Santana Lopes vê desagregação da "frente de esquerda" e descarta acordos com o PS

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Tiago Petinga, Lusa

Numa entrevista à RTP em que assumiu já o papel de opositor ao Executivo de António Costa, o candidato à liderança social-democrata Santana Lopes defendeu que o estado de graça do Governo de esquerda acabou. Neste cenário, rejeitou qualquer possibilidade de acordo com os socialistas, preferindo apresentar um projecto próprio, assente em três pilares: crescimento económico, coesão territorial e políticas sociais. Um projecto embrulhado na inovação que diz fundamental para o país e com o qual pretende “reinventar o Estado”.

A um mês das eleições para o PSD, Santana Lopes garante haver “diferenças assinaláveis” entre a sua candidatura e a de Rui Rio, seu opositor na luta pela liderança social-democrata.

“Sou candidato com Rui Rio, não disse que nada nos separa, mas somos do mesmo partido”, contudo, “há ambiguidade na outra campanha, ambiguidade que eu não cultivo”.

Nesse sentido, face a afirmações da candidatura de Rio relativamente ao voto noutro partido que não o PSD em determinadas circunstâncias, Santana afirmou ser “difícil perceber a razão da convergência no apoio a este Governo”.
“Estado de graça acabou”
Na relação com o primeiro-ministro António Costa, com quem convergiu temporalmente enquanto provedor da Santa Casa da Misericórdia, Santana Lopes defende que pode e deve, ainda assim, recusar estar amarrado a essa circunstância e manter a independência das suas ideias.

Sublinhando que o estado de graça da coligação de esquerda chegou ao fim, Santana esclareceu que “não há hipóteses de acordos com o Partido Socialista. Só voltaremos ao poder depois de ganhar eleições legislativas”.No que respeita a uma parceria com o CDS-PP, Santana defende que "o PPD-PSD deve ir sozinho a eleições".

“Quero constituir uma alternativa que junte os socialistas descontentes, os democratas-cristãos, que se juntem a nós sociais-democratas numa alternativa coerente”, anunciou o antigo primeiro-ministro.

Nesse sentido, afirmou ter um plano já para este ano, uma vez que duvida “que esta legislatura [PS] vá até ao final”, consistindo “o trabalho [em] apresentar ao povo português essa nova linha alternativa, um caminho que aponte ao aumento da produtividade”.

Santana Lopes diz querer pôr Portugal “pelo menos ao nível da média europeia no rendimento per capita, da produtividade e também de alguns indicadores da agricultura. Porque eu não me considero menos do que os espanhóis, menos do que os irlandeses, menos do que os cidadãos da Europa Central”.
Consolidação pelo lado da produtividade
No seu plano económico, Santana Lopes defende, assim, que “a consolidação orçamental não deve ser feita apenas do lado da despesa, mas também pelo crescimento económico”.

“Nisso não se aposta o suficiente no país e é para isso que eu venho, para apostar nas empresas, na inovação, na investigação”, declarou Santana, anunciando o caminho para “um país diferente, um ciclo diferente”."É muito difícil ter disponibilidade para acordos [com o PS] quando falta pouco para o fim da legislatura"

“Eu quero reinventar o Estado”, propugnaria Santana Lopes.

Um dos caminhos para o crescimento da produtividade será, segundo o candidato, a alteração da fiscalidade, com “o Estado a aliviar a pressão sobre os cidadãos” e as empresas, por exemplo, mediante a redução do IRC.

O candidato revelou ser um defensor da aplicação de políticas fiscais ousadas às grandes empresas, seguindo o exemplo de outros países: “Não as instigar a irem sediar-se fora de Portugal. Porque os nossos parceiros europeus têm políticas fiscais ousadas. A Holanda chama-as, a Áustria, a Irlanda, já para não falar de Malta e do Chipre. E do Luxemburgo, que entrou no dumping”.
Do centro-esquerda ao centro-direita

Sem grandes ataques ao seu opositor no PSD, Rui Rio, Santana preferiu atacar o Orçamento de 2018, que diz não ter grandes incentivos ao investimento, o que vê como fruto da influência de uma agenda ideológica. “O meu partido não tem nada a ver com a frente de esquerda nem serve de alternativa aos romances do Partido Socialista”, sublinhou.

Em termos de enquadramento político, Rui Rio tem afastado o PSD de um posicionamento à direita, o que levou Santana Lopes a esclarecer que segundo a sua visão “o PPD-PSD vai do centro-direita ao centro-esquerda e nunca teve complexos”.

Explicando essa ideia, numa referência a Rio, acrescentou que “aqueles que se preocupam com o CDS-PP e dizem que são centro-esquerda querem deixar um campo muito largo ao CDS-PP. Eu não quero”.

Questionado ainda sobre o processo Montepio, Santana explicou que apenas colocou uma condição para a entrada da Santa Casa: a realização de uma avaliação rigorosa desse dossier.

Nestas condicões, resguardou a sua posição, uma vez que quando deixou o cargo de provedor "não tinha ainda chegado essa avaliação".

O PSD vai escolher o próximo presidente a 13 de janeiro, em eleições diretas, com Congresso marcado para Lisboa entre 16 e 18 de fevereiro.

Para já, são candidatos à liderança social-democrata o antigo presidente da Câmara do Porto Rui Rio e o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.
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