude e o desperdício".
O "primeiro objectivo de um governo de ruptura que queira salvar o bem-estar das gerações presentes e a sobrevivência condigna em Portugal das gerações futuras", reforçou o eurodeputado, "só pode ser um e esse mesmo: criar condições para libertar o futuro dos encargos até aqui contraídos".
"Romper" com o endividamento
Recuperando uma das bandeiras do PSD de Manuela Ferreira Leite na campanha para as últimas eleições legislativas, Paulo Rangel lançou um ataque à política de investimentos públicos projectada pelo Governo socialista.
"Temos, antes de mais, de romper com uma política financeira e económica apostada no simples endividamento e em obras faraónicas que não percebeu as consequências da integração na moeda única, reduzir o défice do Estado e o endividamento externo, apostar na inovação e no desenvolvimento, num país que dinamiza o risco e aproveita a energia dos seus empreendedores e dos seus exportadores", sustentou.
Em seguida, abordou o sector da Educação, propugnando uma "revolução" que, "em vez de estar centrada no combate corporativo aos professores, rejeite por todos os meios o facilitismo e a estatística, promovendo os grandes valores da escola, a transmissão do conhecimento, a exigência, a autoridade dos professores e a autonomia de gestão".
Candidatura sem "exércitos alinhados"
Para consumo interno, Rangel evocou "a história do PSD", que, afirmou, se fez "do chamamento das gerações que em cada momento são capazes de provocar e de levar por diante as rupturas necessárias". O PSD, insistiu, "é o partido da ruptura em Portugal".
"Foi o PSD que pilotou a ruptura com a tutela militar e assegurou a passagem definitiva para uma democracia de tipo ocidental. Foi o PSD que nos libertou da colectivização da economia, integrando-nos na normalidade das economias sociais de mercado da Europa", assinalou o eurodeputado.
"A governação do PS tem comprometido de tal maneira o futuro do país que a terceira ruptura que só o PSD pode liderar já não é normalizar a democracia civil, já não é libertar o país do colectivismo do Estado. É pura e simplesmente a de libertar o futuro, libertar o futuro dos compromissos e dos condicionamentos que o PS lhe tem criado e continua a criar", frisou Paulo Rangel, para quem "o futuro das gerações seguintes está totalmente sequestrado, cativo e aprisionado", face ao "endividamento existente, com os investimentos megalómanos assumidos".
Prometendo abrir o debate interno do PSD às "bases, estruturas distritais, concelhias e personalidades históricas", sem se deter no "aparelho" e nas "pretensas elites", Rangel sublinhou que "não se trata de uma candidatura preparada": "Não dispõe de exércitos alinhados, não foi inspirada em almoços ou reuniões com estruturas partidárias ou com personalidades gradas do partido. Não houve, aliás, qualquer convite a militantes, personalidades ou amigos para estarem presentes nesta sala, nesta noite".
"É uma candidatura desprendida, aberta a todos, porque solitária, que se começa a organizar e a lançar a partir deste momento", vincou.
Rangel é "continuidade com actual direcção"
A candidatura de Passos Coelho "saúda" o anúncio de Paulo Rangel, mas descreve desde já o eurodeputado como um candidato de "continuidade com
a actual direcção" de Manuela Ferreira Leite.
"É importante que se possa fazer o confronto de projectos, entre um projecto que é de continuidade da actual direcção do PSD e um projecto de mudança", reagiu Miguel Relvas, em nome de Pedro Passos Coelho. No entender do antigo secretário-geral dos sociais-democratas, "é esse debate que está em jogo".
"Fica visível que há um candidato que é o candidato da actual direcção, da doutora Ferreira Leite", insistiu Miguel Relvas, para logo contrapor que "é importante o facto de o PSD ter clarificado este impasse, que era a marcação das suas eleições internas e que vai permitir clarificar o que é o maior partido da Oposição".
"Por outro lado, não há fome que não dê em fartura. Vamos ter mais dois candidatos", disse.
Candidatura de Aguiar-Branco em perspectiva
De acordo com uma fonte próxima do actual líder parlamentar do PSD, citada pela agência Lusa, José Pedro Aguiar-Branco anuncia na próxima sexta-feira aos deputados do partido a sua intenção de lançar uma candidatura
à sucessão de Ferreira Leite.
O anúncio deverá acontecer durante a reunião do grupo parlamentar do PSD, prevista para as 10h00 de sexta-feira.
"Até sexta-feira não falo sobre a vida interna do PSD em relação a ninguém. Não falo sobre a vida interna do PSD até ao momento em que ficou combinado que assim fosse, que era até à votação do Orçamento do Estado", declarou José Pedro Aguiar-Branco, à margem do debate da proposta de Orçamento para 2010.
Por seu turno, a presidente do PSD escusou-se a comentar quaisquer candidaturas à sua sucessão, limitando-se a dizer que todos os militantes sociais-democratas podem ser candidatos.