Rui Pedro Soares deixa cargo de administrador da PT

Rui Pedro Soares, o administrador da Portugal Telecom interceptado nas escutas efectuadas durante a investigação do processo Face Oculta, renunciou ao cargo que desempenhava na PT. Na carta de renúncia a que a Agência Lusa teve acesso, o agora ex-gestor garante nunca ter tido qualquer "comportamento indevido" nem praticado actos "lesivos dos interesses" da operadora.

RTP /
A investigação do Sol acaba de fazer a primeira vítima: Rui Pedro Soares não resistiu às pressões e apresentou a demissão Mário Cruz, Lusa

O anúncio da saída de Rui Pedro Soares foi feito pela empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) duas semanas depois de ter sido, juntamente com outro administrador da PT, Soares Carneiro, referenciado no alegado plano do Governo para controlar a comunicação social.

"No âmbito da alínea a) do artigo 3. do Regulamento da CMVM n. 5/2008 e do artigo 248. do Código dos Valores Mobiliários, a Portugal Telecom anuncia que Rui Pedro Soares renunciou ao cargo de membro executivo do Conselho de Administração da PT", escreveu a PT no comunicado.

Horas antes da demissão, lembrando que a Portugal Telecom tem órgãos próprios para lidar com o assunto, o ministro que tutela a PT defendeu que a polémica em volta dos dois administradores da empresa deveria ser resolvida internamente.

O ministro das Obras Públicas, transportes e Comunicação respondia no Parlamento ao deputado do PSD Jorge Costa, depois de este ter apontado que, durante a sua intervenção numa audição sobre o Orçamento do Estado para 2010, António Mendonça não tinha pronunciado "uma única palavra" sobre o caso.

"A Portugal Telecom reúne todas as condições para, através dos seus órgãos de governo próprio, dar resposta às questões que o senhor deputado colocou", declarou António Mendonça, acrescentando que "o Estado não nomeia representantes na administração da PT" e não dá instruções à empresa.

Ex-administrador nega comportamento indevido

Na carta enviada ao Conselho de Administração da PT, o administrador demissionário manifesta a convicção de que nunca teve qualquer "comportamento indevido" e que não praticou actos "lesivos dos interesses" da empresa.

Sustentando ter sido alvo de "calúnias" públicas, Rui Pedro Soares explica que a decidiu renunciar ao cargo apenas "para não estar limitado no exercício" dos seus direitos de defesa e também para que a sua "presença nos órgãos sociais da PT não possa servir para que o bom nome e reputação da empresa sejam lesados por terceiros mal intencionados".

"Nenhum comportamento indevido me pode ser imputado e posso afirmar, em são consciência, não ter praticado ou procurado alguma vez praticar qualquer acto lesivo dos interesses da PT SGPS, mas não posso permitir de forma alguma que as infundadas calúnias de que venho sendo alvo afectem negativamente a imagem ou a reputação do grupo PT", sublinha a missiva de renúncia do administrador de 36 anos que pertencia aos quadros da operadora desde 2006, actualmente com a tutela da PT Associação de Cuidados de Saúde, da administração imobiliária e da segurança.

Busca terá precipitado saída de Rui Pedro Soares

Entretanto, uma notícia avançada pelo online do jornal Público relaciona a renúncia de Rui Pedro Soares com uma busca nas instalações do Tagus Park (Oeiras) levada a cabo esta segunda-feira por magistrados do DIAP de Lisboa e investigadores da PJ de Aveiro visando o gabinete do agora ex-gestor da PT.

Durante as buscas, já confirmadas pela própria PT, foram ainda apreendidos documentos no escritório de Paulo Penedos, arguido no processo Face Oculta e assessor de Rui Pedro Soares na PT.

A diligência do DIAP e da PJ visa esclarecer as motivações e contrapartidas alegadamente concedidas pela Tagus Park a Luís Figo. Este sábado, o Correio da Manhã noticiava que foi Rui Pedro Soares quem assegurou a participação do antigo jogador na campanha do PS para as últimas eleições legislativas.

O jornal baseava-se nas escutas do processo para garantir que Figo terá recebido 750 mil euros para participar num pequeno-almoço com José Sócrates, facto que foi negado por Rui Pedro Soares e Luís Figo.

O semanário Sol tem vindo a transcrever extractos do despacho do juiz de Aveiro responsável pelo caso Face Oculta em que este considera haver "indícios muito fortes da existência de um plano" em que estará envolvido o primeiro-ministro José Sócrates para controlar a estação de televisão TVI e afastar a jornalista Manuela Moura Guedes e o director-geral José Eduardo Moniz.

O despacho contém transcrições de escutas telefónicas envolvendo Armando Vara, então administrador do BCP, Paulo Penedos, assessor da PT, e Rui Pedro Soares e Fernando Soares Carneiro, administradores da PT.

Bava e Granadeiro registam profissionalismo de Rui Pedro Soares

A comissão de auditoria da PT deverá agora investigar o comportamento dos responsáveis da empresa em todas estas polémicas. Rui Pedro Soares fez sentir na carta de renúncia que está "à disposição da empresa para esclarecer tudo o que esta entender necessário no contexto das diligências que venham a ser desencadeadas em cumprimento das suas normas internas".

Para já, o ex-administrador deverá ser ouvido a 25 deste mês na comissão parlamentar ao caso das escutas.

Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, presidente e presidente executivo da PT, reagiram com uma declaração conjunta na qual reconhecem "o empenho e profissionalismo com que o administrador exerceu todas as funções que lhe foram atribuídas no seio do grupo PT".

Os dois homens fortes da PT referiram ainda a demissão voluntária para registar "a dignidade da atitude do administrador Rui Pedro Soares, que considerou ser esta a conduta que melhor corresponde ao dever fiduciário de proteger a imagem e a reputação do grupo PT".

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