Política
Ricardo Robles renuncia ao cargo de vereador em Lisboa
O edil informou no domingo a liderança do Bloco de Esquerda da intenção de renunciar aos cargos de vereador na Câmara Municipal e de membro da comissão coordenadora concelhia do partido. A demissão surge após três dias de polémica devido às sua atividades imobiliárias. O caso, admitiu Ricardo Robles, tornou-se um "problema político real e criou um enorme constrangimento" à "intervenção como vereador".
A decisão é conhecida esta segunda-feira, após 72 horas de fogo cerrado sobre as atividades imobiliárias de Ricardo Robles. O vereador chegou à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de 2017 e teve como bandeira a luta contra a especulação imobiliária na capital.
No entanto, Ricardo Robles foi alvo de críticas generalizadas após uma notícia avançada pelo Jornal Económico na última sexta-feira, que dava conta de um negócio em que o vereador, agora demissionário, adquiriu com a irmã um prédio em Alfama avaliado em 347 mil euros. Esse mesmo prédio foi reabilitado e colocado à venda em 2017 pelo valor de 5,7 milhões de euros.
"Informei ontem, domingo, a coordenadora da Comissão Política do Bloco de Esquerda da minha intenção de renunciar aos cargos de vereador na Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa", refere a declaração de renúncia, endereçada à imprensa esta segunda-feira e posteriormente colocada nas redes sociais.
"Uma opção privada, forçada por constrangimentos familiares que expliquei e no respeito pelas regras legais, revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador", explica ainda o vereador.
Robles acrescenta que a decisão de renúncia foi "pessoal" e que surge com o objetivo de "criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade".
Antes da demissão e em reação à notícia, o Bloco de Esquerda defendia que a conduta de Ricardo Robles em nada diminuía "a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto".
Em conferência de imprensa também na sexta-feira, o vereador - agora demisionário - explicava que a avaliação do imóvel tinha sido realizada por uma agência e afirmava que a compra não fora "uma operação especulativa".
No sábado de manhã, a coordenadora do Bloco de Esquerda considerava que Ricardo Robles nada fizera "de errado". Catarina Martins classificou ainda as notícias de alegada especulação imobiliária de "mentiras"."Falta de ética"
Da oposição chegaram várias críticas, desde logo na concelhia de Lisboa do PSD, que pediu logo na sexta-feira a demissão do vereador bloquista, acusando-o de "falta de ética, seriedade e credibilidade política".
Luís Fazenda, um dos fundadores do Bloco de Esquerda, admitia esta segunda-feira, em declarações ao jornal i, que atividades imobiliárias como as que foram realizadas por Ricardo Robles são criticadas e condenadas no programa do partido.
Esta notícia surge no dia em que vai decorrer uma reunião da Comissão
Coordenadora do Bloco de Esquerda em Lisboa, que deverá decidir quem vai substituir Robles nos cargos que ocupava. Em resposta à agência
Lusa, o partido remeteu mais esclarecimentos sobre a demissão para
depois deste encontro.
Nas eleições autárquicas de 2017, o Bloco de Esquerda conseguiu eleger apenas um vereador na capital, mas que acabou por ser decisivo para Fernando Medina, atual presidente da Câmara, uma vez que o Partido Socialista não assegurou a maioria absoluta, com oito vereadores eleitos.
Na sequência de um acordo político entre as duas forças partidárias que permitiu ao PS governar na capital, Ricardo Robles assegurou o pelouro da Educação, Direitos Sociais e Cidadania.